A Polícia Civil de Mato Grosso deflagrou, na manhã desta terça-feira (15), a Operação Inimigo Íntimo para cumprir cinco ordens judiciais relacionadas ao homicídio de Ivan Michel Bonotto, de 35 anos, ocorrido em março deste ano em Sorriso. Entre os alvos estão o autor das facadas, o empresário e dono da distribuidora onde o crime ocorreu — apontado como mandante do assassinato — e sua esposa, uma médica do município, suspeita de envolvimento direto na tentativa de ocultação de provas.
Segundo as investigações conduzidas pela Delegacia de Sorriso, o crime inicialmente foi apresentado como uma briga de bar. O proprietário do estabelecimento alegou não conhecer a vítima e sugeriu que a confusão teria começado por desentendimento após consumo de álcool. O suposto executor também se apresentou espontaneamente à polícia, sustentando a versão de legítima defesa. No entanto, os elementos reunidos ao longo da apuração revelaram um enredo diferente: o homicídio teria sido motivado por ciúmes e vingança.
A vítima mantinha uma relação de amizade íntima com o casal e, conforme apontou a polícia, teria um relacionamento amoroso com a esposa do empresário. Sempre que estava em Sorriso, Ivan se hospedava na casa deles. O delegado Bruno França revelou que, diante da descoberta da traição, o empresário teria arquitetado o assassinato, contratando um comparsa para esfaquear a vítima dentro da distribuidora. Câmeras de segurança do local mostraram que Ivan foi atraído ao local e atacado de surpresa pelas costas.
Gravemente ferido, o homem foi socorrido e levado ao Hospital 13 de Maio, onde permaneceu internado por mais de 20 dias. Apesar de apresentar melhora inicial, sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu em 13 de abril. A reviravolta no caso ocorreu quando a Polícia descobriu que, apenas quatro minutos após a chegada da vítima ao hospital, a médica — esposa do mandante — também apareceu na unidade, se identificando como “amiga” do paciente e se apossando do celular dele.
Conforme apurado, a médica usou sua posição para subtrair o celular da vítima e apagar provas que comprometeriam o casal. Em seu poder, ela apagou mensagens, fotos e até um vídeo em que a vítima teria gravado o próprio executor. O aparelho só foi entregue à família três dias depois, já com parte do conteúdo deletado. Em sua justificativa, a investigada alegou que apagou os arquivos “para proteger a vítima”.
Para a polícia, ficou claro que a médica agiu de forma deliberada para obstruir as investigações, sendo considerada mentora da fraude processual. “Ela se utilizou do prestígio da função médica para tentar apagar rastros que pudessem indicar a motivação real do crime e a relação íntima entre a vítima e os suspeitos. É uma das principais responsáveis pela tentativa de encobrir os fatos”, afirmou o delegado Bruno França.
A Justiça acatou o pedido da Polícia Civil e expediu dois mandados de prisão temporária e três de busca e apreensão, cumpridos nesta terça-feira. O casal e o executor foram detidos, e documentos e dispositivos eletrônicos foram apreendidos durante o cumprimento das ordens judiciais. Os envolvidos vão responder por homicídio qualificado e fraude processual.
As investigações continuam para esclarecer todos os detalhes da trama criminosa, incluindo a participação de possíveis cúmplices e o envolvimento de outros profissionais na tentativa de manipular provas. A Polícia Civil reforçou que o caso revela um crime premeditado, com motivação passional e agravado pela tentativa de obstrução da justiça por parte de pessoas com vínculo direto e afetivo com a vítima.