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Na semana, Ibovespa avança 1,82% e dólar recua 2,13%

O Ibovespa acentuou ganhos ao longo da tarde e se reaproximou do limiar de 126 mil pontos no melhor momento do dia, em alta então de 2%. Ao fim, mostrava avanço de 1,36%, aos 125.034,63 pontos, tendo chegado no pico da sessão aos 125.821,53 pontos, embalado por forte desempenho das ações de primeira linha, as blue chips, como Vale (ON +1,46%) e Petrobras (ON +1,22%, PN +1,08%). Entre os maiores bancos, os ganhos chegaram a 2,45% (Santander Unit) no fechamento. Na ponta ganhadora, Brava (+10,82%), Magazine Luiza (+10,55%) e Marcopolo (+6,18%). No lado oposto, Totvs (-1,93%), Embraer (-1,39%) e Fleury (-0,66%) – apenas nove dos 87 papéis da carteira Ibovespa fecharam o dia em baixa.

Na semana – a primeira de março e com apenas duas sessões e meia, contando a Quarta-feira de Cinzas -, o índice da B3 teve avanço de 1,82%, após perdas de 3,41% e de 0,85% nos intervalos precedentes. No ano, sobe 3,95%. O giro financeiro desta sexta-feira foi de R$ 20,6 bilhões.

“A possibilidade de cortes nos juros dos Estados Unidos impulsiona mercados emergentes, tornando ativos brasileiros mais atrativos: otimismo reforçado por dados do mercado de trabalho americano mais fracos do que o esperado para fevereiro, divulgados na manhã de hoje, que abrem espaço para um afrouxamento monetário pelo Federal Reserve”, diz Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, referindo-se à geração de 151 mil vagas nos Estados Unidos no mês passado – a estimativa de consenso era de 160 mil postos para fevereiro.

Na B3, o desempenho desta sexta-feira foi favorecido também pela valorização das commodities, com efeito direto para papéis como Vale e Petrobras, de grande peso no índice. Uma conjunção positiva ao alívio observado na curva de juros doméstica, em dia de payroll comportado e condizente com rendimentos dos Treasuries em patamar potencialmente mais acomodado, observa Iarussi, destacando o desempenho das ações do ciclo doméstico, sensíveis a juros e ao ritmo de atividade interno.

“Os dados de emprego nos Estados Unidos vieram mais fracos do que a mediana das expectativas, e com ligeira elevação na taxa de desemprego. Uma parcela dos analistas volta a acreditar que o Fed possa cortar juros já em maio”, diz Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, acrescentando que a possibilidade de retomada de cortes de juros nos Estados Unidos ainda em 2025 era vista, até então, com bastante ceticismo.

Por outro lado, a leitura de fevereiro “provavelmente aliviará as expectativas excessivamente pessimistas sobre a economia”, aponta em nota Lara Castleton, head de estratégia de portfólio dos EUA na Janus Henderson, destacando fatores como o crescimento da renda média, em cerca de 0,3% conforme esperado, e o avanço na geração de empregos no setor industrial – termômetros do consumo e do ritmo de atividade.

No Brasil, o destaque da agenda desta sexta-feira foi o PIB abaixo das expectativas para o último trimestre de 2024 – o que reforça a percepção de desaceleração da atividade, retirando pressão do BC quanto a futuros aumentos da Selic, avalia Iarussi, da The Hill Capital.

Dessa forma, o mercado amplia um pouco o otimismo em relação ao comportamento das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. A previsão de alta para o Ibovespa na próxima semana tem fatia de 50% entre os participantes, acima dos 33,3% vistos na edição anterior. A parcela que espera variação neutra recuou de 33,3% para 16,6% e a que acredita em perdas manteve-se em 33,3%.

Dólar

O dólar encerrou a sessão desta sexta-feira em alta moderada em relação ao real e próximo ao nível psicológico de R$ 5,80, em dia marcado por desvalorização de divisas emergentes e de países exportadores de commodities, como o rand sul-africano, o peso colombiano e o dólar canadense. De outro lado, o dólar perdeu força em relação a pares, em especial o euro, após resultado aquém do esperado do relatório de emprego (payroll) nos EUA sugerir espaço para cortes de juros pelo Federal Reserve já no primeiro semestre.

Operadores afirmam que dados mais fracos da China, com queda mais forte que a esperada das importações, e a incerteza em relação aos efeitos da política protecionista de Donald Trump podem ter detonado um movimento de ajustes e realização de lucros em divisas emergentes, após o rali das últimas semanas.

Por aqui, pesou também contra real o resultado abaixo do esperado do PIB no quatro trimestre, que diminui a atratividade do país para investimentos e sugere menos espaço para mais altas da taxa Selic. O PIB cresceu 0,2% no quatro trimestre em relação ao terceiro, aquém da mediana de Projeções Broadcast, de 0,4%. A expansão em 2024 foi de 3,4%.

“O resultado do PIB reforçou o cenário de desaceleração da economia, o que provocou um recuo dos juros futuros, favorecendo também a alta da moeda americana em relação ao real”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.

Com máxima a R$ 5,8002 na última hora de negócios, o dólar terminou o dia cotado a R$ 5,7902, em alta de 0,53%, emendando o segundo pregão de valorização. Apesar disso, a moeda termina a semana mais curta, em razão do Carnaval, com perdas de 2,13%, uma vez que havia fechado na última sexta-feira em R$ 5,9163.

“Os dados da China deixaram o mercado com um pé atrás. E o PIB pior que o esperado também aumenta o risco de o governo tentar adotar mais medidas populistas para estimular o consumo, o que piora o quadro fiscal”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.

Analistas ouvidos pelo Broadcast ontem e hoje afirmam que as medidas de isenção de impostos de importação sobre alimentos terão pouco efeito no controle da inflação e podem trazer perda de receita. Cálculos da Warren Investimentos estimam queda de até R$ 1 bilhão por ano na arrecadação.

“O Brasil começa a mostrar dificuldade de crescimento com ainda muita pressão inflacionária. E temos essas medidas meio desesperadas do governo que podem atrapalhar o fiscal. O nosso cenário não é bom e a tendência é o dólar para cima, mais perto de R$ 5,95”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.

Do lado das contas externas, a balança comercial apresentou déficit de US$ 323,7 milhões em fevereiro, surpreendendo analistas. A mediana de Projeções Broadcast era de superávit de US$ 1,97 bilhão. No ano, o saldo da balança ainda é positivo em US$ 1,934 bilhão.

Representante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) observou que a compra de uma plataforma de petróleo puxou o saldo comercial para o campo negativo. Sem essa operação específica, a balança teria fechado fevereiro com superávit de US$ 2,6 bilhões.

Lá fora, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas – caiu mais uma vez e rompeu o piso dos 104,000 pontos, com mínima aos 103,458 pontos, graças sobretudo à nova rodada de fortalecimento do euro.

O payroll em fevereiro mostrou criação de 151 mil vagas, abaixo da mediana de Projeções Broadcast (160 mil). A taxa de desemprego subiu de 4% para 4,1%, ao passo que o salário médio por hora aumentou 0,28%, enquanto analistas esperavam alta de 0,3%.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reiterou hoje à tarde que a política monetária está bem posicionada para lidar com incertezas geradas pelas políticas de Trump, mas alertou que a taxa básica pode permanecer restritiva por mais tempo caso a economia permaneça aquecida e a inflação, elevada. Monitoramento do CME Grupo mostra que o mercado se divide entre maio e junho como mês mais provável para retomada de corte de juros pelo Fed.

Juros

Nesta tarde a balança comercial brasileira registrou déficit em fevereiro, contrariando expectativas de superávit, e reforçou a leitura do mercado de que a economia passa por um processo de desaceleração. O principal fator desta tese foi o Produto Interno Bruto do quarto trimestre de 2024, divulgado nesta manhã, que inclusive fez o Goldman Sachs reduzir a previsão de alta para o PIB real de 2025, de 2,1% para 1,7%. Assim, o fechamento da curva de juros foi consistente do início ao fim do pregão, precificando uma Selic terminal próxima de 15% e com o vértice longo cedendo 28 pontos-base.

A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu para 14,740%, de 14,804% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 cedeu para 14,570%, de 14,772%, e o para janeiro de 2029 recuou para 14,535%, de 14,816% no ajuste de ontem.

O fator-chave para a queda dos juros futuros nesta sexta-feira veio logo pela manhã, quando o PIB do quarto trimestre de 2024 cresceu 0,2% ante o terceiro trimestre, abaixo da mediana do Projeções Broadcast de 0,4%.

“O mercado encontrou uma revelação no PIB do quarto trimestre de 2024, de que a economia de fato está arrefecendo. Então 2025 será um ano de arrefecimento na dinâmica da atividade, e isso é bem-vindo aos olhos de um Banco Central que persegue seu compromisso de buscar a convergência da inflação ao centro da meta”, afirma o estrategista-chefe da BGC Liquidez, Daniel Cunha.

O Citi estima que o PIB do primeiro trimestre deste ano deve ser beneficiado pela colheita bastante robusta de soja, mas reforça que, após esse período, a expectativa é de que o crescimento trimestral da economia retome a tendência de desaceleração vista no quarto trimestre de 2024.

À tarde, a balança comercial apontou déficit de US$ 323,7 milhões em fevereiro “e deu mais fôlego para o fechamento dos juros, pois a balança faz parte da fórmula do PIB”, observa o diretor de Investimentos da Nomos, Beto Saadia.

Contudo, o saldo comercial de fevereiro só foi negativo por conta da compra de uma plataforma de petróleo, segundo o diretor de Planejamento e Inteligência Comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Herlon Brandão.

Mais cedo, os dados do mercado de trabalho (payroll) dos Estados Unidos vieram abaixo do esperado e também indicaram certa desaceleração da economia. À tarde os juros dos Treasuries ganharam fôlego, beneficiados por um apetite a risco após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmar que a economia dos Estados Unidos “está em bom lugar”.

Motivo de receio na véspera, as medidas do governo federal para reduzir o preço dos alimentos acabaram não fazendo preço, segundo operadores.

Estadão Conteudo

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