Depois da onda de violência que voltou a atingir o Complexo do Alemão há duas semanas, a situação parece ter se acalmado. Os tiroteios já não são tão constantes e as escolas funcionam com normalidade desde então. O Terra aproveitou a reconstituição , feita pela Polícia Civil, de três mortes ocorridas no local, para ouvir moradores sobre a situação na comunidade e encontrou um ponto de convergência: a chegada do Batalhão de Choque trouxe calma à comunidade.
“O Choque nos trata com respeito. Nos abordam com arma para baixo e sem rispidez”, conta um morador que pede para não ser identificado – todas as pessoas ouvidas pela reportagem pediram o mesmo. Algo que já tinha saído de moda e voltou a fazer parte da rotina: medo.
Questionados sobre o porquê de a UPP parecer ter fracassado, um morador explica: “Chegam aqui soldadinhos recém formados, botando banca. Tratam a gente mal, com tapa na cara e acham que vão resolver e não resolvem”, disse. Um moto-taxista afirmou que conhece bem a região e falou sobre um dos crimes. Elizabeth Moura foi morta por um tiro de fuzil dentro da casa na comunidade Nova Brasília. “Ali é apertado. Se tivesse alguém no teto, o policial estava tão perto que não daria para ele atirar para baixo”, disse. A casa de Elizabeth fica um metro abaixo do nível da rua.
O Terra ouviu moradores também sobre o caso do menino Eduardo. “O problema eram os soldados daquele plantão”, disse um morador sobre a equipe que patrulhava no dia 2 de abril. “Eles se achavam os donos do pedaço, botavam banca. Acertaram o menino de propósito”. Uma moradora afirma que é fácil identificar quando quem morre é bandido ou inocente. “Você viu a quantidade de gente que desceu para protestar? Quando é bandido descem meia dúzia. Mas quando é inocente, desce todo mundo”, falou.
Perto de onde a polícia fazia seu trabalho fica uma das sedes do movimento AfroReggae, que teve sua imagem manchada após declarações confusas por parte do seu coordenador, José Junior, sobre a morte de Eduardo. “O AfroReggae tá muito queimado aqui na região. Eles andaram se juntando muito com os poderosos”, afirma o moto-taxista. Os moradores confirmaram ao Terra que na hora em que Eduardo foi morto não havia tiroteio na comunidade. “O comércio estava todo aberto. Estava tudo normal. Quando tem tiroteio, fecha tudo rápido. Nesse dia tudo estava normal.”
Fonte: Terra