Até um tempo atrás o termo alma designava apenas os espíritos encarnados e espíritos os seres desencarnados, uso então muito bem embasado, por sinal, pois alma é na verdade anima, algo que tem vida material, é animado. O uso correto ou incorreto não promove confusões, pois todos sabem muito bem que a carne não define a existência de um ser, afinal de contas, existe vida após a carne, ou após a morte… Vida é um termo que precisa ser interpretado de acordo com as crenças pessoais de cada um; nesse ponto sempre gosto de lembrar a profundidade de Teresa de Lisieux afirmando “… não morro, entro na vida…”, uma síntese da verdade que, depois de criados, a morte jamais nos afetará no sentido direto da palavra, o que nos afeta de fato são as necessidades de novos tempos, novos ciclos, o que só é possível quando temos a visita, um vislumbre, da irmã morte que, repito, não representa o fim, mas sim o começo de algo.
Para transitar entre mundos é necessário habitarmos veículos que permitem esse trânsito e o habitar desses veículos só nos é possível pela presença da irmã morte. Quem inicialmente chamou a morte de irmã foi o grande Francisco de Assis; ele, como poucos, compreendeu o sentido da vida e da natureza ao seu redor, bem como a necessidade real da existência daquilo que chamamos de mal, mas que na verdade é um bem que só conseguimos assim enxergar a partir do momento em que alteramos o ponto de observação.
O momento da morte ou da celebração dela não deve estar carregado de tristeza e temor; o sentimento que melhor combina com ela é a reflexão. Apenas através do silêncio e do pensamento é que conseguimos olhar para ela e alcançar, mesmo que em parte, a grandeza de sua existência e a necessidade de sua presença no momento correto de nossa caminhada. A morte não é o fim, ela é o recomeço; Cristo nos mostrou isso claramente através do mistério da ressureição. Há quem diga que a ressureição mostrou também que não existe reencarnação, na verdade não; só reencarna quem tem Karma, e Cristo, por ser quem é, naturalmente não tem Karma, assim não teria o que resgatar, concertar, evoluir ou melhorar. Nesse quadro a reencarnação não tem lugar, mas sim o nascimento para a eternidade que é aquilo que todos desejamos e conquistaremos um dia.
Creia e evolua; viva com intensidade o hoje, não por receio da morte, mas sim pelo desejo da vida. Saravá!