Atualmente, a matriz energética brasileira é considerada uma das mais "limpas" do mundo industrializado, com 45% proveniente de fontes renováveis, como energia hidráulica, etanol, biomassa, eólica e solar. A capacidade da energia elétrica nacional é de aproximadamente 120 GW, dos quais 85 GW vêm de hidrelétricas e 36 GW de termelétricas – destes, 10 GW operam à base de biomassa.
Em média, 80% da energia mundial é "suja", gerada a partir de combustíveis fósseis, como carvão mineral, gás natural e petróleo. Esse tipo de fonte energética é formada por compostos de carbono e origina-se da decomposição de materiais orgânicos, um processo que leva milhões de anos. Por isso, é considerado não renovável, ao contrário, por exemplo, do vento e do sol.
Crescimento
?Como se estima incremento da demanda por energia elétrica no País de 3% a 5% a cada ano, entre 2011 e 2021, procuram-se novas fontes para supri-la. "O Brasil terá que acrescentar aproximadamente 50 GW a sua matriz até 2021. Esses números evidenciam a necessidade do aumento do parque termelétrico", aponta Susanne Hoffmann, pesquisadora da pós-graduação e pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Impacto ambiental
Mas o impacto ambiental provocado pelas térmicas a carvão ainda é motivo de preocupação. Embora já existam alternativas para lidar com o impacto local, desde que adotado o padrão internacional, ainda não há tecnologia disponível em grande escala para reduzir a emissão de gás carbônico, responsável pelo efeito estufa. "As usinas termelétricas (UTEs) a carvão emitem de duas a três vezes mais CO2 por unidade de energia gerada que UTEs a gás natural", compara Susanne.
Comparativamente, o carvão mineral constitui-se da fonte energética que mais emite gás carbônico. Para cada tep (tonelada equivalentes de petróleo) de carvão consumido na geração elétrica, são emitidos perto de 4 toneladas de CO2, de acordo com o portal do governo sobre a matriz energética nacional. No caso de petróleo e derivados, as emissões de CO2 ficam próximas de 3 toneladas por tep consumido.
Por isso, muitos desaprovam a liberação do carvão: "O Brasil tinha banido o carvão dos leilões e estava privilegiando opções mais limpas. Levando em consideração o nosso potencial eólico, de biomassa e gás natural, não faz sentido nenhum liberar o uso do carvão. É o mais poluente de todos. O custo também não vale a pena. É um retrocesso", critica Ricardo Baitelo, Coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.
Tecnologia atual
Conforme Susanne, do ponto de vista local, modernas tecnologias de purificação de gás podem reduzir a emissão de enxofre, nitrogênio e material particulado a um nível que torna os impactos aceitáveis, como já ocorre nos EUA, Alemanha e Japão. A pesquisadora reforça, contudo, que, no Brasil, limites tão restritos, como o dos EUA e União Europeia ainda não foram aplicados.
Já a redução de emissões de CO2 ainda não é possível. Hoje existem diferentes linhas tecnológicas em desenvolvimento, chamadas de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (Carbon Capture and Storage). "Esses sistemas de CCS em larga escala ainda não foram aplicados, devido à dificuldade de scale-up (escalonamento) e à grande penalidade energética de processos de separação de CO2, que afeta diretamente na quantidade de energia gerada e no balanço econômico da planta", explica Susanne. Assim, por enquanto, elas vão seguir emitindo CO2.
Estabilidade
Apesar de poluente, em cotejo com fontes renováveis, como a energia eólica e a solar, o carvão mineral representa uma fonte energética mais estável. "A inclusão do carvão mineral no próximo leilão de energia ocorre para proporcionar segurança energética para o País. E isso é estratégico. O carvão mineral significa energia firme, que não depende do regime de chuvas nem de ventos", justifica Fernando Luiz Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral.
Outro fator para a utilização do carvão mineral é a quantidade disponível desse recurso no País, principalmente na região Sul. De acordo com Susanne, 2.487 Mt do carvão brasileiro é classificável como lavrável, isto é, de obtenção e uso economicamente viáveis. "Representando um combustível de menor custo e maior segurança de suprimento, quando comparado com gás natural, o carvão se mostra como alternativa interessante para alimentar usinas termelétricas no Brasil", explica. O Rio Grande do Sul possui cerca de 90% das reservas do material no País, além de projetos que poderiam ser retomados.
Projetos
Apesar de ser uma fonte "suja", o carvão é necessário – e sua participação na matriz energética, crescente. No período entre 2011 e 2013, projetos de UTEs a carvão, que venceram nos leilões A-5 de 2005 e 2007, estão entrando em operação, totalizando 1430 MW. "A capacidade instalada de UTEs a carvão até então era aproximadamente 1400 MW, portanto, a capacidade foi dobrada durante os últimos anos", salienta Susanne. E não para por aí. Projetos como o Jacuí, de 350 MW, Seival, de 600 MW, CTSul, de 650 MW, UTE Sulcatarinense, de 440 MW e a UTE Porto de Açu, de 2100 MW, que estão esperando participação em leilão, se forem viabilizados, acrescentarão capacidade de aproximadamente 4000 MW.
Entretanto, mesmo se todos os projetos de UTEs a carvão entrassem em operação, sua participação na matriz elétrica permaneceria menor do que a atual participação de biomassa, que é uma fonte renovável.