Segue uma pequena retrospectiva dos presidentes do Brasil e seus temas de campanha desde a década de 1960.
Comecemos com o Juscelino Kubitschek que ficou célebre pela construção de Brasília. Sua mensagem era de acelerar o ritmo do progresso. Com esta retórica convenceu o eleitorado que o elegeu com folgada maioria.
Foi em período de grande aumento da inflação e com muitas acusações de corrupção, principalmente na construção da Capital Federal.
Essa corrupção inspirou seu sucessor, que fez sucesso distribuindo um pequeno broche de uma vassourinha estilizada. A mensagem era que ela varreria a baderna, que diziam existir na máquina pública. Foi eleito, não varreu nada e acabou pedindo a conta, entregando o País à ditadura que durou 20 anos.
Em seguida, surgiu Tancredo Neves prometendo a redemocratização do Brasil, sendo eleito pelo Congresso Nacional. Morto antes da posse, foi substituído por José Sarney.
Nesse período a inflação desembestou, chegando a absurdos 82% em um só mês.
Dentro deste caos, surgiu outro milagreiro que prometia colocar a economia no lugar com um só golpe. Identificando que havia na época um antagonismo da população contra o funcionalismo público, chamados então de marajás, garantiu que os eliminaria da vida pública. Foi cassado pelo Congresso.
Para completar o mandato foi empossado Itamar Franco. Este, juntamente com Fernando Henrique, seu ministro da fazenda, lançou o Plano Real, que por fim venceria a inflação.
Daí veio o Lula. Prometendo acabar com a fome, governou por oito anos e nos deixou de herança a Dilma Rousseff, por fim defenestrada pelo Congresso.
Chegamos ao Bolsonaro. Ele identificou que a corrupção do governo do PT, escancarada pela operação Lava-Jato, era o principal trauma da população e montado nesse cavalo conseguiu se eleger.
Fica claro que cada um – do Juscelino ao Lula – identificou o “Zeitgeist” ou “espírito do tempo” – e tratou de oferecer ao povo a fantasia da realização de suas principais demandas. Pelo menos é o que diziam seus motes de campanha: para a estagnação, Juscelino prometeu “cinquenta anos em cinco”; Jânio eliminaria a corrupção instalada no governo do Juscelino com o lema “varre, varre, vassourinha”.
Collor “o caçador de Marajás” dizia que ele e somente ele tinha o poder liquidar a inflação com um Ippon (golpe que encerra uma luta no Judô). Na sequência, Fernando Henrique, que como ministro do Itamar, ajudou na criação e lançamento do Plano Real, criou o lema “É real, é FHC”. Ficou oito anos no poder. Findo este mandato, apareceu o Lula com o slogan “A esperança venceu o medo”.
O último dos grandes motes de campanha “Pátria acima de tudo, Deus acima de todos” do Bolsonaro, explorava o patriotismo e a religiosidade do povo brasileiro.
Seria reducionismo atribuir ao “Zeitgeist” e à criatividade dos motes de campanha a eleição de tanta gente incompetente para nos governar?
Para 2026 já temos um Influencer (Pablo Marçal) e um cantor (Gusttavo Lima). Precisa de mais alguma qualidade para presidir o Brasil? É o “Espírito do Tempo”.
Renato de Paiva Pereira
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