Opinião

MORRO DO PAXIXI

Ainda falta falar de algumas coisas do meu belo Mato Grosso, o do Sul. Então, vou começar pelo princípio.

A partida foi promissora. Subindo, num final de tarde, o Morro do Paxixi, na ponta da serra de Maracaju. Tração nas quatro rodas, o sol desenhando as margens da estradinha de chão…

Os “ais” e “uis” nas curvas da estradinha sinuosa de Rosely, sogra do Carlão, o Dr. Carlos Nunez, promotor da expedição que tomou o rumo de Camisão, distrito de Aquidauana, eram justificados.  Imagine algo do tipo a borda da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, com acesso beeem precário. Antes da subidona, uma bifurcação, um ou outro boteco, algumas casas e chácaras. Quanto mais alto, mais espaço. As grandes fazendas no topo do platô, invisível para quem olha lá de baixo.

Para não dizer que foi tudo perfeito, subimos tarde! Nessa época do ano o dia acaba cedo e o sol baixa rapidamente… A sombrinha de agora virava rapidamente  a luz insuficiente e muito baixa, diminuindo a diversidade de bons registros.

O Paxixi é o tipo de lugar quase inesgotável quando se pensa em sombra, luz e drama. Mesmo parado em um único local as possibilidades são infindáveis em tentativas de registro em horas variadas do dia e com as variações da posição do sol ao longo do ano. Mudam as cores, os tons e a incidência de luz. Uma festa!

A subida quase foi mal sucedida. Lá pelas alturas encontramos a picada fechada por um trator e caminhões. Era um mutirão de alguns proprietários para recuperar o traçado castigado pelas chuvas, provocando crateras, muita erosão e invadido pela vegetação exuberante nas laterais.

A necessidade de aplainar e limpar a rota se baseava também na impossibilidade de saber, numa manobra para evitar maiores danos aos amortecedores castigados pela buraqueira, se o mato escondia um trecho transitável ou camuflava um despenhadeiro na franja da morraria. Se fosse necessário dar meia volta, teria que ser de ré até um lugar que permitisse a manobra de retorno.

Fomos salvos pela gentileza dos peões e motoristas que retrocederam morro acima as máquinas para nos permitir prosseguir na aventura.

Mais um tempinho perdido e o sol baixando em meio a uma leve bruma que começava emoldurar as áreas mais baixas. Passamos pelo leito seco de pedras de um riacho e, firmando a marcha ladeira acima, fomos passando por porteiras até que o topo do maciço se descortinasse a perder de vista iluminado pelo sol da tarde.

Na direção das antenas receptoras, avistadas da estrada que liga Campo Grande a Aquidauana, encontramos topógrafos e engenheiros, próximos das áreas cercadas e cadeadas dos equipamentos.

O que poderia ser uma decepção pela ausência, provocada pela cerca de arrame, da vista do alto do platô acabou virando uma caçada fotográfica a seriema que resolveu passear perto do aramado.

Me senti em sintonia com o local e aa natureza, enquanto tentava, mansamente, me aproximar da musa inspiradora da música que ia usando como forma de diálogo, tentando fotografá-la: “Oh! Seriema de Mato Grosso, teu canto triste me faz lembrar, aqueles tempos que viajava, tenho saudades do seu cantar. Maracaju, Ponta Porã, quero voltar…”Registro feito, papo batido e era hora de descer a ladeira, antes que escurecesse de vez.

Por um momento, tolinha, achei que aquela tinha sido um sinal de boas vindas para o que ainda veria de natureza na viagem pelo Mato Grosso do Sul.

Ledo engano. Foi, sim, um presente de despedida. A partir desse dia, o tempo virou de um jeito! Tudo cinza, chuva e frio. Tive que desfazer meus planos, agradecer a boa sorte dos registros feitos e viajar num outro sentido: o literário, como você já sabe pelos outros textos dessa saga pantaneira.

Valéria del Cueto

About Author

Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

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