Sou um admirador da técnica de pesquisas de opinião pública, que ouvindo uma pequena parte das pessoas envolvidas em um universo de interesse, consegue chegar muito perto da média do pensamento geral. É verdade que muitas sondagens são dirigidas ou mesmo compradas, mas estas quase sempre vêm de empresas sem credibilidade que vivem de vender seus serviços fraudados. As empresas tradicionais que se solidificaram no mercado têm a confiabilidade como produto principal e zelam dele com especial dedicação. Geralmente os políticos que não creem em tal ou qual pesquisa são aqueles que aparecem em desvantagem em relação ao adversário.
De um estudo publicado pela Universidade de Cambridge há poucos dias, o que mais me chamou a atenção foi a informação que apenas 14% da sociedade está concentrada nos extremos ideológicos. Ou seja, todo esse barulho que os militantes políticos fazem nas redes sociais vem somente de menos de duas a cada dez pessoas. Mais precisamente os barulhentos da esquerda são cerca de 8% e os gritantes da direita representam 6%.
Vejam que 86% das pessoas pesquisada estão foram dos extremos políticos. Destes só menos de nove a cada cem pessoas costumam compartilhar suas ideias nas redes sociais. Feitas as contas (19% de 86%) são aproximadamente 8 em cem pessoas do conjunto pesquisado que vão para a internet gritar suas convicções políticas. Mais uma informação: diferente dos moderados, 70% da extrema esquerda e 56% da extrema direita usam a internet com frequência para divulgar “suas” verdades e ofender os que pensam diferente.
O que parece estranho é como tão poucas pessoas percentualmente conseguem fazer tanto barulho, transmitir tantas informações mentirosas e causar tanto dano na sociedade.
Trata-se de uma minoria turbulenta que se dedica, a mando de seus líderes, a divulgar doutrinas conspiratórias e mentiras escabrosas com interesses eleitoreiros. Algumas dessas teorias e fantasias são tão ingenuamente absurdas que não conseguem passar pelo mais infantil teste de raciocínio. Mas as pessoas que as criam e muitos que a divulgam sabem muito bem de sua fragilidade lógica, entretanto também sabem do baixo grau de discernimento das pessoas que vão retransmiti-las.
Neste momento de luto nacional com as mortes do RS temos dois grupos que se assemelham nos danos que causam: um, os marginais que saqueiam o pouco que sobrou para os desabrigados; outro, os delinquentes que divulgando mentiras com interesses políticos atrapalham a arrecadação de doações e a distribuição delas.
As consequências deletérias destes 14% que divulgam fake news maldosas, citados na pesquisa acima, são tão perniciosas que não podemos nos dar o direito de ser tolerantes com eles. Se formos tolerantes eles prosperam e acabam vencendo o jogo.
Há uma necessidade urgente de disciplinar com rigor o uso da internet e acabar com essa tendenciosa e maligna ideia que controlar as publicações seja uma forma de censura. Esses fanáticos precisam ser responsabilizados pelo que dizem.
Renato de Paiva Pereira