Procurada pela equipe de reportagem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que também irá investigar o caso.
Os promotores têm interceptações telefônicas que flagram Abdelmassih dizendo a um parente o apelido desse policial. Em uma delas, o ex-médico diz que o agente é "amigo" de um dos seus colaboradores financeiros, e ainda "trabalharia junto à Secretaria da Segurança Pública", na capital paulista. Não há confirmação, no entanto, se o funcionário público pertence à Polícia Civil ou é da Polícia Militar.
Na conversa por telefone, gravada com autorização judicial, Abdelmassih diz que o policial poderia ser procurado por seu grupo para vazar dados sigilosos das 15 denúncias que o Programa de Recompensas recebeu sobre possíveis paradeiros do ex-médico. O áudio não menciona dinheiro em troca das informações.
O grampo ainda mostra Abdelmassih pedindo para o familiar acionar seu grupo de colaboradores para procurar o policial e confirmar com ele os locais das denúncias. Desse modo, acreditava ser possível saber se alguma delas indicava o ponto exato onde o ex-médico estava. A escuta não mostra se os informantes encontraram o agente e se ele passou os dados.
Abdelmassih se diz "abatido", na interceptação, e demonstra preocupação se alguma das denúncias feitas pudesse revelar seu esconderijo. O ex-médico comenta, por exemplo, sobre a possbilidade de a Polícia Federal (PF) estar envolvida nas buscas a ele.
Grampo
A gravação ocorreu duas semanas antes de Abdelmassih, de 70 anos, ser preso neste mês em Assunção. Na capital paraguaia, ele usava o nome falso de Ricardo Galeano e morava numa casa alugada de alto padrão com a mulher, a ex-procuradora da República Larissa Sacco, de 37, e os filhos gêmeos do casal.
Indagado pela equipe de reportagem, o advogado Arles Gonçalves Jr, presidente da Comissão de Segurança da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo, afirmou que se for comprovado que um policial repassou para um procurado informações sigilosas de denúncias do paradeiro dele, o agente será responsabilizado criminalmente.
“O policial poderá responder por crimes, por exemplo, como favorecimento a fuga de criminoso, obstrução da Justiça, formação de quadrilha, quebra de sigilo”, afirmou Gonçalves Jr. "Ou corrupção, se ele recebeu dinheiro por isso".
Se ficar demonstrado que Abdelmassih e sua rede de informantes tentaram cooptar agente público, eles também poderão responder por crimes. “Poderiam entrar como favorecimento pessoal e formação de quadrilha”, disse o advogado.
Defesa
A equipe de reportagem não localizou a defesa do ex-médico para falar sobre o assunto. Condenado por estuprar e abusar sexualmente 37 ex-pacientes, Abdelmassih cumpre pena na Penitenciária de Tremembé, no interior paulista.
O ex-médico sempre negou as acusações de que violentou mulheres na clínica de fertilização que tinha na capital paulista. Em sua defesa, alegava que apenas beijava as pacientes no rosto e que elas estavam tendo alucinações por conta da sedação.
G1