O corpo de Luiz Carlos D'Ugo Miele era velado desde às 7h30 desta quinta-feira (15) na Câmara Municipal do Rio, no Centro. O produtor musical, ator e diretor morreu na quarta-feira (14), em casa.
Às 5h50, o carro da funerária chegou à Câmara Municipal com o corpo para ser velado. O enterro está marcado para as 16h no Cemitério do Caju, na Zona Portuária.
Uma das primeiras a chegar ao velório foi a dançarina Aline Riscado. A ex-bailarina do Faustão, que participou do quadro "Dança dos Famosos" com Miele, chegou cedo para prestar sua última homenagem.
"Eu conheci o Miele no 'Dança dos Famosos'. A gente conviveu pouco tempo, mas eu pude conhecer um lado incrível dele. Ele desabafava sobre as dificuldades dele e eu falava com ele sobre a minha vida", disse a dançarina.
"Foi uma experiência muito boa para ambos, inclusive, quando eu saí do Faustão, ele disse que ia me ajudar e que sempre torceu por mim. Há dois meses ele me deu um porta retrato de presente, que foi o que eu postei nas redes sociais e fiz a homenagem. Era um carinho que a gente trocava. Eu recebi mensagem de um monte de gente sobre a morte dele e não acreditei. Ele era muito alegre e tinha muita vontade de viver. A gente nunca imagina que isso vai acontecer assim de repente", disse Aline.
A irmã de Luiz Carlos Miele, Eliane Miele, chegou muito emocionada ao velório por volta de 7h45, mas não quis falar com a imprensa. A esposa de Luiz Carlos Miele, Anita, chegou ao velório e estava muito emocionada. Ela ficou a todo momento do lado do marido para prestar uma última homenagem.
O ator e escritor Osmar Prado também foi um dos primeiros a chegar à Câmara Municipal. Ele chegou acompanhado de sua esposa por volta das 8h. Prado afirmou que a arte ficou mais pobre de grandes artistas.
"Eu acho que a morte do Miele é a morte dos abençoados. Eu saio daqui vendo muito do sorriso do Miele. O seu humor fino, a sua classe como artista e o sorriso de Elis Regina, de quem ele foi parceiro, eles se apresentaram juntos. O que eu lamento é que a gente fica mais pobre de grandes artistas", lamentou Osmar Prado.
A atriz Mariana Ximenes também esteve presente no velório de Miele. Fãs, amigos e familiares chegavam a todo momento para se despedir. "Ele era uma pessoa com muito senso de humor e tinha um gosto pela vida. O Miele era muito especial", disse a atriz.
O ator Lúcio Mauro Filho, que vai viver Miele no filme 'Elis', também estava emocionado. "Ele [Miele] participava de todos os processos da área cultural e por isso é uma perda pra cultura nacional. Acima de tudo pelo artista que ele era e pelos artistas que ele lançou e ajudou a tornar rei e rainha, como Roberto Carlos e Elis. Faz duas semanas que eu estive com ele, pois eu interpreto ele no filme 'Elis'. O miele era amigo do meu pai e a vida me proporciou esse encontro com ele. Eu tive a oportunidade de escutar as melhores e piores historias de Miele. Ele ia participar do meu show de bossa nova. Tem uma cena que a gente canta 'over the Rainbow' e jamais poderíamos imaginar que ele estaria 'over the Rainbow' neste fim de semana", disse o ator.
Christiane de Magalhães tinha o produtor Luiz Carlos Miele como um padrinho. Sua mãe, Elza de Magalhães trabalhou na casa dele, mas morreu de câncer há 25 anos. Segundo Christiane, Miele pagava todos os remédios, arcou com as despesas para o enterro e, mesmo após a morte da mãe, ele sempre esteve presente e a ajudou.
"Eu espero que ele seja um exemplo para muitas pessoas. Ele era uma pessoa muito boa. Eu vim até aqui para agradecer. Ele era uma pessoa muito humana. Pra mim, fica a lembrança do tricolor e geminiano humorista, alegre. Ele também me ajudou muito quando eu precisei. Sou muito grata ao Miele", disse Christiane.
A atriz Fernanda Torres também esteve presente no velório para se despedir do ator. Ela cumprimentou a esposa de Miele, Anita, e prestou sua homenagem.
Mal súbito
Miele morreu em sua casa, em São Conrado, Zona Sul do Rio, na manhã desta quarta-feira (14), após sofrer um mal súbito. Seu corpo foi encontrado pela esposa, Anita, caído no chão.
Segundo Vania Barbosa, empresária e amiga de Miele e da família, os bombeiros constataram a morte ao chegarem na casa do artista.
“Aparentemente ele não tinha problema de saúde, dor no peito ou algo assim. Mas, ultimamente, nos três últimos meses, ele estava querendo fazer tudo ao mesmo tempo: lançar CD, livros, fazer shows. Não sei mais quanto tempo eu vou estar aí", disse Vania ao G1.
Ela também comentou que Miele teria dito que não sabia quanto tempo ele tinha de vida. "Ultimamente ele comentava que queria fazer tudo ao mesmo tempo. Ele fez o lançamento do livro, queria fazer um CD. Estava nessa gana de trabalho. Ele dizia 'eu não sei quanto tempo mais de vida eu tenho então quero fazer tudo ao mesmo tempo'", disse Vânia Barbosa.
'Showman', definem amigos
Muito amigo de Miele, o cartunista Ziraldo também foi à casa da família prestar solidariedade.
"Ele acabou virando esse showman fantástico, sofisticado (…) Nesses últimos meses, fizemos uma dupla", disse.
O produtor Ronaldo Câmara ressaltou o talento do amigo. "Era um showman. Se tivesse nascido em Nova York, era bilionário, era o dono da Browdway. Ninguem dançava e cantava como ele", declarou.
A atriz Rosamaria Murtinho disse que o contato pessoal com o ator sempre lhe rendia aprendizado. " Toda vez que eu encontrava com Miele eu sempre guardei uma coisa dele. Sempre tem uma coisa que ele diz, tem uma coisa engraçada. Tem uma coisa para anotar, tem uma coisa que você não sabia e você passa a saber", afirmou.
Trajetória
Nascido em 1938 em São Paulo, o artista, que começou a carreira como locutor de rádio, foi responsável por produzir shows de diversos cantores famosos.
Ele se mudou para o Rio em 1959, onde trabalhou na TV Continental como diretor de estúdio.
Da amizade com Ronaldo Bôscoli, um dos principais nomes da Bossa Nova, passou a produzir shows no Beco das Garrafas — reduto que reuniu Sérgio Mendes, Elis Regina e Wilson Simonal. Com Bôscoli, foi dono da boate Monsieur Pujol, por onde passaram artistas como Ivan Lins, Stevie Wonder e Marcel Marceau.
Contratados pela Globo, Miele e Bôscoli produziram os programas "Alô, Dolly", "Dick & Betty" e "Um Cantor por Dez Milhões, Dez Milhões por uma canção".
Na década de 1970, atuou como humorista em programas como "Faça Humor, Não Faça Guerra" e "Planeta dos Homens".
"Miele é uma das figuras mais importantes do entretenimento brasileiro. Foi um cara que ajudou a desenvolver a linha de shows, sobretudo da TV Globo. Foi o homem que dirigiu o Roberto Carlos a vida inteira", disse João Marcelo Bôscoli, filho de seu maior parceiro.
"Miele teve uma vida bem intensa, cheia de experiências. É uma figura emblemática do entretenimento pela relação que teve com vários artistas. [Foi] uma pessoa de excelente bom humor. Foi uma experiência mágica poder vê-lo em ação", afirmou.
Nos meados de 2000, Miele retomou a carreira na televisão. No seriado "Mandrake", viveu o advogado Wexler.
Na Rede Globo, em 2008, participou de "Casos & Acasos" e "Tapas e Beijos". Na novela "Geração Brasil", interpretou o milionário Jack Parker. Sua última participação foi no programa "Tomara que Caia", em setembro.
Fonte: G1