Opinião

MULHERES DE GALEANO

A Revista Select Fev/Mar de 2016, um presente de Rosana Lia Ravache, tem o feminismo como discussão central. Dentre os artigos, que caminham por várias áreas do conhecimento, destaco “Pioneiras”. Trata-se de “Mulheres”, livro do saudoso escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) que homenageia artistas, cientistas, índias, guerrilheiras, prostitutas, santas e ativistas, sejam elas anônimas ou célebres. Galeano também escreveu “Veias Abertas da América Latina”, em 1971, livro que esteve sobre mesas de cabeceira de muitas pessoas idealistas que pretendiam fazer valer, a qualquer custo, a liberdade. 

Charlotte Perkins Gilman, Rigoberta Menchú, Nillie Bly, Fátima Mernissi, Frida Khalo, Isadora Duncan, Jacinta de Siqueira, Hedda Sterne, Janet Sheed Roberts, Eva, Tereza de Benguela, Xica da Silva, Manuela Saénz, Violeta Parra e tantas outras são as “Mulheres” de Galeano. Mulheres da América Latina e de lugares que, de uma forma ou de outra, ligam-se a ela. Os textos, selecinados por Galeano, acham-se em Memória do fogo, Livro dos abraços, As palavras andantes, Vagamundo, Dias e Noites de amor e guerra.

Tereza de Benguela, à frente do Quilombo do Piolho ou do Quariterê, após a morte de José Piolho, seu marido, tornou-se rainha. Mulher dos anos setecentos, “conhecida” por muitos desta terra, liderou o quilombo formado por índios e negros fugidos das minas auríferas de Vila Bela da Santíssima Trindade que resistiram à violência da escravidão. Quilombo que, depois da morte da rainha e de sua destruição, virou aldeia Carlota, encravada em território Nambiquara. Teresa, a rainha dos quilombolas de Vila Bela, ganhou dos cariocas versos da Escola de Samba Unidos do Viradouro e, ainda, um dia só para ela no calendário de efemérides. 

Nos passos do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), em tempos “de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar”. Teresa, uma das “Mulheres” de Galeano, nos inspira a sermos “lo que hacemos y sobre todo, lo que hacemos para cambier lo que somos”.

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

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