Não concordo com os adversários do Moro que o acusam de ter planejado o ingresso na política, usando a Lava-Jato para se projetar nacionalmente.
Eu creio que ele sonhava com uma carreira na justiça e tinha como objetivo alcançar uma vaga no STF. Deu errado porque confiou no Bolsonaro . A história do Presidente recomenda cautela, pois já jurou fidelidade quatro vezes – três em casamentos tradicionais e uma no matrimônio com o Valdemar Costa Neto, dono do PFL. Além disso passou por nove partidos durante a carreira parlamentar. Vê-se, pois, que não é muito constante nos amores, nem confiável na política.
Mas parece que o Moro ouviu o canto da Sereia e, crendo que o Ministério da Justiça lhe abriria o caminho para o Supremo, ignorou a cautela e aliou-se ao Bolsonaro. Traído pelo Presidente, optou pela política.
Incorporando a nova missão, o reservado ex-juiz botou um vistoso sorriso no rosto, passou a abraçar pessoas – ainda que meio desconfortável – e dar entrevistas a torto e a direito. Fez mais: recorreu a um fonoaudiólogo para amenizar o tom um pouco áspero da fala e disfarçar as frequentes oitavadas. Este esforço pode lhe garantir um emprego de locutor de FM, se não ganhar o cargo de presidente.
E pegou tanto gosto pelas palmas e paparicações que, segundo informa a imprensa, até sua esposa, Rosângela Moro – advogada e escritora – vai concorrer a deputada federal. Também o amigo e companheiro de Lava-Jato, Deltan Dallagnol, Já deixou o Ministério Público e vai buscar uma vaga no parlamento.
Tenho particular admiração pelo Moro e por sua coragem na punição dos políticos e empresários corruptos. Entretanto, acho que ele teve um pequeno erro – mas afinal quem não erra? Pareceu-me um pouco obcecado em punir o Lula e sua turma.
O erro, que na verdade deveria ser considerada uma virtude, foi julgar com rapidez os crimes das autoridades e dos grandes empresários, que saqueavam a nação. Mas, alguns inimigos malandramente viram nessa agilidade, um justiçamento, que de fato não existia. É bom lembrar que esses julgamentos foram submetidos a instâncias superiores e confirmados totalmente.
Mas, tal qual a Mãos Limpas da Itália que foi desfigurada pelos políticos locais, aqui quando a Lava-Jato começou a chegar perto dos políticos e familiares, ameaçando-os com prisão, uniram-se o Presidente, deputados, senadores e o STF e a liquidaram.
Claro que de todos os candidatos que até agora apresentam alguma viabilidade nas pesquisas para 2022 (Lula, Bolsonaro, Moro e Ciro) eu escolheria o ex-juiz, sem a menor dúvida, embora não veja nele o perfil ideal para Presidente.
Contudo, se ele for eleito para presidente será uma escolha serena, diferente das opções apaixonadas por Lula e Bolsonaro. Qualquer destes dois que ganhar, manterá o clima de guerra e ódio recíproco que existe no País.
O Moro teria a oportunidade de reinstalar a harmonia que o petismo e o bolsonarismo baniram do meio social. Os vaidosos “mitos” chefes desses grupos, convenceram seus eleitores de que a virtude está no confronto não na cooperação. Parece que eles não sabem que a civilização só foi possível quando as tribos compreenderam que era melhor cooperar do que guerrear.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor