O protesto “Contra a Direita, por Mais Direitos”, realizado nesta quarta-feira por centrais sindicais e movimentos sociais em São Paulo, teve como foco críticas ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e ao projeto de lei (PL) 4330, que regulamenta a terceirização e está em discussão na Casa. O ato também buscou fazer oposição aos protestos contra o governo de Dilma Rousseff (PT), realizados nos dias 15 de março e 12 de abril, sem deixar de fazer críticas à presidente.
“A Dilma foi eleita em outubro do ano passado não foi parar fazer ajuste fiscal”, disse Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). “E não foi para fazer política antipopular, MP contra seguro-desemprego e contra as pensões dos trabalhadores. Nós não vamos aceitar nenhum ataque aos direitos dos trabalhadores e dos mais pobres, venha de onde venha. Venha do Congresso, venha da elite, venha do governo federal ou dos governos estaduais. Nós estamos aqui para combater todos os ataques”, continuou Boulos, que também pediu o lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida 3.
As declarações foram dadas pelo líder do MTST em discurso antes do início da marcha, que saiu do Largo da Batata, na zona oeste da capital, passou pela Rua Oscar Freire, no bairro nobre dos Jardins, e terminou na avenida Paulista, em frente à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). De acordo com a organização, mais de 30 mil pessoas foram às ruas; já a Polícia Militar fala em 2.500.
Ao anunciar que o ato passaria pela Oscar Freire, Boulos fez referência indireta a um caso de racismo ocorrido recentemente na loja da grife Animale , na mesma rua, e disse que a “elite de São Paulo” é “conservadora, fascista e preconceituosa”. O líder do MTST também aproveitou para criticar o ódio dos manifestantes contrários ao governo, que chegam a ameaçar pessoas vestidas de vermelho.
“Nós vamos passar pelo ninho deles lá nos Jardins para dar o recado, e o nosso recado vai ser curto e grosso: a rua é do povo. Ninguém vai impedir nenhum de nós de sair de vermelho e se manifestar de vermelho. Se eles expulsam quem está de vermelho dos atos deles, hoje vão ter que ver das janelas, lá nos Jardins, a marcha vermelha passando”, afirmou.
A passeata foi realizada debaixo de forte chuva do começo ao fim. Na Oscar Freire, os lojistas baixaram as portas durante a passagem dos manifestantes, mas não foi registrado qualquer incidente no local.
Para as organizações de esquerda, as manifestações contra Dilma são convocadas pela “direita” e representam o retrocesso. “Não podemos deixar essa direita cínica crescer às custas do descontentamento legítimo do povo contra o governo. A direita cresce porque o governo não oferece respostas à classe trabalhadora”, disse Luciana Genro (PSOL), candidata derrotada à presidência nas eleições de 2014. Segundo ela, a esquerda precisa se unir para enfrentar o avanço das pautas conservadoras. “Precisamos unificar as lutas, unificar os movimentos, construir um campo de esquerda para dizer não à direita, por mais direitos”, disse Luciana.
Eduardo Cunha
O discurso mais duro contra o presidente da Câmara foi feito por Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). “Eduardo Cunha, aprenda, você não manda no Brasil”, disse Freitas no início do ato. “O 4330 não é para terceirizar, é para demitir os trabalhadores, acabar com a CLT (consolidação das leis do trabalho), acabar com as férias, com o 13 salário; E nós vamos fazer uma greve nacional para impedir que se aprove o 4330”, continuou Freitas.
Guilherme Boulos, por sua vez, disse que Cunha promoveu “o maior ataque aos direitos trabalhistas” ao colocar em pauta a votação do PL 4330 e criticou o fato de que, nas manifestações pelo impeachment de Dilma, ninguém peça a saída do presidente da Câmara de sua função.
No final de seu discurso, Boulos resumiu a pauta da manifestação e disse que a ideia era mandar três recados: o primeiro, para a “elite fascista”; o segundo, para o governo federal e, o terceiro, para a indústria. “Se o PL 4330 for aprovado no Senado, a presidente Dilma tem o dever de vetar. E vai ter que vetar. Por fim, o nosso terceiro recado vai ser no ninho do empresariado de São Paulo (Fiesp), para que eles que não cantem vitória antes da hora. O PL 4330 não vai passar, não vai ficar barato e nós vamos barrar esse ataque aos trabalhadores nem que seja na marra.”, encerrou.
Fonte: Terra