Cidades

Mulheres treinam auto-defesa para se protegerem de assédio

Foto: Caio cenji

Motivadas pela divulgação do "curso de paquera" do suíço Julien Blanc, anunciado para janeiro de 2015 no Brasil, mulheres de São Paulo se reuniram neste mês para treinar auto-defesa e aprender técnicas de proteção contra o assédio de homens nas ruas e em bares. O curso foi organizado pela jovem Giovana Camargo, de 25 anos, e pelo praticante de artes marciais Luiz Amorim, e aconteceu no dia 20. Segundo Giovana, que é formada em gestão ambiental, as sete participantes da primeira turma do curso receberam, instruções teóricas e práticas sobre técnicas corporais para evitar e reagir a situações de risco.

Giovana já treinou jiu-jitsu e foi chamada por Luiz para desenhar um curso voltado à auto-defesa de mulheres. "Teve toda a história do Julien [Blanc], que foi barrado de entrar no Brasil, e rolou aquele debate sobre assédio público da mulher. A gente pensou que poderia usar a prática dele para auxiliar mulheres a se defenderem", explicou ela

'Instrutor de pegação'
Julien Blanc é um "instrutor" da empresa "Real Social Dynamics", que se define como um centro de conselhos de namoro e dinâmicas sociais. O rapaz já gravou vídeos nos quais orienta rapazes a usarem violência contra mulheres para conseguir sexo. Em seu site, Blanc diz que sua técnica para conquistar mulheres "é ofensiva, é inapropriada, é emocionalmente assustadora, mas é muito eficiente".

Quando a empresa divulgou em seu site que o suíço viria ao Brasil em janeiro de 2015 para uma série de palestras no Rio de Janeiro e em Florianópolis, uma campanha on-line feita no início de novembro para pedir que o governo brasileiro negasse o visto a Blanc recebeu mais de 245 mil assinaturas em três dias.

No dia 13 de novembro, o Itamaraty disse que embaixadas ou consulados do Brasil fora do país poderiam negar um eventual pedido de visto do suíço.
No mesmo mês, Julien teve seu visto para a Austrália cancelado, e o Reino Unido também proibiu a entrada dele no país.

Repercussão
No Brasil, a campanha para barrar o "instrutor de pegação" acendeu um debate sobre abordagens não desejadas a mulheres. A petição online continuou aberta e, até este domingo (28), mais de 410 mil pessoas haviam se posicionado contra a entrada dele no país. Na Câmara de Vereadores do Rio, o vereador Renato Cinco (PSOL) apresentou um projeto de decreto legislativo para considerar Blanc "persona non grata".

Em São Paulo, o assédio e abusos sexuais na Universidade de São Paulo (USP) levou o Ministério Público a instaurar um inquérito, e a Assembleia Legislativa a instalar uma CPI para avaliar se há omissão por parte das universidades paulistas em lidar com denúncias de violência contra mulheres e outras violações de direitos humanos.

Giovana diz que pretende reeditar o curso de dezembro em novas edições do curso em 2015. A gestora afirma que o perfil das inscritas na primeira turma é jovem, com idade média entre 25 e 35 anos.

Uma das participantes do curso foi Heloísa Moraes, de 34 anos. Engenheira civil, ela afirmou que já pensava em aprender técnicas para se proteger porque sofreu vários tipos de assédio de homens nas ruas, no ônibus e até em um supermercado.

"Passei por algumas situações de assédio, então eu já tinha vontade de fazer. Quando apareceu a oportunidade, eu quis aproveitar", disse ela.
Segundo a engenheira, as situações mais comuns de assédio são de homens que se aproveitam de momentos de desatenção ou de espaços pequenos para tocá-la no bumbum.

"O problema é que a gente tem a tendência de se sentir constrangida. A gente é ensinada a sentir culpa. A primeira coisa que pensa é: 'se estivesse com roupa menos justa, se não estivesse andando aqui, se tivesse dado a volta no corredor…'. Mas, quando você racionaliza, você vê que a culpa não é da vítima", afirmou.

Elemento surpresa
Os detalhes do que é discutido entre as mulheres durante o curso ficam em segredo, já que um dos quesitos mais importantes na auto-defesa é o elemento surpresa. Mas, segundo Heloísa, além da parte prática sobre como reagir a uma situação de assédio, os instrutores discutiram como se manter alerta para evitar riscos.

"A gente tem pensar não em ter uma postura passiva, mas ver até onde é válido, quando você deixa de ser vítima e passa a ser agressora", disse ela, explicando, por exemplo, a diferença entre imobilizar a pessoa para impedir um ataque e machucá-la de forma mais dolorosa.
Giovana diz que vários tipos de artes marciais são usados nos golpes ensinados no curso, e truque sobre como usar pequenos objetos, como canetas e chaves, para a proteção própria, também são mostrados. "Tivemos a ideia de falar sobre assédio, saber em quais situações as mulheres se sentem mais acuadas, em que momento sentem que precisam usar [técnicas de auto-defesa]."

Reação pode coibir assédio
Para Heloísa, o curso serviu para que ela percebesse formas de evitar passar por novas situações de assédio nas ruas. "Não é que saí do curso com 100% de controle corporal, mas acho que o fato de saber que tenho condições de reagir talvez me deixe mais confiante", explicou a engenheira.
Segundo ela, se mais mulheres conhecerem recursos para reagirem apropriadamente a momentos como esse, isso pode coibir homens de investirem nesse tipo de abordagem agressiva das mulheres. Ela afirma, porém, que ainda há muito o que fazer para prevenir o assédio e iniciativas como a de Julien Blanc. "Só de existir uma pessoa com o ele, e de existir demanda para qualquer coisa que uma pessoa como ele tenha para dizer, acho que a gente precisa evoluir muito."

O primeiro curso teve custo de R$ 40 e foi realizado por meio da plataforma Cinese, que permite a organização autônoma de workshops pelos usuários do site. O grupo se reuniu no dia 20 em um estúdio de yoga na Zona Oeste de São Paulo.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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