O chefe da Casa Civil, José Adolpho, diz apostar na perda da delação premiada pelo ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB) por causa das “mentiras” contadas por ele para “incriminar” políticos.
A exemplo do que pode ocorrer nesta semana com o ex-senador Delcídio do Amaral, José Rodolpho afirma que a Justiça Federal deverá pedir revisão do conteúdo do depoimento de Silval para avaliar o que pode ser provado.
“Acredito muito que o Silval vai perder a delação premiada dele por causa das mentiras, por causa de verdades usadas para dar verossimilidade a mentiras. Por exemplo, a alegação de que o governador Pedro Taques (PSDB) pediu ajuda de financiamento de campanha”, disse.
A declaração foi dada, nesta segunda-feira (4), em entrevista à rádio Capital FM. José Adolpho afirmou ainda que Silval Barbosa deve perder os benefícios da delação premiada para ser punido pelos crimes que teria cometido com desvio de dinheiro.
“Silval, além de ladrão, é assassino. O dinheiro que ele roubou poderia estar evitando mortes nos hospitais. A crise que estamos vivendo hoje [escassez de dinheiro nos cofres do Estado] vem de um governo corrupto.”
Silval afirmou em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR) que em 2014 participou de reunião, um mês antes do início das eleições, com o ex-prefeito Mauro Mendes (PSB), os então senadores Pedro Taques e Blairo Maggi, hoje ministro da Agricultura, na qual fechado um acordo de repasse de R$ 20 milhões para financiar a campanha de Taques ao governo. Em troca, Taques teria garantido blindagem a Silval Barbosa não investigando ações tomadas durante o governo dele (2010-2014).
A reunião já foi confirmada por Mauro Mendes e teria acontecido a 45 dias do início do período eleitoral. Questionado sobre o pedido de R$ 20 milhões, Mendes não falou diretamente sobre o assunto, mas afirmou que fez "coisas dentro da lei".
Delação de Delcídio
O MPF-DF (Ministério Público Federal no Distrito Federal) pediu nesta sexta (1º) a perda dos benefícios da delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS). A manifestação consta das alegações finais do Ministério Público na ação penal em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o banqueiro André Esteves, dono do BTG, Delcídio e outras quatro pessoas são réus. O processo tramita na Justiça Federal em Brasília.
O caso veio à tona no final de 2015 quando Delcídio, então líder do governo Dilma no Senado, acabou preso após ser gravado numa conversa na qual ofereceu auxílio financeiro para evitar a colaboração premiada de Cerveró. A ideia seria evitar que fossem delatados pelo ex-diretor. Segundo a Procuradoria, eles teriam atuado para comprar por R$ 250 mil o silêncio de Cerveró. Foi a primeira vez que Lula virou réu. A denúncia foi recebida em julho de 2016. A peça é assinada pelo procurador da República Ivan Marx.
Se Delcídio for condenado neste processo e o juiz aceitar o pedido para desconsiderar os benefícios da delação, o ex-senador poderá ter de cumprir integralmente as penas.
Para o procurador, os benefícios da delação não se aplicam a Delcídio "em razão das omissões de fatos (sonegação da verdade) e das falsas imputações de fatos a terceiros (mentiras)".
De acordo com o Ministério Público, Delcídio mentiu sobre fatos que levaram à abertura de ação penal contra sete pessoas. Para o MPF, com exceção de Lula e André Esteves, as outras cinco pessoas devem ser condenadas: o advogado Edson Ribeiro, que defendia Cerveró, o pecuarista José Carlos Bumlai e seu filho Maurício, além de Delcídio e de Diogo Ferreira, seu antigo assessor.
No caso de Diogo Ferreira, que também fechou acordo com a PGR no ano passado, os benefícios decorrentes da colaboração devem ser mantidos, segundo Ivan Marx.
"A colaboração de Diogo, diversamente da de Delcídio, se demonstrou eficaz -auxiliando na elucidação de todos os fatos de que tinha conhecimento- sem aparentes omissões ou inverdades", escreveu Ivan Marx.