Já o autor da trama global, Walcyr Carrasco, garantiu que a prostituição de luxo, enredo da novela, existe e faz parte do submundo das modelos.
O UOL conversou com as ex-BBBs Fani Pacheco e Kamilla Salgado e descobriu que, assim como na trama, viagens para o exterior e cachês que variam de R$ 5.000 a R$ 160 mil são alguns dos atrativos usados pelos agenciadores que buscam mulheres bonitas para programas. O assédio acontece principalmente por e-mails e chegam como "jobs".
Há 16 anos assessorando personalidades como Andressa Urach, Joana Machado e Sabrina Boing Boing, o empresário Cacau Oliver conta que também faz parte do seu cotidiano receber propostas de programas para suas clientes.
"Quem trabalha com mulheres está acostumado a ouvir esse tipo de proposta, e é mentira quem trabalha em agências e diz que não recebe. O fato de você vender uma imagem sensual, seja na passarela, na capa de uma revista ou no Carnaval, confunde a cabeça dos homens. A partir do momento que você vende uma imagem de mulher objeto é como se você tivesse um preço. Existe sim o 'book rosa' e existe menina que se prostitui, independentemente de ser modelo ou não", disse Cacau, criador do concurso Miss Bumbum.
Maior caso de sucesso de Oliver, Andressa Urach estampou por duas vezes capas de revistas masculinas, participou do reality show "A Fazenda", disse ter vivido um romance com o jogador de futebol Cristiano Ronaldo e nunca hesitou em tirar a roupa em público. Agora evangélica e membro da igreja Universal do Reino de Deus, a modelo confirmou a existência do "trabalho extra", mas afirmou que nunca participou. "Fui coordenadora de RH, selecionava meninas para eventos e sempre ouvia falar desse 'book rosa'. Mesmo depois, como modelo, também era comum esse tipo de assunto. Conheço muitas [famosas] que já fizeram", contou ela, que recentemente passou por 14 cirurgias para retirar o hidrogel de uma das suas pernas.
Mais direta, a ex-BBB Fani Pacheco, que participou de duas edições do "Big Brother Brasil", contou que é assediada diariamente, principalmente por e-mail. "Os agenciadores me ligam, me convidam e dizem que existem homens que me pagariam o que eu quisesse. Olha, faço tudo, festa infantil, desfile, presença vip, até dançar em um prostíbulo, mas sair com alguém por dinheiro, prostituição, não. Não consigo, não é a minha", disse.
A ex-sister ainda criticou a hipocrisia no meio do show business, que finge não conhecer a prática, que envolve principalmente mulheres bonitas e homens com dinheiro. "Tem dançarinas, ex-participantes de realities, atrizes e assistentes de palco que fazem, e aí dizem que nunca ouviram falar de 'book rosa', que nunca receberam propostas. Mentira! Todo mundo recebe e em todos os lugares. Na maioria das agências existe a ficha rosa, e o 'book azul'".
Modelo desde os 15 anos e vencedora do Miss Mundo Brasil 2010, a ex-BBB Kamilla conta que a prostituição de luxo existe na moda, nos concursos de misses e até mesmo no universo dramatúrgico. "Tem gente que aceita, às vezes por dinheiro ou por contato", disse a ex-miss, que contou ter passado por situações constrangedoras.
Assediada por e-mail diariamente, Kamilla contou que já recebeu uma ligação de um empresário oferecendo dinheiro em troca de sexo. "Ligaram na casa dos meus pais em Belém, e minha mãe ficou furiosa. Isso é muito chato. Como tem muita gente do meio artístico que faz, as pessoas acabam confundindo, e os empresários acham que podem comprar qualquer um", disse a ex-BBB, formada em jornalismo e em administração de empresas.
Fora da ficção
Quem vê com entusiasmo as revelações do submundo da moda é o ator e modelo Daniel Granieri, de 37 anos, que já participou de mais de 200 comerciais. Agenciado pela Ford Models – mesma agência da atriz Camila Queiroz (Angel), a protagonista o folhetim de Walcyr Carrasco – ele conta que viu algumas amigas passarem por apuros.
"É uma realidade que acontece no mundo da moda e tem que ser mostrada e discutida. Assim como também ocorre em escritórios, no ambiente esportivo… Não é lenda e vale como um alerta também. São pessoas contratando e pessoas que querem ser contratadas, ninguém é escravo. Acho o assunto bem pertinente", analisou o modelo, que garante não ter recebido nenhuma oferta.
Há cerca de 13 anos no mercado, o profissional acredita que o fato de a pessoa ter um perfil mais despachado e ser comunicativa muitas vezes é confundido por alguns bookers, que veem nisso uma oportunidade para introduzir modelos em trabalhos em que a circulação de dinheiro é muito alta. Nas salas de casting, o modelo conta que por conta do "book rosa", agora também é comum o papo sobre a "ficha azul".
"Minha mulher uma vez estava em um evento de uma marca famosa e ela percebeu que várias modelos começaram a ir embora. E todas que estavam indo eram as que não faziam 'book rosa'. Uma amiga uma vez foi para um job fechado pela agência que ela era contratada e de repente percebeu que estava no meio de um programa. Ela ficou horrorizada", contou Daniel, que recentemente ficou sabendo da ficha azul durante um casting.
Modelo dos 13 aos 19 anos, Alinne Moraes trabalhou por sete anos na Elite Model Management e viu a abordagem da trama um tanto quanto pejorativa ao focar apenas no universo da moda. Para atriz, além do 'book rosa', o 'teste do sofá', os casos entre secretárias e chefes também deveriam ser discutidos.
"Nunca chegou nenhuma conversa com relação ao 'book rosa'. Acho que existe, sim, mas não do jeito que é abordado na novela. Aliás, todo mundo da moda está triste com a forma que está sendo mostrado. Acredito que esse tipo de coisa tem em quase toda profissão e depende muito das pessoas. Enfim, todo mundo fala de tudo. Não dá para generalizar", apontou ela, que atualmente está no ar no folhetim das seis "Além do Tempo".
Leia abaixo duas ofertas para programa:
A proposta que temos para a Sra. XXX, é para um evento em Abu Dhabi.
O evento será o lançamento de uma coleção de roupas, porém o dono da marca gostaria de fazer um ficha rosa com a modelo pelo período de 1 hora e meia após o evento.
Para tal oferecemos através da Sra o que se segue:
a) Passagem para duas pessoas (XXX e um acompanhante)
b) Hospedagem e alimentação no hotel, qualidade superior.
c) Cachê de 160.000,00 reais
Vale salientar, que esta proposta deve ser mantida em total sigilo, e um acordo de confidencialidade deverá ser firmado entre as partes no dia do pagamento (geralmente 12 a 15 dias antes da viagem).
A comissão para a empresária da Sra. XXX em caso de fechamento de negócio fica estipulada em 6.5%.
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Estamos realizando seleção de modelos para eventos ligados ao automobilismo, ainda este ano (2011) e também no primeiro semestre de 2012, no Rio, em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Salvador, Curitiba e outras cidades.
Trata-se de eventos para os quais necessitamos de modelos Ficha Rosa.
Serão duas festas/recepções, para patrocinadores do evento, nos dois dias que antecedem a cada corrida/evento.
Assim, responda a esse e-mail, com dados para contato e fotos de corpo inteiro, somente se houver interesse.
As modelos pré-selecionadas receberão informações adicionais sobre o evento, sobre o casting e sobre o cachê.
Fonte: Terra