Querido Pluct Plact, amigo extraterrestre.
Antes de mais nada peço que não estranhe essa mudança de sentido em nossa correspondência pelo raio de luar que ilumina minha cela do outro lado do túnel. Pela primeira vez (que me lembre) inverto a mão desse vem e não vai de comunicação.
Até aqui me sentia tranquila com sua evolução no conhecimento e narrativa dos fatos e acontecimentos desse mundo novo para você. Ver pelos seus olhos dava um frescor às notícias. Não sentia a menor necessidade de interferir ou opinar sobre análises, descobertas que iam se descortinando nas suas cartas. Nosso sempre surpreendente cotidiano, a interlocução com os ilustres visitantes intergalácticos que circulam por aí… Tudo ia bem. Mas não vai mais.
Cabe a mim, quebrando a redoma de ouro do silêncio voluntário, alerta-lo de forma clara e contundente que algo está errado no sistema de codificação dos relatos dos últimos capítulos da saga brasileira.
Lamento que meu isolamento não permita uma abordagem 100% objetiva do problema. Algum defeito mecânico, orgânico, cibernético ou, quem sabe, biológico. Essa definição está fora do meu alcance com o pouco que sei da vida na Terra.
Só posso afirmar, de forma categórica, ter algo errado no front da sua narrativa épica sobre os últimos acontecimentos. Além de um toque alucinógeno, consigo sentir notas de descompasso neurológico e ausência prolongada de conexão com a realidade.
Senão vejamos, caro e desorientado simbiótico amigo das estrelas. “Independência ou morte” é o grito de D. Pedro de Alcântara que consolidou a separação do Brasil de Portugal. Ano que vem será o bicentenário da data, sabia? Motivo de comemorações. Não é justo que também seja o primeiro das comemorações de um monumental fiasco no Eixo, como você tenta descrever.
Não bastasse a pandemia, a delta, a inflação, as crises: energética e alimentar, desemprego? Só pode ser delírio a existência da inexistência de um pingo de juízo da massa que se reuniu sem seguir protocolos, como usar máscara e não aglomerar, em vários pontos do Brasil para se manifestar. O que esse povo (não) tem na cabeça?
Pluct Plact, acorda! Quem seria tolo a ponto de ir se grudar nas multidões e acampar na secura insuportável de setembro em Brasília fantasiado de Copa do Mundo?
Amigo, deu tilt na sua placa mãe. Zé Trovão é um peão, personagem de uma novela da extinta TV Manchete, interpretado por Almir Sater (que, se bem entendi, é o dono de um dos aviões levados na mão grande ali de Aquidauana/MS, onde vão rodar o remake de Pantanal). Coincidências existem, reconheço, mas esse outro Zé Trovão é Trojan, cavalo de Tróia que se insinuou na confusão mental dos slots da sua narrativa, só pode.
Quer a prova? Onde já se viu a interrupção de uma partida de futebol entre o Brasil e a Argentina? Um formulário da Anvisa concursado provocar um evento sísmico desse porte! Como essa estupidamente bela lua cheia, o feito esportivo argentino obscureceu, inclusive, as Paraolimpíadas.
A Covid-19 está passando uma rasteira tsumamica nos paradigmas do terceiro milênio. Quem viver verá as consequências, se acreditar nelas.
E aí está a prova definitiva da desorientação da sua última cartinha. Reproduzo: “Fuga! acampamento, caminhões, reza, verde e amarelo, impeachment, Zé Trovão, STF, caminhão de som, invasão, Esplanada, Hino Nacional, bandeira, bloqueio nas estradas, vídeos, áudio presida, fake, Tarcísio, verdadeiro, Otone, falso, tira caminhão, fica, estado de sítio, Barroso, Senado, Zambelli, cara na porta, presidente, ultimato, México, barreiras, flopou, nota, Moraes, live…”
Cá entre nós, amigo das estrelas, elas estão dominando sua mente. Você precisa se realinhar. É muita informação para desenhar a lambança que pode se resumir numa simples hashtag #forabolsonaro
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM…