Moradores protestaram na tarde desta quinta-feira (24) no Cemitério do Caju, durante o velório e enterro do corpo de Herinaldo Vinícius de Santana, 11 anos. Ele foi morto com um tiro na cabeça também no Caju, Zona Norte do Rio, após sair de casa para, segundo vizinhos, comprar uma bola de pingue pongue. Cerca de 100 pessoas estavam no cemitério às 15h40 desta quinta.
Após o enterro, os moradores em protesto fecharam uma via da Linha Vermelha no sentiro Baixada Fluminense. O grupo ateou fogo nos tapumes laterais da via.
No cemitério, moradores exibiram cartazes pedindo a saída da UPP da região e responsabilizando agentes da unidade pela morte do menino. Moradores disseram que não houve tiroteio e apenas um tiro teria sido disparado: o que matou o menino.
"Estamos cansadas de criar nossos filhos para morrer", disse uma moradora.
O corpo chegou ao local e começou a ser velado por volta das 15h55. O policiamento estava reforçado na porta do cemitério.
Pessoas próximas da família do menino doaram dinheiro para ajudar os parentes. Como mostrou o RJTV, a mãe do menino é empregada doméstica, tem outros três filhos e não teria condições de pagar o funeral. Apesar das doações, o governo do Estado informou que vai arcar com o funeral e que uma equipe estava com a família na manhã desta quarta.
No final da tarde, o clima ficou tenso entre a polícia e os moradores da comunidade. Houve um confronto e os PMs usaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os moradores.
Alunos sem aula
Mais de 1.200 alunos ficaram sem aulas na região do Caju na manhã desta quinta. Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que 1.073 alunos de uma escola, duas creches e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) ficaram sem atendimento.
De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, outros135 alunos do Colégio Estadual Jornalista Maurício Azêdo também tiveram as aulas suspensas. A Secretaria ainda disse, que a direção da unidade tem autonomia para tomar providências no sentido de garantir a integridade física e moral de seus alunos, professores e funcionários.
As Pollícias Militar e Civil informaram que nenhuma operação estava sendo realizada na região na manhã desta quinta.
A Divisão de Homicídios (DH) informou que investiga a morte do menino. Os cinco policiais foram afastados e suas armas foram recolhidas. Moradores disseram que não havia confronto no momento em que o menino foi atingido. A UPP do Caju também confirmou que não havia operações na comunidade.
A Coordenadoria de Polícia Pacificadora determinou a abertura de um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias da morte de Herinaldo.
O corpo da criança segue no Instituto Médico Legal (IML), no Santo Cristo, na Zona Portuária. Atingido na cabeça, o menino foi socorrido por moradores e levado pra Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Maré, no Subúrbio. A coordenação da unidade disse que Herinaldo chegou por volta das 16h, mas não resistiu aos ferimentos e morreu 30 minutos depois.
Uma amiga da família contou por telefone, que não havia operação policial, nem ocorria confronto com bandidos no momento em que o garoto foi baleado.
“Estava tudo calmo, quando, de repente, ouvi o barulho de tiro. Aí, todo mundo começou a correr. Ele estava com os amigos dele. Aqui na frente, tem uma mesinha de pingue-pongue. Ele estava com R$ 0,80 na mão e ele foi correr. Quando ele foi correr, os policiais estavam vasculhando as coisas. Quando ele correu, ele passou em frente a um beco. Então, os policiais se assustaram. Aí, correram atrás dele. E, quando foi ver já tinham atirado nele e ele estava no chão”, contou a amiga.
Em protesto, os moradores fecharam a pista lateral da Avenida Brasil, no sentido Zona Oeste, na altura de Benfica, no Subúrbio. As manifestações continuaram pela Linha Vermelha, no trecho do Caju, que também chegou a ser fechada. O trânsito ficou lento na região. A polícia reforçou o policiamento no local.
Durante a madrugada, os policiais militares que estavam patrulhando o local onde o menino foi atingido foram ouvidos aqui na DH. O delegado responsável pelo caso disse que a previsão é que o resultado do confronto balístico saia em 15 dias. Os parentes de Herinaldo devem comparecer à delegacia na manhã desta quinta-feira (24).
Além de Herinaldo, a mãe tem outros três filhos. Ela trabalha como emprega doméstica na Zona Sul do Rio. A amiga da família disse que o menino era estudante e não tinha qualquer envolvimento com o tráfico de drogas.
Fonte: G1