Quando saiu do trabalho, na segunda (11), a empregada doméstica Conceição Aparecida Barão, de 51 anos, decidiu passar pelo Centro de Cuiabá, onde buscaria o celular que estava no conserto e aproveitaria para dar uma volta nas lojas. Conceição, que é negra, diz que acabou tendo a bolsa revistada na Loja Riachuelo, da Avenida Getúlio Vargas.
Ela conta que foi acusada injustamente de furtar um perfume. O funcionário que a acusou viu quando ela guardou o celular, que é prata, na bolsa, e concluiu que ela estivesse furtando um perfume.
“Experimentei duas peças, mas não ficaram legais. Continuei andando. Fui ao setor de cosméticos e pensei em comprar um batom. Me dei conta que a loja já estava fechando, não daria tempo de escolher a cor com calma. Fui até a sessão de toalhas e estava escolhendo duas para comprar”.
Enquanto escolhia as cores das toalhas que compraria, a empregada doméstica diz ter sido abordada por uma funcionária da loja.
A mulher se aproximou e perguntou se ela “levaria o que tinha pegado”.
Conceição contou que mal conseguiu responder e a funcionária afirmou que estava se referindo ao que ela “havia colocado na bolsa”.
“Falei: Como assim? Não coloquei nada na minha bolsa. Você quer revistar?’ Abri e ela olhou. Falou que outro rapaz tinha dito que me viu colocando um objeto prateado na bolsa. Mas não era um perfume, era o meu celular”.
Muito nervosa e “tremendo de vergonha”, Conceição decidiu tirar satisfação com o funcionário que pediu para que a mulher fosse falar com ela.
“Havia clientes e funcionários vendo tudo aquilo. Fui até ele e perguntei o que ele tinha me visto colocar na bolsa. Abri minha bolsa de novo e falei para ele olhar”.
O funcionário respondeu apenas que era a “opinião dele”.
A doméstica reforçou ainda que, durante toda a abordagem, o homem foi “muito arrogante”.
“Falei para ele: ‘Você viu que não tem nada?’ E ele disse: ‘É só a minha opinião’. Falei que ele não agiu de um jeito legal comigo e ele respondeu a mesma coisa. Fiquei tão desesperada, com tanta vergonha… Me senti humilhada. Passei mal quando fui embora da loja”.
Quando chegou em casa, Conceição diz que continuou se sentindo envergonhada pela situação e não conseguiu dormir durante a noite.
Ela, então, foi encorajada a registrar um boletim de ocorrência na Polícia.
“Fiquei pensando na razão de estar com tanta vergonha, já que não tinha feito nada de errado. Cheguei no trabalho no dia seguinte e me disseram para não ‘deixar por isso mesmo’”.
Desculpas
No dia seguinte, Conceição retornou à Riachuelo para tentar falar com o gerente, que pediu desculpas “em nome da loja”.
“Relatei toda a história, a gerente me pediu desculpa em nome da loja. Disse que até aceitava, mas procuraria meus direitos, porque não é assim que se trata as pessoas. Ninguém merece ser acusado de roubo injustamente. Foi muito ruim tudo que passei”.
Ela explicou que decidiu denunciar o caso para que, no futuro, os netos e bisnetos dela não sejam vítimas de preconceito racial.
Conceição contou que acha difícil alguém conhecer uma pessoa negra que não tenha sido vítima de racismo, ainda que velado.
“A gente sente olhares, indiretas, alguém te observando de maneira estranha dentro de uma loja, isso acontece muito. Mas alguém chegar assim diretamente, nunca tinha acontecido. Foi chocante”.