RISCO
O relato da brasileira é exemplar. Dá a dimensão do desprendimento e empenho de profissionais de saúde que superam o medo de se contaminar e se mantêm fiéis à vocação. Nesse novo surto de ebola, casos assim ficaram patentes. Infelizmente, nem sempre com um bom desfecho. No domingo 27, morreu vítima do vírus o médico Samuel Brisbane, que trabalhava para conter a epidemia na Libéria. Na terça-feira 29, o médico Sheik Omar Khan – o maior especialista no combate ao ebola em Serra Leoa – também faleceu, infectado. Antes, ele havia tratado mais de 100 pacientes. E o médico americano Kent Brantly permanecia internado, contaminado.
Em tempos de epidemia, aqueles com maior risco de infecção são justamente os profissionais da saúde, familiares e outras pessoas em contato próximo com doentes e pacientes falecidos. E é isso o que se está vendo na África nas últimas semanas. Estima-se, por exemplo, que mais de 60 profissionais da saúde morreram até agora.
COMBATE
O agravante, porém, é que médicos, enfermeiros e voluntários estão enfrentando, desta vez, um surto de ebola sem precedentes. Até sexta-feira 1, mais de 1,3 mil pessoas haviam sido infectadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – 729 morreram. Serra Leoa anunciou o fechamento das escolas. Na Libéria, foi declarado estado de emergência. A notificação de casos em Lagos, na Nigéria, deixou o mundo ainda mais preocupado. O temor é que, tendo chegado a uma grande cidade, o vírus se espalhe.
Segundo Margaret Chan, diretora da OMS, ele pode se propagar sem controle e causar perdas humanas catastróficas. “A resposta a seu avanço foi inadequada. O Ebola está se propagando mais rápido do que os esforços para controlá-lo”, afirmou na sexta-feira 1º. Estados Unidos, Europa e Ásia permaneciam em alerta. No Brasil, a ordem é acompanhar com cuidado casos de viajantes que desembarquem com febre ou diarreia. Recomenda-se que viagens não essenciais às regiões atingidas sejam adiadas.
Para médicos como Rachel, Sheik, Kent e Samuel, porém, o tamanho da epidemia não assusta. Ao contrário, estimula a contribuir para soluções. No caso da epidemia de gripe H1N1, foi a mesma coisa: diversos profissionais de saúde envolveram-se tanto que acabaram infectados. “Na China, quando houve o surto da chamada pneumonia asiática, muitos médicos também terminaram contaminados”, lembra Eduardo de Medeiros, da Sociedade Brasileira de Infectologia. “Os profissionais seguem princípios filosóficos e bioéticos, integrantes dos compromissos vocacionais assumidos, e que os fazem superar até o medo da morte”, explica Carlos Vital, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina.
No entanto, colocar intencionalmente a vida em risco, como acontecia em tempos remotos, quando os cientistas usavam o próprio corpo para testar seus experimentos, está fora de questão. “O médico tem a obrigação de preservar o próprio organismo”, adverte Vital. Mas, apesar de existir protocolos de segurança criados para proteger a vida de quem cura, acidentes acontecem. “Você pode eventualmente se contaminar no laboratório”, lamenta Edmilson Migowsky, chefe do Serviço de Infectologia Pediátrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Isto é