A frase é do poeta português Fernando Pessoa (1888-1835), escrita na cama de um hospital, considerada seu último escrito. Fernando Pessoa, que foi Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares (este sim o próprio poeta). O grande criador de personagens com vidas próprias e estilos literários diferentes: Álvaro, um engenheiro, é considerado o mestre do simbolismo e futurismo; Ricardo, um médico, defensor da monarquia e ávido pela cultura latina; Alberto, com pouca educação escolar, é tido como um mestre.
Mas, voltemos à frase de Fernando Pessoa: Não sei o que o amanhã trará. Final de ano leva grande parte das pessoas à reflexão. Além de fazemos uma retrospectiva de nossas vidas dentro do ano que está indo embora, projetamos nossos sonhos ao ano vindouro. Sonhos são lançados e se nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, chega a hora de passarmos a limpo o que esperamos do ano que está pertinho de chegar. E mesmo não sabendo o que ele trará, projeções são possíveis.
No calendário indígena Nambiquara, flores amarelas desabrocham no cerrado, a indicar a chegada de um novo ciclo. O ciclo da colheita e do novo plantio que será regado pelas chuvas. Será o ano novo Nambiquara? Sabe-se lá… Nesta época, identificada pela civilização ocidental como Primavera, a renovação é anunciada pela natureza e neste cenário renovado, nascido das cinzas, os índios renovam suas esperanças, seus sonhos. Como escreveu Lévi-Strauss, é possível perceber nessa época uma euforia no ânimo Nambiquara. O que se sabe é que as sociedades têm em seus ciclos ou impingidos pela mão da natureza ou pela mão humana.
Não sei o que o amanhã trará, profetizou Fernando Pessoa. O melhor seria seguir a filosofia dos índios e viver um dia de cada vez. E, em cada dia, cultivar a felicidade, a solidariedade, a alegria. Flores amarelas ou árvores de Natal, pouco importam os signos. Sem dúvida o que vale é intensidade da boa intensão: um bom começo de ano.