Mais: apresentou o novo uniforme da seleção, pendurou uma medalha da Copa São Paulo no peito de José Maria Marin, celebrou o prêmio de melhor jogador das Américas, foi "vendido" pela imprensa europeia ao Bayeran de Munique e ao Barcelona.
O maior astro do futebol brasileiro completa hoje 21 anos. E amanhã faz o primeiro jogo na seleção sob as ordens de Luiz Felipe Scolari.
"Ele é um paizão, um cara de grupo", disse Neymar sobre o novo chefe, ao chegar em Londres. "Conversamos no avião, trabalhar com ele será uma honra."
O Brasil enfrenta a Inglaterra às 17h30 (de Brasília), num palco notoriamente hostil ao craque do Santos.
Foi em Wembley que Neymar e a seleção perderam a decisão da Olimpíada para o México, em agosto passado.
Em nenhum outro lugar o craque foi tão hostilizado quanto na Grã-Bretanha durante os Jogos Olímpicos –é acusado de "diver" (mergulhador), crime inafiançável no futebol da ilha.
Arnaldo Cézar Coelho, comentarista da Globo, árbitro da final da Copa do Mundo de 1982, vê algum exagero no comportamento de Neymar.
"Tudo dele é no limite, tanto dentro quanto fora de campo. Isso de passar o pé por cima da bola, bater boca com rival, ele está no limite, não pode passar disso", diz Arnaldo. "Por outro lado, ele é maduro, está sendo bem orientado, sabe até onde pode ir."
Neymar é acusado pelos técnicos rivais de simular faltas e de ser protegido pelas arbitragens brasileiras.
"Os dois lados estão certos e errados nessa história", pondera Arnaldo. "Porque ele faz uma cena, mas cometem faltas demais nele."
A irritação do atacante tem razão de existir. O camisa 11 apanha como ninguém no futebol brasileiro.
No Brasileiro do ano passado, sofreu em média 6,6 faltas por partida –nenhum outro jogador chegou perto de cinco por jogo.
No clássico do último domingo, contra o São Paulo, foram nove infrações sofridas. Contra o Bragantino, 12 faltas.
Por isso é tão arduamente defendido por quem o dirige. Era assim com Mano Menezes na seleção, é assim com Muricy Ramalho no Santos.
"Neymar dribla muito, é um pouco franzino e sofre muitas faltas. Sofre, não simula", já disse Felipão, o novo chefe no time nacional.
MONSTRO MADURO
Em setembro de 2010, depois que Neymar discutiu com o então técnico do Santos Dorival Júnior, o também treinador René Simões declarou: "Está na hora de alguém educar esse rapaz, ou vamos criar um monstro."
No ano passado, René disse que já o via mais amadurecido. Na semana passada, o hoje diretor executivo do Vasco não quis falar sobre o assunto. Procurado pela Folha, apenas disse: "Neymar faz 21 anos? Parabéns para ele. Não falo nada além disso."
Os encontros seguintes com Dorival, hoje no Flamengo, terminaram em abraços. "A maioria dos julgamentos sobre Neymar, se é mimado ou perseguido, nada acrescentam à sua evolução como jogador", diz Gisela Sartori Franco, autora de dois livros sobre psicologia do esporte.
"Ele está nessa faz tempo, acompanhou o percurso de vários colegas de trabalho, certamente está sendo assessorado para não cometer deslizes em seu caminho."
O psicólogo Eduardo Ferreira dos Santos, doutor em Ciências Médicas pela USP, afirma que Neymar, por ser extremamente badalado e estar a toda hora sob os holofotes, o jogador pode sentir a pressão "que qualquer pessoa sentiria, seja um jogador de futebol ou o CEO de uma empresa".
"A posição de destaque que ele ocupa exige uma postura tão madura quando eficiente, o que não deve ser nada fácil", argumenta. "Devemos lembrar que ele é apenas gente. Talentoso, mas gente como a gente."
BEM CERCADO
No time de Felipão, Neymar está rodeado por jogadores mais experientes, gente que veio para dividir com ele as responsabilidades na seleção.
O camisa 10 agora será Ronaldinho, 32. Debaixo das traves estará Júlio César, 33.
No ataque, terá como companheiro Fred, 29, ou Luis Fabiano, 32. Gente com muita bagagem, títulos, Copas do Mundo no currículo.
Mas é Neymar o grande nome da seleção. É por ele que torcedores gritam quando o time viaja.
Aos 21, idade de Neymar hoje, Ronaldo já estava na Europa, Ronaldinho também.
Romário, que aos 22 trocou o Vasco pelo PSV, não vê motivo para essa movimento acontecer. E sobe sua aposta em Neymar para o Mundial de 2014.
"Acho que ele está preparado para a Copa", diz o hoje deputado. "Neymar joga no campeonato mais difícil do mundo, que é o Brasileiro. E Daqui até a Copa vai amadurecer ainda mais."
Fonte: FOLHA.COM