Na Natureza Selvagem é um filme estadunidense de 2007, do gênero aventura dramático-biográfica, escrito e dirigido por Sean Penn, com roteiro baseado no livro homônimo de Jon Krakauer.
O filme conta a história real das viagens de Christopher MacCandless através da América do Norte e sua vida passada no deserto do Alasca no início da década de 1990.
Há histórias que não se contam apenas com fatos — elas se contam com silêncios, paisagens e batidas de coração. Na Natureza Selvagem é uma dessas histórias. Christopher McCandless, jovem recém-formado, carrega nos ombros o peso de um mundo que lhe parece falso: pais em guerra silenciosa, verdades escondidas, afeto sufocado por aparências e ambição. Tomado por um profundo inconformismo com a sociedade e por feridas emocionais que carrega desde a infância, decide romper de forma radical com sua vida convencional.
O jovem ao terminar a faculdade, abandona família, dinheiro e todos os bens materiais, partindo em uma jornada pelo país em busca de um sentido mais puro para a existência. Sua decisão nasce de uma revolta silenciosa contra o mundo que conhece: a relação marcada por mentiras e conflitos entre os pais, a hipocrisia e o materialismo que o cercam, e o peso sufocante das expectativas sociais. Diante desse cenário, ele decide não apenas ir embora de casa, mas renunciar ao próprio nome. Vira Alexander Supertramp, como se o novo nome pudesse vestir sua alma de liberdade.
Ele não foge apenas das pessoas, mas daquilo que acredita corromper a essência humana — o dinheiro, o consumo, a pressa, as máscaras sociais. Ao partir, quer despir-se de tudo para encontrar-se por inteiro. A estrada, para ele, não é um caminho, é um ritual de purificação. E, ao longo dessa estrada, encontra não apenas quilômetros, mas vidas.
Jan e Rainey, viajantes que se amam na simplicidade, mostram-lhe que o amor pode existir fora das regras e dos rótulos. Wayne Westerberg, trabalhador de mãos calejadas, oferece-lhe não só emprego, mas o senso de pertencer a uma comunidade, ainda que temporária. Ron Franz, um velho solitário, descobre nele um amigo e, talvez, o filho que não teve. Nos olhos de Tracy, uma jovem que o admira, há um brilho tímido que fala de encanto e possibilidades nunca vividas. Cada encontro é uma semente, e cada semente germina mesmo no solo de um coração que acredita querer ficar só.
Mas o sonho maior de Alexander está longe, no Alasca. Ele quer perder-se no branco da neve, no verde das florestas, no silêncio absoluto das montanhas. Quer viver longe de tudo, para sentir o que é estar verdadeiramente livre. Lá, em um ônibus abandonado que vira casa, experimenta a beleza da solidão e o peso cruel dela. Os dias se estendem como páginas em branco, preenchidas por caçadas, caminhadas e reflexões. Porém, a fome e a natureza, implacáveis, começam a lembrá-lo de que o ser humano, por mais forte que seja, não é ilha completa.
E então vem a revelação, simples e dolorosa: “a felicidade só é real quando compartilhada”. Naquele instante, compreende que, embora tenha buscado a pureza da vida selvagem, a essência da existência está nos laços que formamos com outras pessoas. Mas o corpo, enfraquecido por uma acidental intoxicação e pela fome, não o permite voltar. Sua despedida é silenciosa, escrita no ar frio do Alasca e na última página de seu diário.
Sean Penn conduz essa história com uma delicadeza rara. A fotografia de Eric Gautier transforma a tela em vastidões abertas, onde o homem parece tão pequeno quanto um grão de areia diante da eternidade. A luz natural, os enquadramentos amplos e a paleta de cores nos fazem sentir a respiração da natureza. A trilha de Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, é como um sussurro constante da alma de Christopher — “Society”, “Guaranteed” — são canções que não só acompanham a narrativa, mas também a expandem para dentro de quem assiste. A voz da irmã, narrando com ternura e melancolia, dá à história um contorno de lembrança, como se fosse um eco que não quer se apagar.
Entre as lições deixadas por Na Natureza Selvagem, talvez uma das mais luminosas seja a percepção de que a felicidade não exige excessos. Christopher nos mostra que o verdadeiro sentido da vida não está em colecionar bens materiais, mas em apreciar o que é simples e essencial: um pôr do sol silencioso, uma refeição feita com as próprias mãos, uma conversa que aquece o coração, um gesto de afeto inesperado. Ao abandonar tudo o que possuía, ele descobre que, quando o peso dos objetos se esvai, a alma caminha mais leve. A liberdade que buscava não era apenas geográfica — era, sobretudo, a liberdade de não depender do conforto e das coisas materiais para sentir-se vivo.
Na Natureza Selvagem não é apenas um filme sobre alguém que partiu para longe. É sobre todos nós, sobre o desejo universal de ser livre, sobre as cicatrizes que herdamos e as escolhas que fazemos para nos curar. É um lembrete de que podemos ir ao fim do mundo em busca de nós mesmos, mas que talvez só nos reconheçamos no olhar de quem caminha ao nosso lado.
Ao ver Na Natureza Selvagem, percebo que talvez todos nós, em algum momento, tenhamos a tentação de desaparecer, não para fugir, mas para nos encontrarmos. Christopher seguiu esse chamado até as últimas consequências, e pagou por isso com a própria vida. Mas, no fim, sua jornada também é um espelho: ela nos mostra que a liberdade é essencial, mas não plena; que o silêncio da montanha é belo, mas é no riso compartilhado que encontramos sentido.
Talvez o segredo esteja em aprender a partir sem abandonar, em ser dono dos próprios passos sem deixar de lado as mãos que podemos segurar. Porque, no fundo, a vida é menos sobre o lugar onde chegamos e mais sobre com quem dividimos o caminho.
Me emocionei profundamente com a vida daquele jovem e com o filme.
Afinal, “a felicidade só é real quando compartilhada”.
Vale muito a pena assistir.

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.
Foto capa: Reprodução/Divulgação