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No FMI, Lagarde alerta para riscos do protecionismo e incertezas que afetam economia global

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou nesta sexta-feira, 25, que a “ordem econômica global mudou” há alguns meses, com o aumento do protecionismo e das tensões comerciais criando “fortes obstáculos para a economia global”. Segundo ela, “a incerteza em relação à política comercial aumentou de forma inédita e está afetando negativamente os investimentos”.

Em meio a um cenário de crescimento moderado, Lagarde destacou, em discurso durante as Reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), que “os riscos negativos se intensificaram”, citando que “o protecionismo e a fragmentação comercial podem prejudicar o funcionamento das cadeias globais de valor”. A inflação global deve cair “gradualmente”, mas as tensões geopolíticas e tarifárias trazem incertezas. “Tarifas podem provocar oscilações nas taxas de câmbio, impactar os preços de importação e desorganizar cadeias de suprimento”, alertou.

A presidente do BCE reforçou que as tensões geopolíticas e comerciais continuam sendo riscos significativos. “A intensificação das tensões comerciais e as incertezas associadas devem reduzir o crescimento da área do euro”, ponderou, alertando para possíveis impactos nas exportações, investimentos e consumo.

Lagarde ressaltou ainda, sobre política monetária, que “não estamos comprometidos com um caminho específico para as taxas de juros”, mantendo uma postura dependente de dados.

A atividade econômica na região segue “moderada”, para ela. Contudo, “espera-se que os consumidores se tornem mais cautelosos, reduzindo os gastos”, disse Lagarde, citando também os impactos das barreiras comerciais sobre os exportadores europeus. Ainda assim, o mercado de trabalho permanece “resiliente”.

Diante dos desafios, Lagarde defendeu políticas fiscais e estruturais para impulsionar a competitividade. “Governos devem priorizar investimentos estratégicos que estimulem o crescimento”, afirmou, destacando a necessidade de avançar em áreas como transição verde e integração econômica.

Inflação na zona do euro

A presidente do Banco Central Europeu declarou nesta sexta-feira que “o processo de desinflação segue bem encaminhado” na zona do euro, com a inflação evoluindo conforme as projeções. “Olhando à frente, espera-se que a inflação fique em torno da meta de 2%”, afirmou.

No entanto, ela destacou que fatores externos podem influenciar essa trajetória. “A queda dos preços globais de energia e um euro mais forte podem conter a inflação, especialmente se a demanda externa cair devido a tarifas mais altas”, explicou. Ao mesmo tempo, alertou que “gastos maiores com defesa podem pressionar a inflação no médio prazo”.

Apesar do cenário positivo, Lagarde chamou atenção para incertezas que podem afetar a inflação. Disrupções no comércio global, como tarifas mais altas e o redirecionamento de exportações de países com excesso de capacidade, podem ter efeitos mistos. Enquanto uma queda na demanda externa poderia reduzir a pressão inflacionária, a fragmentação das cadeias de suprimento poderia elevar os preços de importação.

Além disso, eventos climáticos extremos e o aumento dos investimentos em defesa e infraestrutura podem exercer pressão ascendente sobre os preços. “Reações adversas dos mercados financeiros às tensões comerciais podem reduzir a demanda interna, também pressionando a inflação para baixo”, ponderou.

Lagarde destacou que a moderação nos custos trabalhistas tem contribuído para a desinflação. “Negociações recentes indicam que essa moderação nos custos trabalhistas deve continuar”, afirmou, sinalizando que a pressão salarial está diminuindo.

Em um contexto de incerteza geopolítica, Lagarde defendeu o fortalecimento da cooperação multilateral. “Instituições multilaterais e fóruns de diálogo são fundamentais para promover a estabilidade macroeconômica e financeira”, disse, destacando o papel do FMI como pilar da rede de segurança financeira global.

Setor financeiro resiliente

A presidente do Banco Central Europeu afirmou também nesta sexta-feira que, apesar da volatilidade global, “o setor financeiro da zona do euro manteve-se resiliente”. Segundo ela, os bancos europeus enfrentam as incertezas atuais com “posições robustas de capital e liquidez”, graças a anos de reformas regulatórias e supervisão rigorosa. No entanto, economias mais dependentes de exportações podem sentir maior impacto dos desafios macrofinanceiros, afirmou.

Nas Reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional, Lagarde destacou que, embora o segmento de intermediação financeira não bancária (NBFI) não apresente estresse agudo, “vulnerabilidades de liquidez seguem elevadas”. Ela alertou que, combinadas com alavancagem excessiva em alguns setores, essas fragilidades podem ampliar choques em momentos de crise. Para reforçar a estabilidade, defendeu a adoção de um arcabouço macroprudencial mais robusto para instituições não bancárias.

Sobre os criptoativos, a presidente do BCE afirmou que, atualmente, “os riscos à estabilidade financeira da zona do euro ainda são limitados”, mas advertiu que, “se as tendências atuais de crescimento e interconexão com o sistema financeiro persistirem, os criptoativos poderão vir a representar riscos”. Ela destacou a importância da regulamentação global, mas reforçou a necessidade de vigilância contínua.

Lagarde também enfatizou a importância do euro digital. “Com uma opção de pagamento digital segura e amplamente aceita, o euro digital reduziria a dependência de prestadores estrangeiros”, afirmou. Ela destacou que a iniciativa reforçaria a autonomia da UE no cenário de pagamentos digitais e garantiria a coexistência entre moeda pública e privada no ambiente digital.

No campo dos pagamentos, o Eurosistema avança na integração com iniciativas como o TIPS, que já permite transações instantâneas em múltiplas moedas. Lagarde mencionou ainda projetos para expandir sistemas de pagamento rápidos e seguros entre diferentes países.

Estadão Conteudo

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