A semana iniciou com o amor em celebração. Nada mais instigante para corações e mentes a viver em tempos de “desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada”. Nesse exercício, devemos examinar, “sobretudo, o que parece habitual”, como escreveu Bertolt Brechet. Em tempos de incertezas, desamores e injustiças, a leitura pode ser um antídoto, um contraveneno à supremacia excessiva do capital que produz uma estratificação social tecida com linhas abismais.
A leitura, um caminho que pode apoucar (e por que não dirimir?) injustiças sociais à medida que leva pessoas à consciência da natureza das relações humanas dentro de sua experiência de vida e de como pode atuar para modificá-la. Em 2015, o Ministério da Cultura anunciou “que o Brasil não dá a importância necessária à leitura e que é uma vergonha nosso índice de livros per capita ano ser de apenas 1,7 por ano”. Por décadas proferido, esse indicador precisa subir. Cabe trabalharmos em prol de um país de leitores, que reconheça e valorize a diversidade cultural brasileira. Divulgar a literatura nacional é, sem dúvida, um bom início de conversa.
O livro “Lendas de Amor do Folclore Indígena”, de Maria Amélia Aranha, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, traz mitos de povos indígenas que vivem no Brasil, com ênfase na expressão feminina do amor, seja ele correspondido, seja ele não correspondido: Muiraquitá, Moema, Mani, Mãe d’Água, Lindóia, Ibicuiretã, Bartira, dentre outras.
A indígena Moema, retratada também pelos pincéis de Victor Meireles, foi uma das cinco jovens que se apaixonou por Diogo Álvares Correa, o Caramuru. Ao deixar o Brasil, Caramuru levou para Europa sua esposa, a índia Paraguaçu. Inconformadas, as cinco jovens não desistiram do amor de Caramuru e nadaram até à caravela, na esperança de serem resgatadas pelo português. Vendo que seus esforços foram em vão, quatro delas retornaram à praia. Moema permaneceu agarrada ao remo da embarcação até que submergiu e atingiu a escuridão das profundezas do mar.