“Nesses dias de festas e confraternizações, os jovens precisam ajudar os seus velhos (pais, avós, tios) para que estejam vivos até o dia da sonhada vacinação contra a Covid.
Esta frase de alerta, estava no fim deste artigo. Resolvi colocá-la no começo, temendo que os leitores, por falta de talento do colunista, não chegassem ao final dele.
Sou favorável à vacinação obrigatória contra a Covid-19, embora seja um liberal por convicção. Não são necessários grandes argumentos retóricos para defender tal posição. O primeiro, por si só, quase suficiente, ampara-se no exemplo de duas dezenas de vacinas que são obrigatórias no Brasil: poliomielite, BCG, tríplice viral, sarampo etc. Se tantas são compulsórias, não deveria haver nenhum estranhamento de mais uma seguir o mesmo caminho.
Mas, há outro motivo. A vida em sociedade exige que se priorize o bem comunitário em desfavor das convicções pessoais. Assim, o argumento usado por alguns, de que quem rejeitar a vacina, não está prejudicando o próximo, não prospera, porque nenhuma vacina tem 100% de eficácia, isto é, muitos dos que se vacinaram, mas não alcançaram a imunidade, podem se contaminar por culpa dos omissos.
Entretanto, acho que este problema da obrigatoriedade não precisa ser enfrentado agora. Como inicialmente são pequenas as ofertas de vacinas e muitas pessoas querem se vacinar, vai sobrar candidato e faltar doses.
Com o tempo e o avanço das campanhas, pode ser que a população passe a confiar nos fármacos e aprovem voluntariamente o processo. Se isso não acontecer, diversos expedientes legais podem “obrigar” os teimosos a tomar a vacina.
As vacinas estão chegando, mesmo com todas as disputas políticas que atrasam sua aplicação. Mas, nós temos um problema mais urgente para ser enfrentado, que é convencer as pessoas a se manterem umas longe das outras, principalmente neste período de Natal e Réveillon, quando os encontros são mais frequentes.
O feriado de Ações de Graça nos Estados Unidos, fez explodir o número de infectados, nos sinalizando que aqui ocorrerá o mesmo, neste fim de ano, se não nos cuidarmos.
Os mais velhos certamente se prevenirão, mas não estão livres, porque os jovens tem grande potencial de levar a doença até eles. Por isso, até para se livrarem de algum provável sentimento de culpa ou remorso por contaminarem seus parentes, os moços deveriam evitar as aglomerações no final do ano.
Mais uma coisa: governadores e prefeitos não tem o poder de entrar nas casas para inibir festas familiares. Assim, não devem ser hostilizados se, por conta do nosso relaxamento, forem obrigados a adotar medidas duras para inibir uma possível nova proliferação da doença.
Voltando ao início. Entre o liberalismo que condena todas a interferência de governos na atividade humana, e o utilitarismo, que coloca o bem-estar acima das ideologias, no caso da Covid, fico com o segundo. Ou seja: apoio a vacinação compulsória, se ela for necessária para enfrentar a pandemia e também concordo com medidas que restrinjam a liberdade de circulação das pessoas, se for inevitável para salvar vidas.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor