A menina de 3 anos encontrada sozinha na BR-101 na madrugada de terça-feira (30) reencontrou nesta quinta-feira (2) a família, após a autorização da promotoria de Justiça de Jaguaruna, no Sul catarinense. "Era muita saudade, foi minha maior alegria", disse ao G1 Antônio Carneiro, pai da criança.
O reencontro ocorreu às 13h, quando o Conselho Tutelar de Sangão e assistência social do município levaram a menina Camylly Carneiro para a casa da família em Sangão. Ela correu para os braços da mãe, Márcia Carneiro, e depois não largou mais o irmão Kresler, de 9 anos. "Eles são muito apegados. Ontem eu tive que buscar o Kresler cedo na escola porque ele tava reclamando de dor no peito, de saudade da irmã", conta Antônio.
O promotor de Justiça Fernando Guilherme de Britto Ramos, que emitiu um despacho nesta quinta-feira favorável a volta da criança a família biológica, ligou nesta manhã para o pai. "Ele só queria ter certeza que eu tinha trocado a fechadura de casa, pra ela não fugir mais. Fiz isso ainda ontem à noite", reforça Antônio.
Autorização para voltar para casa
A 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Jaguaruna acatou o parecer entregue pelo Conselho Tutelar na quarta-feira (1), que julgou que a criança pode retornar para a guarda dos pais.
A menina passou as últimas duas noites com uma família acolhedora, designada pelo Conselho Tutelar para cuidar da criança enquanto era avaliado se ela seria devolvida ou não aos pais.
O promotor solicitou, no entanto, que o Conselho Tutelar e Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) continuem acompanhando o caso e façam visitas semanais à casa da criança. O objetivo, segundo o Ministério Público, é proteger a criança, já que houve uma situação de negligência.
O caso
A menina foi encontrada caminhando sozinha no canteiro central da BR-101 na madrugada de terça-feira (30). Ela foi achada por um caminhoneiro, na região do km 363 da rodovia.
O motorista acionou a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que recolheu a criança e a levou para o posto policial até a chegada do Conselho Tutelar.
Testemunhas informaram que a criança estava agasalhada e sem sinais de maus-tratos.
“Os colegas relataram que ela estava bem vestida, tinha bom estado de saúde e foi receptiva com os policiais”, contou o policial rodoviário Carlos Possamani. A menina, porém, não conseguiu explicar aos policiais o que fazia sozinha na estrada.
À Justiça, a família disse que a menina saiu de casa durante a madrugada para procurar o pai, que trabalha em uma olaria às margens da BR-101, sem que a mãe percebesse.
Relatório
Na quarta, o Conselho Tutelar esteve na casa dos pais da menina para verificar as condições no qual ela vive. Após essa visita, o órgão preparou um relatório com um parecer, que foi enviado ao MPSC.
No relatório, o Conselho Tutelar detalha a rotina da família. "Quando a gente vai fazer esse tipo de visita, a gente verifica o ambiente, se tem higiene, se tem quarto para as crianças, cama, alimentação, se elas estão frequentando a aula", explicou Daiana Martins Ribeiro, do Conselho Tutelar de Sangão.
Conversas com pessoas próximas também fazem parte da avaliação. "Buscar informações até com os vizinhos a respeito da família, dos pais, como era o comportamento deles antes desse episódio, se também eles já tinham outros episódios de denúncia com o Conselho", concluiu Ribeiro.
"Eu instaurei um procedimento administrativo para verificar a situação dessa criança, se ela se encontrava em situação de risco. Determinei que o Conselho Tutelar encaminhasse em 24 horas um relatório situacional que ocorreu lá, bem como seria manter o acolhimento familiar", afirmou o promotor de Justiça do MPSC Fernando Guilherme Ramos.
Saiu para procurar o pai
À Justiça, os pais disseram que a menina saiu de casa durante a madrugada para procurar o pai. "Eu consegui ver ela de longe ontem, mas não me deixaram chegar perto dela. Só quem é pai ou mãe sabe a dor de ficar longe do filho. Essa noite foi horrível", disse ao G1 Antônio Carneiro, pai da menina, na manhã desta quarta.
Ele alega que, na madrugada de terça, a filha teria conseguido abrir a porta de casa para ir procurá-lo na olaria onde ele trabalha no período noturno. A menina dormia com a mãe, que diz não ter visto a filha sair sozinha.
O casal prestou depoimento na tarde de terça no Fórum de Jaguaruna, também no Sul. Foi no local que eles viram a menina pela última vez, à distância. "Ele [juiz] queria saber se nós éramos bons pais. Nós nos colocamos à disposição da Justiça. Moramos há 10 anos aqui, os vizinhos também falaram que podem colaborar conosco, para mostrar que somos gente de bem. Foi uma fatalidade", disse Antônio.
O Conselho Tutelar afirmou que não poderia fornecer informações sobre a família acolhedora e que a criança foi transferida durante a tarde de terça de uma casa lar em Tubarãox, Sul catarinense, para os responsáveis provisórios.
'Espero que entendam'
Segundo Márcia Carneiro contou à RBS TV, a filha nunca havia feito nada parecido – a menina teria conseguido abrir a porta, que fica fechada com uma tranca simples, sem chave. A criança foi encontrada perto do local onde Antônio trabalha durante a noite. O pai disse que, quando chegou em casa às 5h, notou que a porta estava aberta e que a filha não estava.
"Ela nunca fez isso. É a pior coisa do mundo. Já pensou, você acordar e sua filha não está ali? Espero que eles entendam o meu lado, vejam a minha situação. Para mim, só de pensar que ela não vai dormir comigo hoje está me dando um desespero, porque ela não está acostumada a fazer isso", desabafou a mãe ainda na terça.
Fonte G1