“Meus pais são do Espírito Santo e da Bulgária. Eles se mudaram para Niterói porque queriam criar os filhos em um lugar tranquilo. Aqui sempre foi um lugar muito calmo. Eu nasci aqui. Agora tenho que pensar bem onde vou criar os meus. Eu não saio mais depois das 22h. Lugares que eu ia a pé, agora vou de táxi. Deixo muitas vezes de sair”, desabafou a coordenadora de suprimentos, Michéle Yildiriane, de 35 anos, moradora do bairro Icaraí.
A subsecretaria de inteligência da Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro declarou, nesta quarta-feira (2), que “a migração pode haver sim, no entanto, não há indicadores de que ela seja em grande escala nem que tenham impactado significativamente as manchas criminais”.
“Eles passam muitas vezes armados e pedem a bolsa, celular, dinheiro. Icaraí sempre foi a menina dos olhos de Niterói. Fonseca, onde vimos que teve tiroteio nesta semana, sempre foi uma região calma. Um amigo meu que mora lá me ligou no dia e me disse que ouvia os tiros e parecia que estavam em uma guerra. A comunidade Preventório, em Charitas, sempre foi de trabalhadores. Hoje, você passa lá e vê até movimento de venda de drogas”, completou.
Nesta quinta-feira (3), o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves anunciou que enviou uma carta ao secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, solicitando uma audiência e propondo medidas de ampliação do efetivo policial na cidade, implantação de UPPs e integração de Niterói ao planejamento dos grandes eventos previstos para o Rio.
Apavorados em Belford Roxo
Na Baixada Fluminense, a situação não é diferente. De acordo com um morador, que pediu pra não ser identificado por medo, às vésperas da ocupação da Maré, dezenas de criminosos migraram para diversos bairros de Belford Roxo. “Eles ostentam armas em rede social. Os moradores estão apavorados com os tiroteios na madrugada e culpam o governo estadual pelo descaso com a cidade. Belford Roxo está vivendo um inferno astral e uma "maré pesada" nos últimos dias”.
De acordo com a Seseg, na operação cerco que antecedeu a ocupação da Maré foram presas 105 pessoas. A Secretaria acrescentou ainda que a maioria dos criminosos que exercia alguma função de comando entre os traficantes nas regiões pacificadas está presa.
A secretaria declarou ainda que já foram instaladas nove companhias destacadas de uma série de 10 planejadas pelo atual comando da Polícia Militar. “Já foram inauguradas as companhias do Morro do Estado, Palácioe Pendotiba, em Niterói, Morro da Covanca e Praça Seca, na Zona Oeste do Rio, Pavuna, Cabuçu, em Nova Iguaçu, Vila Ruth e em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, além de Jóquei e Coruja”, informou. “Além destas, a Seseg afirmou que já funcionavam as companhias destacadas do Morro Azul (Flamengo, Rio) e Chatuba (Mesquita)”, acrescentou.
Arrastões e barricadas em Maricá
Em Maricá, moradores relataram através do VC no G1 que a cidade tranquila deu lugar a barricadas, arrastões e assaltos. “Os maiores problemas estão no bairro de Itaipuaçu, onde são feitas barricadas e arrastões pelos bandidos. E também no Bairro do Spar, onde todos os dias têm assaltos, inclusive durante o dia. Já houve homicídio após o assalto”, descreveu Leonardo Ramos, de 29 anos.
De acordo com ele, o aumento da violência também tem como origem a migração de criminosos das comunidades do Rio que passaram a ser ocupadas por UPPs. “Com as recentes ocupações nas favelas do Rio de Janeiro, os bandidos estão migrando para a cidade de Maricá e causando horror aos moradores. Maricá era uma cidade tranquila, mas agora isso acabou”, completou.
Secretaria analisa prisões na Baixada
A Secretaria de Segurança do Estado fez ainda uma análise sobre as prisões ocorridas na Baixada Fluminense desde a instalação das UPPs no Rio de Janeiro. De acordo com ela, em 2013, entre janeiro e agosto, 232 pessoas foram presas em São João de Meriti. Destas, 67,2% são moradores da própria cidade, 13% moram em outros municípios e 4,3% eram moradores da capital.
G1