Após o trauma causado por um procedimento cirúrgico para o nascimento do seu primeiro filho, a arquiteta Fabiane Novack decidiu ter o seu segundo bebê através do parto humanizado, em casa.
Com o conhecimento adquirido por meio de muita pesquisa, Fabiane procurou alternativas para fugir de um procedimento que, para muitas mulheres, causa desconforto e acaba sendo imposto pelos médicos que as assistem desde a descoberta da gravidez: a cesárea.
A arquiteta, que hoje concilia a carreira profissional com a criação dos seus dois filhos, conta que na sua primeira gravidez seu médico obstetra não deixou alternativa que não fosse o procedimento cirúrgico, o que a desagradou profundamente.
“Minha primeira gravidez foi uma cesárea desnecessária, sem indicação médica para isso. Era uma gestante de risco habitual e durante toda minha gestão disse que gostaria de um parto normal, mas no final a obstetra me aterrorizou e acabei passando pelo procedimento. Foi algo muito traumático e difícil”, desabafou Fabiane.
Após cinco meses do nascimento da sua última filha, dentro daquilo que ela esperava, a arquiteta relembra os momentos decisivos do parto domiciliar, que desde o rompimento da bolsa até o primeiro contato com a criança demorou mais de 24 horas.
Além de uma equipe especializada e preparada, Fabiane contava com o apoio primordial de seu marido e de sua mãe.
“Durante o trabalho de parto te bate o medo, pois realmente você perde o vínculo com a realidade, mas no momento em que nasce é fantástico, uma emoção inexplicável. Após o nascimento, minha filha, sozinha, já procurou o meu peito para se alimentar. Filhos de parto normal nascem com muita vitalidade”, contou a mãe do Henrique, de dois anos, e de Laura, de cinco meses.
Assim como Fabiane, outras mulheres acabam por decidir pelo parto humanizado, que pode ser realizado tanto nos hospitais quanto em suas próprias casas. Essas mulheres buscam o parto com menos intervenções médicas, que em muitos casos acabam se tornando traumáticos.
A humanização do parto é defendida e pautada em três bases: no protagonismo feminino, em poder decidir a forma em que deseja dar à luz; na crença da própria fisiologia do parto como algo natural, até mesmo divino; e por fim, no comprometimento dos profissionais de saúde que irão cuidar das gestantes, sempre embasados em estudos científicos sérios, de qualidade, que apontam qual a forma mais segura e resolutiva de cuidar das mulheres durante a gestação e o parto.
Nota-se que a atenção ao parto no Brasil passa por mudanças. Em Cuiabá, a mobilização em torno de partos humanizados gerou a criação do “Liora – Parto em Casa”, idealizado e comandado pelas enfermeiras obstetras Laura Padilha e Mayrene Dias.
As duas abriram um consultório especializado em atender, principalmente, a gestantes que escolhem dar à luz em suas casas, uma atuação que ainda precisa quebrar paradigmas.
O parto domiciliar planejado, realizado pelo Liora, se inicia com um acompanhamento pré-natal de qualidade, avaliando o bem-estar da mãe e do bebê e identificando riscos. Durante a gestação, a mulher é acompanhada por seu médico obstetra e por sua parteira (enfermeira obstetra), configurando, assim, um pré-natal compartilhado, completo e resolutivo.
No decorrer dessa fase de preparação a gestante é monitorada e, se estiver saudável, assim como seu bebê, poderá realizar seu parto em casa. Nos casos de alto risco, as gestantes são orientadas a fazer o procedimento cirúrgico.
Além da avaliação da saúde, a equipe escuta atentamente as necessidades do casal, com a elaboração de um plano de parto e de transferência, de modo que assegure uma possível locomoção da casa até o hospital de forma segura.
No trabalho de parto, a parteira leva todos os materiais que são necessários para o acompanhamento do parto e para resoluções de urgências e emergências, como reanimação neonatal e manejo de hemorragia pós-parto.
Após o nascimento são realizados os cuidados com a mulher e o recém-nascido, e os mesmos são acompanhados até o 10º dia de vida.
“A segurança do parto domiciliar é a garantia de um backup, em que uma unidade de saúde e o médico que acompanhou a gestação ficam de sobreaviso, para que atendam qualquer eventualidade que pode acontecer”, explicou Laura Padilha.
Pela sensação de segurança, por questões culturais e até mesmo pela exigência de cuidados redobrados no parto, em casos de gestações com maiores riscos dos que os habituais, muitas mulheres escolhem os hospitais para terem os seus filhos, o que também pode ser feito de forma humanizada e natural.
Neste caso, a gestante é acompanhada por enfermeiras chamadas de doulas, que auxiliam o parto. Assim, o acompanhamento do parto hospitalar se inicia em casa, com a enfermeira monitorando o bebê e a mãe.
No hospital, os médicos, acompanhados pelas doulas, realizam o parto até mesmo nos quartos, fugindo dos centros cirúrgicos, que em certos casos causam bastante desconforto e intranquilidade.