Vrajamany teve o braço direito amputado depois de ter sido atacado por um tigre no zoológico de Cascavel, no Paraná, em 30 de julho, quando fazia uma visita ao pai dele, Marcos do Carlo Rocha. Em 7 de agosto, ele retornou a São Paulo, onde mora com a mãe, na Zona Norte da cidade, e tenta retomar a rotina de antes do incidente.
Segundo a mãe dele, Mônica Fernandes Santos, de 37 anos, o garoto sofre com a chamada "dor fantasma", uma espécie de efeito colateral psicológico decorrente da amputação do braço direito, mas está recebendo apoio da família e de amigos de escola para superar o trauma.
Para compartilhar as experiências que está tendo com o processo de recuperação e de adaptação do filho, Mônica criou um blog. Com cerca de uma semana no ar, uma média de 500 internautas por dia entraram em contato com Mônica pelo blog.
"Deram a sugestão de criar o blog para pedir doações, mas não achei isso legal, não. Mas como muita gente vinha me perguntar como ele estava, sobre a recuperação dele, achei que seria uma maneira direta e informal para falar sobre isso", explicou Mônica.
A quantidade de acessos e, consequentemente, de contatos, no entanto, criou uma dificuldade a mais. "Em uma semana, foi um número absurdo de contatos, e estou sem tempo para responder aos e-mails das pessoas. Ainda mais agora, que estou tendo de me dedicar ao meu filho. Mas estamos recebendo sugestões, inclusive sobre essa 'dor fantasma'", contou.
Segundo ela, pouco depois da amputação, o filho não sofria tanto com essas dores, que pioraram muito depois que ele voltou para São Paulo. "As dores aumentaram tanto que se tornaram insuportáveis. Então, eu decidi agarrá-lo por trás e pedi que ele massageasse o meu braço nos pontos onde ele estava sentindo estas 'dores'. Isso ajudou a aliviar. Experiências deste tipo que eu quero compartilhar com quem nos procura", disse.
Mônica diz que o filho já foi inscrito e está passando por triagem na Rede de Reabilitação Lucy Montoro do Hospital das Clínicas e deve iniciar em breve uma série de tratamentos, como o psicológico, terapia ocupacional, além de testes para a confecção e implantação de uma prótese estética.
"Esta prótese é necessária para fazer o balanceamento do corpo, que ficou assimétrico após a amputação do braço", disse.
Aos poucos, Vrajamany está retomando a rotina. Nesta semana, por exemplo, ele voltou à escola onde estuda. "Foi bastante emocionante porque, mais cedo, antes de ele chegar, alunos de várias classes deixaram recados de boas-vindas para ele. Os colegas se ofereceram para ajudar e não ficaram fazendo perguntas nem o provocando sobre o que aconteceu", contou Mônica.
A vontade de ajudar Vrajamany é tanta que, inclusive, tem gerado disputas entre as colegas de classe, segundo a mãe. "Até achei graça quando soube que as meninas estão brigando entre elas para ver quem o ajuda nas lições." A direção da escola ofereceu um notebook para que Vrajamany faça as lições, enquanto ele não aprende a escrever com a mão esquerda.
Para Mônica, não é possível falar em "normalidade" diante do que ocorreu e das consequências, mas o filho tem encarado todas as dificuldades "olhando para frente". "Ele está se sentindo acolhido. Foi ele mesmo que falou naquela entrevista (para o "Fantástico") que não estava olhando para trás", concluiu Mônica.
G1