Foto: Ahmad Jarrah/Arquivo CMT
O ex-governador, Silval Barbosa (PMDB), disse desconhecer algum governador que tenha se elegido sem acumular grandes dívidas e inúmeros compromissos com empresários para assumirem o Palácio Paiaguás.
A afirmação foi dada durante depoimento prestado aos delegados Marcio Moreno Vera e Alexandra Fachone, da Delegacia Fazendária, no dia 1º de junho deste ano, e que integra a decisão da juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, que decretou a prisão domiciliar do peemedebista, após um ano e nove meses preso no Centro de Custódia da Capital (CCC).
De acordo com Silval, em 2010, quando disputou a reeleição, ele acumulou muitas dívidas com empresários que lhe ajudaram durante a campanha. Para quitar tais pendencias e atender aos interesses desses apoiadores, segundo o depoimento, o ex-governador montou uma equipe de secretários já orientados a facilitar determinadas demandas.
“Em razão de ter que angariar propinas em razão das dívidas e compromissos políticos assumidos na campanha de 2010, acabou escolhendo seu staff com pessoas que eram de sua confiança, pois precisava de muitos dos secretários das pastas e alguns casos dos adjuntos para levantar recursos para os pagamentos das dívidas, pois ninguém é governador do Estado sem assumir inúmeras dívidas e inúmeros compromissos políticos que custam muito caro”, diz em seu depoimento.
“Sabendo que isso não é só no governo do interrogado, acontece com todos os governadores, pois nenhum empresário doa para campanha sem querer visar obter algum retorno em contrapartida”, diz outro trecho do depoimento.
A confissão
Após disponibilizar R$ 46,6 milhões em bens, o político foi colocado em prisão domiciliar, com uso de tornozeleira.
Além da mudança da sua linha de defesa – começando a confirmar sua participação em alguns esquemas – ao revogar a prisão preventiva, a juíza Selma Arruda levou em consideração a alegação de que Silval e sua família estavam sendo pressionados e ameaçados, desde que rumores de uma eventual delação começaram a ser ventilados nos bastidores jurídicos e políticos.
Em um de seus depoimentos ao MPE, de acordo com Selma, Silval afirmou que o grupo criminoso recebeu o pagamento de propina do empresário João Rosa, do Grupo Tractor Parts, para o enquadramento da empresa no Prodeic (Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso).
O esquema é investigado na 1ª fase da Operação Sodoma, deflagrada em setembro de 2015. Silval é acusado de liderar a organização que recebeu R$ 2,5 milhões. Os incentivos foram propositalmente concedidos de forma irregular para forçar o empresário a continuar pagando propina sob ameaça de revogar os benefícios.
Ainda em seus depoimentos, Silval disse que autorizou o ex-secretário de Estado de Administração, César Zílio, a cobrar propina do empresário Willians Mischur e Julio Tisuji, da Consignum e Webtech. Eles pagaram propina para continuarem com seus contratos de prestação de serviço ao Governo do Estado.
O esquema é investigado na 2ª e 3ª fases da Sodoma. Parte do dinheiro arrecada como propina foi utilizado por Zílio, para a aquisição de um terreno de R$ 13 milhões na Avenida Beira Rio, em Cuiabá.
Silval também confirmou o esquema existente na desapropriação de uma área do Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, no valor de R$ 31,7 milhões, que pertenceria à empresa Santorini Empreendimentos Imobiliários. De acordo com a denúncia do MPE, a organização comandada pelo ex-governador teria desviado metade deste valor.
Em depoimento à Defaz, no dia 1º de junho deste ano, o ex-governador afirmou que o esquema teve o objetivo de quitar dívida de campanha no valor de R$ 10 milhões com o empresário Valdir Piran – que chegou a ser preso na operação, mas foi posteriormente solto mediante fiança de R$ 12 milhões.
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