Fernanda destaca que já perdeu a paciência com a falta de educação das pessoas, além da pouca ação da polícia e fiscalização durante as comemorações dos jogos da Copa do Mundo.Mesmo depois de ser agredida, ela voltou ao "front" para evitar que frequentadores do bairro continuassem urinando na porta de sua casa. "Peguei uma mangueira e fiquei no corredor de entrada esperando alguém fazer xixi ali. Quando flagrava uma pessoa eu jogava água. Teve um homem que pegou a mangueira e jogou água em mim. Fui socorrida por um policial", disse Fernanda."Isso virou um monstro", acrescenta Maria Justo, 90 anos, que mora no bairro, na mesma casa, desde 1923. Segundo a idosa, o bairro vive rotineiramente com problemas de barulho, vandalismo e de frequentadores de bares que usam suas casas e estabelecimento como banheiro público.
De Londres para a Vila Madalena
O designer inglês Tom Green, 49 anos, disse já ter entregue em mãos um abaixo-assinado para o prefeito Fernando Haddad pedindo providências durante festas e eventos culturais realizados no bairro. "O que ele fez com o documento eu não sei, até agora não vi nada. Estamos fazendo um segundo abaixo-assinado na região. É um desrespeito o que acontece aqui. Saí de Londres há 15 anos e escolhi a Vila Madalena para viver. Aqui era um bairro misto, de comércio misto, mas hoje o privilégio é para abrir bares. Estão acabando com a diversidade comercial na região."
Tom também é diretor do Conselho de Segurança de Pinheiros (Conseg), conselheiro do Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Cades) e coordenador do SOSsego Vila Madalena. "Estamos preocupados com a possibilidade de a prefeitura querer fechar as ruas do bairro para outras festas e eventos na cidade aos finais de semana. A Vila Madalena corre o risco de virar uma Fan Fest permanente. Nós não queremos isso."
Bebedeira
"Quando você muda para a Vila Madalena já sabe que vai conviver com barulho. Não sou contra as festas de rua, mas tem de haver controle. Não quero que as pessoas deixem de vir, mas que venham com educação. É muita violência que vem junto com o consumo exagerado de álcool. Há um problema de fiscalização aqui", disse Fernanda.
Segundo moradores, houve um excesso de divulgação da Vila Madalena como um local onde há gastronomia diversificada e bares. "As pessoas vieram a agora o bairro não aguenta tanta gente. Parece que as pessoas vêm até a Vila Madalena para descontar seus problemas no bairro, nos comerciantes, nos moradores daqui. Os jovens bebem muito e se descontrolam. O bairro é legal, mas está ficando difícil morar e trabalhar aqui", afirmou Tom, que colocou à venda o prédio onde funciona sua loja e onde também mora.
A professora de francês reclama da falta de liberdade no bairro. "Os bares ocupam as calçadas e não sei se isso está correto. Os flanelinhas são os donos das ruas e cobram R$ 20 para parar o carro, incluindo de moradores", disse Fernanda.
Tragédia grega
Uma das moradoras mais antigas da Vila Madalena, Maria Justo lembra do tempo em que sua família, vinda de Portugal pelos idos de 1920, criava vacas para fornecer leite fresco para conventos e pequenas vendas na região. "É a primeira vez na minha vida que eu vi isso aqui no bairro. As portas e janelas da minha casa tremem com o barulho. Não dá para dormir. Essa bagunça vai até as 6h da manhã", disse ela.
Segundo Maria, a paciência dela vai ser testada novamente com a próxima sequência de jogos da Copa. "Hoje o bairro está uma tragédia grega. Essa festa foi mal organizada, foi tudo feito em cima da hora. Só tivemos policiamento depois do segundo jogo da seleção brasileira. Essas pessoas só querem saber de maconha, cocaína e de bebida. Tenho pena dessa juventude. A fachada da minha casa foi toda pichada."
Fá do patrício Cristiano Ronaldo, ela revelou que chegou a torcer pela seleção de Portugal, mas que se decepcionou com o craque português. "Sempre gostei de futebol, frequentei o Pacaembu, o Morumbi. Quis ver o Cristiano Ronaldo jogar, mas aquele desgraçado se escondeu e foi pra casa. Hoje em dia não dá para torcer mais", afirmou Maria, com o que lhe restou de bom humor.
G1