No dia 25 de julho, a família comemorou o aniversário de dois anos do filho Tomer. Era para ser uma festa infantil como tantas outras, quando, de repente, no meio do parabéns a você, o som de sirenes avisa que um míssil foi lançado contra a cidade. Todos correm para uma parte blindada da casa, chamada de bunker, e instantes depois a festa continua.A gente desceu para o bunker e continuou cantando porque eu quero trazer um pouco de normalidade para a anormalidade dessa situação. Porque o meu filho não merece isso. Eu pego ele no colo e ele começa a chorar. Eu vejo todas as crianças na volta e elas não merecem isso. Nenhuma criança merece isso, desabafa Carla.
Carla e o filho Tomer chegaram a Porto Alegre nesta semana. É uma viagem de férias. Agora, eles só querem aproveitar dias tranquilos com a família. Mas, depois voltam para casa em Ra'anana. Ela conta que o medo faz parte do cotidiano na cidade israelense.Tu estás andando na rua e o tempo todo fica pensando: ‘Se tocar a sirene agora, para onde é que eu vou?’ Eu preciso desse tempo agora para tirar isso da minha cabeça, admite a cantora lírica.
No domingo (3), o conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza completou 27 dias. O conflito já provocou a morte de quase 2 mil pessoas. Mais de 1.850 palestinos já morreram, em sua maioria civis. Do lado israelense, morreram 64 soldados e três civis até a data.Segundo o Itamaraty, 12 mil brasileiros vivem hoje em Israel e 30 na Faixa de Gaza. Não há números oficiais sobre a presença de gaúchos na região. O certo é que a preocupação para quem vive no local do conflito ou tem familiares por lá aumentou.
‘Não tem o que fazer. Só orar’, diz palestino
O comerciante Muhamed Dahla é palestino e mora há 30 anos em Uruguaiana, na fronteira do Brasil com a Argentina. Ele passa os dias acompanhando as notícias sobre o conflito pela TV. Parte da família está em Ramalah, na Palestina, mas os dois filhos nascidos aqui voltaram para o Oriente Médio e atualmente vivem em Jerusalém.
A gente tem acompanhado com angústia. Mas não tem o que fazer. É só orar por essas pessoas que estão lá. Pedimos a Deus que proteja eles. Só isso, diz o comerciante.Longe dos pais, irmãos e sobrinhos, Mahmoud Abuhaloub também perde as noites de sono, preocupado. O palestino de 30 anos deixou toda a família na Faixa de Gaza quando casou com uma gaúcha e veio morar no Rio Grande do Sul há quase dois anos.A vida lá está muito complicada. Não há segurança, os lugares que você ama são destruídos em frente aos seus olhos. Você perde as pessoas que ama, perde amigos, pessoas muito importantes para você, relata o também comerciante.
Mahmoud não pensa em voltar para Gaza. Diz que gosta da vida no Brasil, onde não precisa ouvir o barulho dos mísseis. Além disso, ele tem uma razão ainda maior para ficar: o filho de sete meses, que nasceu na capital gaúcha.A jovem Aline Szewkies, ao contrário, diz que tem razões para não sair de Israel. Nascida em Porto Alegre, ela foi para Jerusalém aos 17 anos. Se formou no local e agora trabalha como guia de turismo.Ela conversou com a reportagem pela internet, da casa da irmã em Tel Aviv. Foi para lá porque onde mora não tem como se proteger de ataques. E mostrou o bunker onde se refugia quando as sirenes tocam.
Ele foi construído para parecer um quarto normal. É aqui que eu tenho dormido nestes dias. O que ele se diferencia primeiro é a janela, que além do vidro, tem uma proteção que é feita de metal. Nos tempos de paz, a gente deixa ela aberta. Agora em tempos de conflito, a gente simplesmente fecha ela e fica com ela fechada, conta.
Aline, Mahmoud, Carla e Mohamed não se conhecem, mas compartilham as dores de uma guerra que nenhum deles deseja. A esperança de todos é que um dia a paz entre israelenses e palestinos volte a reinar na região. Se Deus quiser a gente vai conseguir ter paz e conseguir conviver com o povo palestino que também vive aqui, espera Aline. Uma vida segura e paz, diz Mahmoud sobre o que espera. "É só o que a gente quer, poder viver com tranquilidade, conclui Carla.
G1