Quando foi eleito para o governo em 2014, havia a opinião quase unânime de analistas políticos de que Pedro Taques colocara uma bomba-relógio em seu colo, por causa da crise econômica que já se avizinhava porque o Estado estava mergulhado na polêmica das obras da Copa. Com um perfil técnico para secretariado e viés jurídico na vida, vindo do Ministério Público Federal, o então senador prometia despontar como o governador com competência para lidar com a máquina pública. Hoje, quatro anos depois, ele volta a concorrer ao mesmo cargo cercado de polêmicas que o aproximam da política tradicional, com acusações de grampos telefônicos e homens de confiança ligados à corrupção. Ele diz que cumpriu parte das promessas de campanha com destrave de obras da Copa e se defende de acusações dizendo que “não conseguem comprovar que sou corrupto”. Em entrevista ao Circuito Mato Grosso, na série dos candidatos ao governo, ele mantém o tom enfático e diz que o Estado não saiu dos trilhos.
Mato Grosso avançou no ensino fundamental, mas ainda tem o problema do ensino médio com notas ruins, abaixo da média nacional. Onde está o problema?
Eu não quero falar só da parte vazia do copo, quero falar da parte cheia. Mato Grosso, quando nós assumimos, era um dos estados mais mal colocados na educação; isso é fato. Em três anos e meio de gestão, avançamos em todos os indicadores: na proficiência de português e matemática, estamos acima da própria média do Brasil. O MEC (Ministério da Educação) revelou que Mato Grosso melhorou bastante em critérios da educação comparado com outros estados. Se forem calculadas todas as médias das unidades da federação, nós saímos da 26ª posição para 13ª, 14ª posição, empatados com algumas unidades na 15ª colocação. Melhoramos 11 posições em três anos e meio.
O que está faltando para o Estado chegar ao topo?
Tempo. Eu não tinha como fazer com que Mato Grosso chegasse entre os cinco melhores Estados do Brasil em três anos e meio de gestão. Em educação, isso demora para ocorrer. Nós tivemos uma conversa com os professores e outros profissionais da educação sobre o ensino em ciclo e nossa administração mostrou que estamos no caminho certo. Primeiro, mantivemos o ganho salarial dos profissionais da educação porque fizemos um acordo com o Sintep (Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público). Os 40 mil profissionais tiveram 49% de aumento real mais a Revisão Geral Anual (RGA). Isso fez com que os profissionais em Mato Grosso percebam o terceiro maior salário do Brasil. Também assumimos compromisso com o sindicato de realizar concurso público e o fizemos para 5,7 mil vagas para as quais já demos posse. Isso cria uma ambiência familiar diferenciada, o que fez com que Mato Grosso melhorasse nos indicadores.
Para fazer investimentos depende de orçamento. Em relação à economia, o senhor pretende renegociar o acordo com o Bank of America?
O contrato com o Bank of America foi mais um absurdo praticado na gestão passada. Praticado por Silval Barbosa (sem partido), por Carlos Bezerra (MDB) e Chico Daltro, que estão todos com o candidato Mauro Mendes e querem voltar [ao governo do Estado]. Só na nossa administração do contrato assinado com o Bank of America nós já pagamos quase US$ 290 milhões: US$ 37 milhões em março, US$ 37 milhões em setembro. São US$ 290 milhões sem mecanismo de garantia contra a mudança cambial. O Estado assinou o contrato com dólar a R$ 2, hoje [11/09] o dólar está a R$ 4,16. Imagine o prejuízo que Mato Grosso teve, tem e ainda terá? Nós temos uma proposta do Banco Mundial para recomprar essa dívida.
Isso reduziria para quanto?
Isso diminuiria o valor da dívida e daria uma carência para o Estado para pagamento. Mas eu não quero falar em detalhes porque ainda estamos negociando, não está ultimado com o Banco Mundial.
Qual é o volume da dívida hoje?
Mato Grosso deve, de operações de crédito, R$ 7 bilhões. A maior parte dessas dívidas é da Copa do Mundo 2014, que, aliás, foi um erro histórico cometido em Mato Grosso. Nós pagaremos este erro da Copa do Mundo em Cuiabá por muitos anos, além do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e das obras inacabadas. Sete bilhões de reais é pouco diante do que Mato Grosso pode contrair em dívida, cada Estado pode contrair até 200% da receita corrente líquida, então Mato Grosso poderia contrair até R$ 28 bilhões. Nós temos capacidade de endividamento, mas não temos capacidade de pagamento. As obras da Copa concentram a condição de pagamento em 2015, 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020, justamente na nossa administração. Nós pagamos R$ 1 bilhão em 2015, R$ 1 bilhão em 2016 e na renegociação da dívida com a União, em 2017, as obras da Copa não entraram. Então, nós vamos pagar pelo erro por muito tempo. Nós estamos pagando isso, mas a responsabilidade é do Silval Barbosa, Chico Daltro e Carlos Bezerra, que estão juntos com o Mauro Mendes.
Qual a ligação do Mauro Mendes com as dívidas da Copa?
Foi omisso em relação às obras. Veja o VLT, o município de Cuiabá fez de conta que não era com ele. Rasgaram Cuiabá. Diferente do que o [prefeito] Emanuel Pinheiro fez. Quando assumiu, ele assinou decreto dizendo que as obras da Copa só poderiam se realizar com a autorização do município. Você não encontra uma palavra do ex-prefeito Mauro Mendes sobre o VLT em Cuiabá. Mais da metade da dívida é das obras da Copa.
O senhor disse em sua campanha que resolveria as obras da Copa paradas. Como está a situação hoje?
Nós entregamos o viaduto do Tijucal, entregamos o Trevo do Santa Rosa, entregamos a Salgadeira, que era uma obra parada há mais de oito anos, entregamos o Morro do Despraiado. Não entregamos o COT (Centro Oficial de Treinamento) do Pari, COT da UFMT, a Rua 8 de Abril e o Aeroporto Marechal Rondon não estão 100%. Essas quatro obras são tocadas pelo Berinho Garcia, pai do Fabio Garcia, coordenador da campanha de Mauro Mendes. Além dessas quatro obras, ele também não consegue terminar três escolas técnicas e a Zona Portuária de Exportação (ZPE). É do mesmo grupo do pai do coordenador de Mauro Mendes, que são sócios em outras empresas. O viaduto da UFMT alagava todos os anos porque fizeram a obra sem drenagem, nós fizemos a drenagem. Desde o final de 2016 não alagou mais. A [obra da] Estrada do Moinho é de um cidadão chamado Wanderley [Facheti Torres] da Trimec [empreiteira investigada por desvio de R$ 8 milhões] que não é meu sócio, é sócio do Silval Barbosa, que é sócio de Mauro Mendes ou Mauro Mendes é sócio do irmão do Silval.
E a polêmica do Hospital Júlio Müller, que teria dinheiro parado na conta do Estado?
O processo licitatório do Júlio Müller foi feito em 2011/2012. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) ficou de fazer os projetos e não fez. A Controladoria Geral da União (CGU) chegou à conclusão que os projetos são de péssima qualidade, a administração era da reitora Maria Lúcia [Cavalli Neder, candidata ao Senado pelo PCdoB], que não soube conduzir o projeto. Ela é irresponsável [ao dizer que o governo retém recurso]. A CGU e uma comissão estadual já comprovaram isso e o processo licitatório foi feito via pregão para que uma empresa ganhasse. O Estado fez um acordo com a União, que repassaria 50% [para a obra]. Isso está errado, o Estado pode passar até 20%. Não coloco dinheiro em obra sem projeto ou projeto mal feito, como foi feito pela reitora Maria Lúcia.
O candidato Arthur Nogueira diz ser insanidade terminar as obras do VLT porque o Estado não tem caixa. O senhor concorda com ele?
Nós não podemos vender os vagões, R$ 700 milhões em vagões. A sociedade tem que entender que a obra do VLT precisa terminar, mas terminar dentro da lei. Nós estamos fazendo chamamento público para que empresas possam terminar a obra e tocar o VLT. Nós não podemos vender os vagões do VLT, que, aliás, foram dez a mais, R$ 150 milhões, como se fosse baguncinha na rua. É possível vender o excesso, mas não vamos vender os R$ 700 milhões. O VLT sai, mas não em um ano. Falar que sai em um ano é conversa fiada.
Sobre a segurança pública, muitas pessoas dizem que há o gargalo de se estar soltando pessoas por falta de cadeia pública, não tem vaga, põe tornozeleira.
Mato Grosso tem 11.500 presos e nós temos 6.600 vagas. Estamos terminando um estabelecimento penal em Várzea Grande com mil vagas e um em Peixoto de Azevedo, com 400 vagas. Vai melhorar, mas não vai resolver. Sobre tornozeleira, quando assumi, eram 300 pessoas usando, hoje são quase 3.000. Quem determina a autorização de tornozeleira é o Poder Judiciário.
O juiz Fidélis, titular da Vara Criminal, diz que o Judiciário libera por não ter condições de manter prisões.
Com todo respeito ao juiz, eu não vou concordar com ele. Cabe ao juiz, no momento de estabelecer cautelares, dentre elas a tornozeleira, analisar os requisitos [para determinar prisão] independentemente de ter ou não presídios. É a minha opinião.
No primeiro semestre do ano houve o alarde de ataques de facções criminosas disparados de dentro das prisões. Isso gera a necessidade de área específica para lidar com o crime organizado?
Nós temos na Polícia Civil o GCCO (Grupo de Combate ao Crime Organizado) que faz investigação de facções criminosas. Nós combatemos as facções com ações fortes de transferência de líderes para outros estabelecimentos penais, inclusive para outros estados; fizemos operação com a prefeitura para inibir dentro de bairros ações de pichações. Todos aqueles que se manifestaram, por exemplo, na escola no CPA, como sendo de facções foram presos e responsabilizados. Todos aqueles dos ataques a ônibus em Cuiabá [em meados de 2016] foram presos, denunciados e alguns já até condenados.
Há previsão, para um próximo governo, de concurso para a Polícia Civil?
Hoje são 15 mil profissionais no sistema de segurança – Polícia Militar, Polícia Judiciária Civil, Corpo de Bombeiros e Detran. Desses 15 mil, na minha administração foram 3.663 (27%). Precisamos de mais 1,2 mil policiais militares, 1,2 mil policiais civis, mais 200 profissionais do Corpo de Bombeiros e 150 delegados. Temos um concurso para delegado em andamento, mas temos que respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Que o Estado já chegou a exceder um pouco…
Sim. Existe um questionamento do TCE (Tribunal de Contas do Estado), mas no reconhecimento do voto o pleno reconheceu que nós chamamos para segurança e educação.
Os deputados parecem estar em uma reorganização e sua base está se diluindo. Se eleito, é o caso de voltar ao convencimento político?
Nesse período eleitoral, cada deputado está pensando na sua eleição, né? Hoje [terça, 11] tem a última sessão antes das eleições, cada deputado está atrás de sua eleição, o que é normal para o momento. Veja que o Congresso Nacional está na mesma situação.
Como lidar com a campanha de reeleição, governador, tendo sua gestão implicada em polêmicas de grampos telefônicos, CPI dos Fundos e as delações do Alan Malouf e Permínio Pinto?
Existe corrupção no mundo todo. A diferença é a maneira pela qual você combate e trata a corrupção. Nós tomamos as medidas imediatamente. Eu exonerei o secretário [Permínio Pinto (Seduc)], determinei a investigação, determinamos a suspensão dos contratos. Quando falam em R$ 56 milhões [de desvio], isso é mentira. Poderia ter sido R$ 1 que seria grave; eu não quero minimizar a corrupção, mas não podemos mentir ao cidadão. Isso de R$ 56 milhões é o valor total do contrato que nós rompemos. A Controladoria Geral do Estado (CGE) e a auditoria dentro da própria Secretaria de Educação chegaram à conclusão que beira a R$ 500 mil. Não conseguem me acusar de corrupto, porque eu não sou corrupto; não conseguem me acusar de ladrão, porque eu não sou ladrão. Meu patrimônio é o mesmo como procurador, senador e governador. Eu não aumentei o meu patrimônio em 1.000%; eu não sou quebrado na pessoa jurídica e o candidato mais rico na pessoa física.
E os grampos telefônicos?
Eu pedi para ser investigado no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Algum receio com as delações do Permínio e do Malouf?
Delação é um dos instrumentos mais importantes para combater o crime organizado, sou favorável às delações. Agora, nós precisamos entender que delação precisa ser demonstrada, provada, precisa ser comprovada. Eu digo assim: “Dei R$ 2 milhões para o presidente dos EUA”. Eu tenho que provar aonde, como. Veja o cabo [Gérson Corrêa]: “Acho que o Pedro Taques está nisso”. Eu não posso responder pelo “eu acho”. A delação vai ser demonstrada ou não demonstrada; eu estou absolutamente tranquilo porque eu conheço que não fiz nada.
Paulo Taques, quando saiu da cadeia, afirmou que estava há um ano sem falar com o senhor. Como está isso na família, houve decepção?
Eu não comento sobre família. Eu não falo sobre família dos outros e não quero falar sobre a minha. Paulo Taques vai responder na Justiça, como está respondendo.
Mas o senhor confirma que está há um ano…
Tem mais de um ano que não falo com ele.
O senhor se decepcionou de ver seus secretários envolvidos em corrupção, independente de ser o Paulo Taques?
Eu não passo a mão na cabeça de quem quer que seja. O que nós precisamos garantir à pessoa é o direito do contraditório, direito da ampla defesa.
Sobre a CPI dos Fundos, Allan Kardec, segundo relator na comissão, disse que a investigação já comprova desvio de dinheiro do Fundeb para outros fins…
Olha só, quero expressar meu respeito ao Allan Kardec, mas eu não vou discutir com militante político.
O senhor tinha estabilidade na carreira jurídica e depois como senador poderia ser reeleito. Há arrependimento por entrar no Executivo?
Não. Acho que algumas pessoas trilham o caminho mais largo, o caminho mais fácil. Eu não estou trilhando o caminho mais largo, estou trilhando o caminho mais difícil. Minha campanha é a mais pobre para governo, porque eu não fiz caixa de campanha. Governo que vai à reeleição sem dinheiro? Isto é prova cabal que eu não roubei durante a administração, não cobrei de empresários. Eu defendo os mesmo princípios como procurador da República, como senador e como governador. Quem decide quem será o governador de Mato Grosso é o povo.
O senhor acha que, mesmo com 30% de rejeição, o povo vai lhe dar outra oportunidade?
Trinta por cento de rejeição para quem está no exercício do poder é absolutamente razoável. É uma rejeição da administração, vinda de muita gente que não sabe o que nós fazemos.