Lavar roupa, tomar banho, limpar a casa e preparar comida: atividades corriqueiras para muitos cuiabanos, para outros se tornaram um drama. O desempregado Bartolo de Souza Pereira e sua família estão economizando até na roupa para evitar ter de lavá-las. “Tô usando roupa suja mesmo. Se gasta o pouco de água para isso, pode fazer falta para usar para tomar banho ou para fazer comida”, explica. Mesmo após 11 meses da concessão em Cuiabá, o serviço, ao invés de melhorar, tem piorado com os constantes desabastecimentos na cidade.
Morador da Rua 23 do bairro Jardim Vitória, Bartolo Pereira diz que a irregularidade no abastecimento é comum depois da concessão do serviço de água e esgoto para a CAB Ambiental. “Antes a gente passava três dias sem água, agora até perde a conta”, reclama.
Apesar de ter solicitado um caminhão-pipa para 1,5 mil litros, a concessionária encaminhou apenas mil litros. A caixa d’água está em menos da metade e já começa a preocupar o morador que pretende ir até a empresa para novamente cobrar o abastecimento.
Uma das lideranças do bairro, Benedito Arcanjo de Faria, 58 anos, disse que nos 25 anos em que mora no bairro a situação está cada vez mais crítica. O filho dele, morador da Rua 25, está há quase 40 dias sem água tratada e, como alternativa, tem lavado a roupa dele em casas de parentes. “Na minha casa, a água quase nunca subia na caixa de cima e usamos uma bomba, só que agora nem na caixa de baixo está chegando”, comenta Benedito que reside na Rua 2.
Alguns moradores, sem paciência de esperar a chegada de caminhões-pipa da CAB, tomam a iniciativa de comprar água por conta própria, embora as contas estejam em dia. “É o cúmulo do absurdo você fazer a sua parte e pagar por um serviço que você nem sequer recebe em casa”, reclamou João Figueiredo, também morador do Jardim Vitória.
A Câmara de Vereadores de Cuiabá resolveu discutir o problema da falta de água com a população por meio de audiências públicas e avaliar se os cuiabanos apoiam o rompimento do contrato entre a Prefeitura e a CAB Ambiental. Na terceira audiência pública para avaliar o desempenho da CAB Ambiental em Cuiabá, realizada no dia 13 de março, cerca de 500 moradores do bairro Jardim Vitória participaram das discussões no centro comunitário do bairro.
Conforme o vereador Toninho de Souza (PSB), que encabeça o movimento pedindo a quebra de contrato da Prefeitura de Cuiabá com a concessionária, a população reclamou, além da falta de água, da ausência de rede de esgoto e das contas abusivas. “Mais do que revoltados com a água que não chega às casas, com o abastecimento irregular durante um, dois, ou três dias, eles se revoltam é a conta cara. Tem gente que pagava R$40 e a tarifa passou para R$250”, explicou.
Ele disse que tanto na audiência pública realizada no Jardim Vitória quanto nos bairros Jardim Fortaleza e Bela Vista, o vereador percebeu que a população não está preocupada se a concessão está nas mãos da CAB Ambiental, da Sanecap ou de outra empresa privada, mas com a qualidade do serviço prestado, se a água vai faltar ou não em casa. “A população quer água na torneira e uma conta mais acessível”.
A última audiência pública será na Câmara Municipal no próximo dia 27. Desta vez, deve reunir a direção da CAB Ambiental, o Ministério Público Estadual (MPE), a Prefeitura de Cuiabá, a Agência Municipal de Água e Esgotamento Sanitário (Amaes) e representantes da sociedade organizada.
CAB deve regularizar situação no segundo semestre
Conforme informou a assessoria de imprensa da CAB Ambiental, o Jardim Vitória tem um histórico de abastecimento intermitente e baixa pressão na rede para atender às áreas mais altas. O fornecimento de água é alternado e o bairro recebe água da ETA Ribeirão do Lipa, que passa por reforma de um dos conjuntos de filtros.
O bairro será contemplado, a partir do segundo semestre deste ano, com o programa de padronização que está em curso na região dos bairros Nova Esperança (1, 2 e 3) e Pascoal Ramos. O programa de padronização – que insere o consumidor na base e lhe dá condições técnicas ideais de consumo – começou em junho do ano passado.
A primeira grande região (do Pedra 90) já foi concluída. Só lá, 7,4 mil famílias foram regularizadas e hoje recebem água de forma justa e com qualidade. A regularização das ligações de água é um dos passos fundamentais para que a concessionária possa universalizar o fornecimento de água na cidade. A padronização promove o equilíbrio do abastecimento à medida que ligações irregulares ou clandestinas são eliminadas, tornando o sistema mais eficiente e reduzindo as intermitências.
Por Débora Siqueira
Fotos: Diego Frederici