Os meteoritos representam material extraterrestre que percorreu o espaço cósmico em torno do Sol por 4,5 bilhões de anos antes de colidir com a terra e são consideradas as rochas mais antigas e primitivas do sistema solar. Na sua chegada à Terra os meteoritos são freados violentamente pela atmosfera terrestre e um fenômeno luminoso é então visível da terra: a chamada “estrela cadente”. O estudo desses viajantes espaciais tem contribuído enormemente na elucidação da origem e evolução do sistema solar.
Antes de colidirem com a superfície terrestre, os meteoritos perambularam por vastas regiões do espaço, carregando consigo inumeráveis segredos sobre a formação do Sistema Solar. Muitas dessas rochas primitivas, com idades que chegam a bilhões de anos, retêm em sua estrutura a ‘memória’ química de tempos em que o Sol, os planetas e todos os outros corpos celestes ainda se formavam a partir de um aglomerado de gás e poeira.
Extrair desses mensageiros do cosmo a informação para entender a evolução da galáxia é o papel da chamada Cosmoquímica, uma área multidisciplinar que interage com a astrofísica, física, astrobiologia e geologia, para desvendar os principais momentos de uma história que começou muitas vezes a ser delineada nos primórdios do universo, quando as estrelas começavam a nascer.
Embora os meteoritos só tenham sido aceitos pela ciência como objetos de origem extraterrestre no início do século 19, o fenômeno de queda de rochas e ferro sobre a Terra era conhecido desde a antiguidade. Papiros egípcios, de 4 mil anos, registram objetos luminosos riscando os céus numa representação típica de queda de meteoritos, isto é, queda de objetos sólidos no chão. Escritos gregos, de 3,5 mil e 2,5 mil anos, mencionam a queda de pedras e ferro do céu. Provavelmente pela natureza extraterrestre e supostos poderes mágicos, alguns meteoritos foram objetos de veneração em várias civilizações, dos quais só restaram algumas descrições históricas.
O ferro meteorítico tem sido usado pela humanidade desde os primeiros tempos e em praticamente todas as civilizações. Não é por acaso que a palavra grega sider, que significa estrela, também é aplicada ao ferro em palavras como siderúrgico, siderurgia. O mineral de ferro puro nativo praticamente não existe na superfície da Terra. Antes do domínio do processo de transformação do minério de ferro (hematita) em ferro por volta de 1.200 AC, os meteoritos foram utilizados como fonte de ferro, podendo ser reconhecidos nos artefatos antigos por conter níquel. Assim, as armas de ferro que revolucionaram as guerras, e o ferro que implementou a agricultura, teriam sido obtidos em grande parte do ferro meteorítico. O ferro meteorítico foi encontrado em numerosos sítios arqueológicos antigos, desde a Suméria cujos artefatos com este metal datam mais de 4,5 mil anos.
Inclusive na tumba de Tutankamon foi encontrada uma adaga de ferro meteorítico. Mesmo após o advento da metalurgia do ferro, cujo produto ainda não era de boa qualidade, os meteoritos continuaram a ser utilizados em espadas eamuletos para reis, conquistadores e sacerdotes. Isso se deu não apenas pelo fato de a qualidade do aço ser superior e mais resistente aos metais forjados na época, mas, sobretudo, por ser proveniente de fenômeno considerado sagrado desde a mais remota antiguidade, sendo o ferro meteorítico considerado presente dos deuses aos homens, ou melhor, aos reis e sacerdotes.
Por ser um assunto importante para a compreensão do universo respondemos a algumas questões básicas sobre meteoritos no seminário “Descobrindo o Céu de Cuiabá”, ocorrido em 8 de abril. Entre elas: o que são os meteoritos? qual a importância deles? de onde vêm? onde podem ser encontrados? Como o público foi bem receptivo ao assunto eu, como parte integrante do grupo organizador do evento, através do Instituto de Física da UFMT, juntamente com o Rotary Club de Cuiabá e a Agência de Notícias Space News MT, faremos, nos próximos eventos para a popularização da Astronomia em Mato Grosso, novas incursões sobre meteoritos bem como falaremos também sobre a fotografia especializada em corpos celestes e grandes áreas do céu noturno que é chamada astrofotografia. Nesse quesito, podemos adiantar que, pelas condições climáticas e poluição luminosa, o céu de Cuiabá é considerado difícil para a astrofotografia, porém, mostramos que, com muita paciência e dedicação, a astrofotografia no céu de Cuiabá é perfeitamente possível.
Vale conferir e abrir os olhos para tudo o que o conhecimento sobre o assunto desperta na direção de novos mundos!
*Pablo Edilberto Munayco Solorzano é de origem peruana. Possui graduação em Física pela Universidad Nacional Mayor de San Marcos (Lima-Perú), Mestrado e Doutorado em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (Rio de janeiro) e Pós-doutorado no programa PNPD-FAPERJ (Rio de Janeiro). Atualmente é professor Adjunto do Instituto de Física da UFMT ministrando as cadeiras de Estrutura da Matéria e Laboratório de Física II para os cursos de Física e Matemática. Também foi premiado pela Meteoritical Society com o prêmio Barringer Crater Company Award, pelo desenvolvimento de técnicas de análise físicas no estudo de material extraterrestre.
Fonte: Blog Space News