Cidades

Não ouvi barulho, nem vi sangue. Só vi minha filha cair’

Outra bala perdida matou Larissa de Carvalho, de apenas 4 anos, em Bangu (zona oeste) em 17 de janeiro.
"Minha filha sempre foi alegre. Não tinha quem não gostasse dela", conta a mãe da garota, Milene Carvalho, de 30 anos.
"Não ouvi nenhum barulho, não vi sangue, nada. Só vi minha filha cair. E vi seus olhinhos girarem."

Mas, a caminho do hospital, ela se deu conta da gravidade do caso, ao ver o sangue que caía da cabeça da menina sobre o seu colo. Horas depois os médicos declarariam a morte cerebral de Larissa. A polícia trabalha com a hipótese de um tiro dado para o alto a quadras de distância dali.
"Para quê vou trabalhar se não tenho mais minha filha? Continuar para quê?", diz Milene

Alerta
As mortes de Vanessa e Larissa trazem à tona o alto número de balas perdidas no Estado do Rio de Janeiro nos últimos meses.
Segundo o Núcleo de Dados do jornal O Globo, somente no mês de janeiro deste ano foram contabilizados 32 casos de balas perdidas . De acordo com a Globo News já seriam mais de 40 no acumulado desde o início de 2015.

Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), órgão do governo fluminense que compila estatísticas criminais, mostram que em 2013 houve 111 casos não fatais e nove mortes, e em 2012 foram 109 vítimas não fatais e oito mortes em decorrência de balas perdidas no Estado do Rio de Janeiro. Os dados referentes a 2014 devem ser fechados somente na metade deste ano.

Os números de janeiro geraram um alerta, já que os 32 casos ocorridos em apenas um mês correspondem a 28,8% do que foi registrado em todo o ano de 2011. Estudos mostram que, embora a maioria dos casos ocorra em comunidades e bairros mais pobres, há registros também em áreas turísticas e bairros nobres da capital fluminense.

No dia 24 de fevereiro, uma jovem foi baleada na perna enquanto caminhava por uma das principais avenidas de Copacabana, sem saber de onde partiu o tiro. Três dias depois, uma criança de três anos de idade ficou ferida por uma bala perdida que se alojou em sua coluna quando estava na porta de sua casa no bairro de Costa Barros, na zona norte do Rio.

Lógica de guerra
Para o especialista João Trajano Sento Sé, doutor em Ciência Política e Sociologia e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da UERJ, os índices refletem o retorno da lógica de guerra entre o crime organizado e as forças de segurança.

"A partir do segundo semestre de 2014 aparentemente houve um aumento (de casos) e nestes primeiros meses de 2015 certamente sim. É um sintoma do recrudescimento dos enfrentamentos armados entre policiais e criminosos, ou entre diferentes facções criminosas", avalia.

Ele ressalta que a iniciativa recente da Secretaria de Segurança Pública do Estado do RJ, que criou um grupo especializado para combater a venda ilegal e tráfico de armas de fogo, é bem-vinda, mas que o problema é que a maioria dos armamentos em circulação nas mãos do crime organizado no Rio tem origem legalizada, mas foram desviadas para as quadrilhas.

Somente nos primeiros meses deste ano, a polícia fluminense apreendeu 89 fuzis, o dobro do mesmo período de 2014.

Fonte: BBC BRASIL

 

Redação

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