O Ibovespa retomou os 131 mil pontos e fechou nesta segunda-feira, 28, no maior nível desde 16 de outubro, mesmo em dia de forte pressão nos preços do petróleo, em queda de 6% na sessão. Contudo, o ajuste em Petrobras foi discreto, com a ON em baixa de 0,20% e a PN, de 0,17% no encerramento, o que garantiu o campo positivo para o Ibovespa, em alta de 1,02%, aos 131.212,58 pontos. O bom desempenho de Vale (ON +1,86%, máxima do dia no fechamento) e de ações do setor financeiro, com destaque para Bradesco (ON +1,68%, PN +1,81%) e Itaú (PN +1,22%) entre os grandes bancos, assegurou o sinal do Ibovespa.
Entre a mínima e a máxima da sessão, o índice flutuou dos 129.893,71 pontos, da abertura, até os 131.420,56 pontos, com giro financeiro a R$ 16,4 bilhões nesta segunda-feira. No mês, o Ibovespa ainda recua 0,46%, com perda no ano a 2,22%. Na ponta ganhadora da sessão, destaque para Azul (+13,99%), IRB (+6,80%) e BRF (+4,71%). No lado oposto, Hypera (-8,70%), Prio (-1,68%) e Brava (-1,35%).
Destaque da sessão, o petróleo fechou em queda robusta, recuando mais de 6% nas mínimas intradiárias e no fim da sessão em Nova York e Londres, após a retaliação de Israel contra o Irã ser mais contida do que o esperado por investidores. Em Nova York, o WTI para dezembro fechou em baixa de 6,12% (US$ 4,40), a US$ 67,38 o barril, no maior recuo intradiário desde 2022. E o Brent para janeiro, em Londres, fechou em queda de 6,12% (US$ 4,63), a US$ 71,00 por barril.
No plano doméstico, “passada a eleição municipal, segue de pé a expectativa do mercado para o anúncio do pacote de corte de gastos prometido pelo governo federal. O sinal é positivo, mas se aguarda agora a sua materialização, o que será fundamental para o desempenho dos ativos locais nas próximas semanas, daqui ao fim do ano”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, enfatizando a correlação favorável vista na maior parte da sessão, com dólar e juros futuros em baixa, e bolsa em alta, em dia moderadamente favorável ao apetite por risco também no exterior.
“Temporada de resultados corporativos, de maneira geral, tem sido favorável, aqui e lá fora, o que favorece um início de semana promissor nesta reta final de outubro”, observa também o analista.
“Após uma semana negativa, o Ibovespa iniciou a sessão desta segunda-feira já em alta, flertando com os 131 mil pontos. O dólar, por sua vez, perdeu um pouco de força no início do pregão, impulsionado pelo ingresso de fluxo cambial. Já os juros futuros mostraram as curvas fechando, acompanhando o recuo das taxas americanas”, diz Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos. Ao fim, o dólar à vista mostrava leve alta de 0,06%, a R$ 5,7088, e parte da curva de juros doméstica também se ajustou para cima.
“Apesar da agenda esvaziada nesta segunda-feira, a semana trará dados importantes, como o PCE e o payroll, nos EUA. O mercado se encontra em compasso de espera também para as eleições americanas em 5 de novembro. A tendência é de que permaneça lateralizado nos próximos dias”, acrescenta Boragini.
Dólar
O giro de negócios foi baixo para o câmbio nesta segunda-feira e o dólar rondou a estabilidade na maior parte do pregão, cambaleando entre leve queda e leve alta. Por fim, manteve o nível de R$ 5,70 em que fechou na sexta-feira pela primeira vez desde agosto, com o mercado sem novidades sobre as medidas de corte de gastos prometidas pela equipe econômica para depois das eleições municipais, e monitorando uma acirrada eleição nos Estados Unidos. Já as commodities tiveram desempenho misto, com o petróleo recuando 6% após a retaliação de Israel contra o Irã ser mais contida do que o esperado por investidores, enquanto o minério de ferro subiu mais de 2% após Pequim prometer intensificar ajustes anticíclicos de sua política fiscal.
O dólar à vista fechou em leve alta de 0,06%, a R$ 5,7088, e o para novembro tinha leve baixa de 0,04%, a R$ 5,7110 por volta das 17h15, com giro de negócios de cerca de US$ 7,15 bilhões. O DXY, que mede a divisa americana ante uma cesta de rivais fortes teve alta de 0,06%, aos 104,316 pontos.
“Dólar está oscilando ao redor de R$ 5,70, mostrando que o mercado está rígido e não quer ficar vendido. Muito pelo contrário, qualquer tendência negativa faz o dólar ir para cima”, avalia o sócio e economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho.
O motivo da rigidez, segundo o economista, é tanto externo quanto interno. Primeiro porque as pesquisas mostram que é razoável que o candidato republicano Donald Trump vença a eleição americana, com o mercado especulando quanto a maior risco geopolítico e protecionismo, o que geraria maior inflação mundial e consequentemente valorizaria o dólar, em detrimento de moedas emergentes, diz. Segundo porque, no Brasil, não houve grandes mudanças. “O mercado espera, a qualquer momento, uma medida de contingenciamento de gastos que o governo ainda não aprovou, e o possível impacto para dólar cair dependeria do tamanho desse corte”, avalia.
O diretor da consultoria Eurasia Group, Silvio Cascione, disse em entrevista ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) que o tamanho do esforço fiscal que o Brasil precisa fazer, do ponto de vista de controle de gastos, parece ser maior do que a disposição política do governo.
Além disso, o Boletim Focus “trouxe notícias desanimadoras para a nossa economia, com revisão da inflação e do câmbio para cima”, destaca o gerente comercial e analista da B&T Câmbio, Diego Gardi.
O mercado também monitorou declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, do secretário do Tesouro, Rogério Ceron, e da ministra do Planejamento, Simone Tebet, sem grandes movimentos para o câmbio, segundo Velho, da Equador.
Juros
Os juros futuros fecharam a sessão perto da estabilidade. O mercado não teve fôlego para esticar o recuo das taxas, com o movimento de baixa esfriando já no início da tarde, em linha com a piora do câmbio e da curva dos Treasuries. Assim, passaram a oscilar ao redor dos ajustes de sexta-feira com viés de alta durante toda a segunda etapa, influenciados também por alguma cautela com a agenda pesada da semana.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 12,69%, estável ante o ajuste de sexta-feira. A do DI para janeiro de 2027, também estável, encerrou em 12,82%, e a do DI para janeiro de 2029, passou de 12,82% para 12,84%.
Os poucos drivers que o mercado teve na sessão se deram pela manhã, com o tombo dos preços do petróleo e a queda do dólar ante o real abrindo espaço para o mercado corrigir parte do avanço da sexta-feira. À tarde, as taxas passaram a andar de lado, na medida em que os yields dos Treasuries se firmaram em alta e o dólar zerou a baixa. No geral, a liquidez foi reduzida nos principais contratos.
A commodity acabou fechando em queda de 6%, com o mercado desarmando posições montadas antes do fim de semana em caso de retaliação do Irã ao ataque de Israel, o que não aconteceu. “O mercado ficou preocupado e se armou ali no petróleo, no ouro, nos juros, no dólar, em tudo que pode. Não veio essa resposta. O Irã fez declaração de que não ia retaliar, mas não sei até que ponto isso pode se manter. De todo modo, o petróleo despencou e juros também vieram (para baixo)”, afirma Beto Saadia, diretor de Investimento da Nomos.
De acordo com ele, esse movimento de reversão de posições defensivas puxado pelo petróleo permitiu ao mercado de juros reagir com um certo atraso ao anúncio da Aneel de que em novembro vai vigorar a bandeira amarela nas tarifas de energia, ante a vermelha, mais cara, que prevaleceu em outubro. “O mercado foi reagir só hoje, com esse delay por conta do temor de agravamento da história entre Israel e Irã”, afirmou Saadia, para quem, no entanto, a bandeira amarela “não pode ser tão comemorada”. “O maior problema não é a questão só da energia elétrica, é dos alimentos. A gente teve mais chuvas, o que, de alguma forma, não fala muito em favor de preços dos alimentos”, explicou, lembrando que esse grupo já veio bem pressionado no IPCA-15 de outubro.
A dinâmica da curva também refletiu, especialmente à tarde, o compasso de espera pelos eventos e indicadores da agenda econômica da semana, sobretudo a agenda de revisão de gastos esperada para os próximos dias e, no exterior, o payroll dos EUA. “A falta de um plano concreto para controle de gastos mantém a cautela nos mercados. Com as eleições municipais já finalizadas, os investidores aguardam possíveis anúncios do governo que podem ser fundamentais para reduzir a pressão sobre o real e a curva de juros”, afirma Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa do Itaú BBA.
De concreto sobre o pacote, ainda não se tem nada, mas a ministra do Planejamento, Simone Tebet, voltou a dizer hoje que o momento é de “coragem” para cortar gastos em políticas públicas que são ineficientes. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou que o Brasil tem um “problema fiscal” e que por isso precisará fazer um ajuste nas contas públicas. Mas defendeu também que a meta da recuperação do grau de investimento, classificada por ele como fundamental, está “muito próxima” de ser atingida.
No cenário externo, os juros dos Treasuries se firmaram em alta à tarde, após operarem sob maior volatilidade pela manhã. Os riscos associados à eleição nos EUA seguiram como pano de fundo, com o mercado cada vez mais elevando apostas na vitória de Donald Trump. No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos chegava à marca de 4,273%, nas máximas desde julho.