O ex-secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, assumiu a autoria de movimentações financeiras suspeitas nas contas da Federação de Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso (Fecomércio-MT) e isentou de culpa o atual presidente da entidade, Hermes Martins da Cunha.
A confissão foi feita durante reunião extraordinária do Conselho de Representantes da Fecomércio, no dia 28 de setembro de 2016, dias após ter sido colocado em liberdade, por ter confessado sua participação em um suposto esquema de cobrança de propina em troca de benefícios fiscais em Mato Grosso, por meio do Prodeic (Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial).
O Circuito Mato Grosso teve acesso a ata de reunião da Fecomércio-MT, em que Nadaf assumiu as transações de dinheiro como ações pessoais, confirmando a denuncia do Ministério Público Estadual (MPE), que o acusou de ter feito uso da instituição como um “balcão de negócios”, para o cometimento dos crimes investigados na Operação.
“[Pedro Nadaf] Disse ter feito depósitos na conta da instituição porque estava com a sua conta bloqueada, porém, nenhum valor foi retirado da instituição, o valor que entrou foi igual ao que saiu e isso está constando na contabilidade”, diz trecho do documento.
Na reunião, Nadaf esclareceu questionamentos do Conselho de Representantes, quanto às contas da instituição referentes ao ano de 2015.
Nadaf esteve à frente da Federação por mais de uma década. Em setembro de 2015, quando foi preso na 1ª fase da Operação Sodoma, o ex-secretário renunciou ao cargo e foi substituído pelo atual presidente, Hermes Martins da Cunha.
O conselho de Representantes também questionou gastos altos da Fecomércio-MT desde abril do ano passado, como uma viagem para os Estados Unidos que custou R$ 173 mil. No entanto, curiosamente, quase todos os conselheiros participaram dessa viagem a América do Norte, que foi uma missão oficial de interesse da entidade sindical e de suas entidades filiadas, conforme documentos apurados pela reportagem.
Assumiu os erros
Em sua fala aos representantes da Fecomércio, Nadaf assumiu a total responsabilidade dos erros encontrados na prestação de contas da instituição.
Além da utilização das contas da federação para movimentações bancárias suspeitas, Nadaf disse que usou funcionários da Fecomércio para “fazer serviços particulares e ilícitos” sem que esses soubessem. “Esse foi um dos fatores que me fizeram tomar a decisão de assumir todas as culpas, pois cada um deve responder pelos seus atos. Decidi assumir os meus, perante a sociedade e minha família”, declarou.
Aos representantes da federação, o ex-secretário disse que muitos da Fecomércio deveriam fazer suas próprias reflexões, pois, “cada um tem seus próprios erros, sejam eles pequenos ou grandes”.
Nadaf garantiu que o atual presidente Hermes Martins da Cunha não tem nenhuma responsabilidade quantos as irregularidades cometidas em sua gestão.
Por fim, Nadaf afirmou que não pretende voltar a comandar a instituição, uma vez que tem a sensação de dever cumprido.
Investigações
O Ministério Público do Estado (MPE) investigou a transação de R$ 426,38 mil pela conta da Fecomércio à época em que Nadaf ainda ocupava a presidência, tendo sido concluída com o entendimento de que não houve crime a apurar no caso. Conforme o Conselho de Representantes, o montante entrou e saiu do caixa da federação sem identificação de origem ou destino, mas não há demonstração de que houve qualquer prejuízo a entidade.
Também é investigado o Programa de Demissões Voluntárias da Fecomércio no TCU e Ministério Público estadual, onde o Circuito apurou que existe auditoria realizada pelo Conselho Regional de Contabilidade esclarecendo não haver irregularidades ou desvios.
O presidente da Fecomercio/MT, Hermes Martins da Cunha, já enviou oficio ao promotor de justiça Célio Furio colocando à disposição do Ministério Publico toda a documentação necessária para esclarecimento dos fatos, ressaltando a licitude e probidade dos seus atos no cargo.
Nos bastidores políticos, existem rumores de que novos desdobramentos podem ocorrer envolvendo conselheiros da entidade por desvio de conduta, tais como favorecimentos perante o poder público.
