Logo no início de sua fala em coletiva de imprensa, um dia após a aprovação do pacote fiscal pela Assembleia Legislativa, o governador Mauro Mendes apontou para as ações que seu grupo deverá tomar para implantação das medidas.
“Agora, estamos em condições de tomar ações de desdobramento [do ajuste fiscal], em magnitudes um pouco diferentes”.
Antes de completar um mês de gestão, o governador se vê com necessidade de lidar com polêmicas que o seu antecessor, Pedro Taques, carregou nos dois últimos anos de mandato – um conflito com os servidores públicos e um mal-estar com empresários do agronegócio. E, por outro lado, uma questão mais grave agora do que há dois anos, a escassez de recursos para quitar as contas públicas.
“O Taques deixou uma armadilha para o seu sucessor. Os cofres sem dinheiro o suficiente e as contas em crescente. Não havia mais o que fazer, era necessário tomar medidas e medidas duras. Mas, concordo que o pacote aprovado ainda seja tímido”, diz o cientista político João Edisom.
Elas foram aprovadas pela base do governo, que representou a maioria do Legislativo, com modificações que não agradaram a todas as categorias. Ao final da sessão encerrada após as 22h na última quinta-feira (24), servidores gritavam pela adesão à greve geral. A votação a favor da RGA (Revisão Geral Anual) com gatilho de dois anos para reavaliação foi considerada um desafio aos direitos trabalhistas.
“Aprovamos o menor dos males, não foi excelente, mas foi o que conseguimos fazer. Agora é sentar para saber como agir daqui pra frente”, disse a deputada Janaína Riva (MDB), porta-voz dos servidores na Casa.
A temperatura foi uma medida do que o governador Mauro Mendes terá que lidar nos próximos meses de gestão, com o objetivo de contar a tensão.
Sem base de governo
O cientista político João Edisom avalia que o foco do democrata de agora em diante será mitigar os efeitos do desgaste gerado pelas medidas fiscais, concentrado em uma semana intensa de protestos.
“O desafio dele agora é lidar com o lado interior de sua gestão. O pacote de medidas foi o lado externo. O Mauro Mendes terá que construir uma base de governo para conseguir fazer alguma. Se pacote der certo na prática, será meio caminho andado, senão, a situação se complica”.
As negociações internas também passam pelo diálogo com a nova legislatura na Assembleia. A maioria dos deputados que aprovaram seu pacote estará fora da Casa a partir de 1º de fevereiro. Dos 24 atuais deputados, apenas dez permanecem, e a metade votou contra quatro das cinco medidas.
“O governo terá seis meses para construir uma base de apoio. É o tempo necessário para se criar diálogo. E o trabalho pela frente será difícil porque o Mauro Mendes terá que convencer ‘cristãos novos’. É difícil negociar com eles”.
Na coletiva de sexta-feira (25), Mauro Mendes afirmou que uma comissão será criada no Executivo para encaminhar negociações necessárias ao governo. Será um grupo centrado na Casa Civil com a missão de dialogar com servidores e agentes externos.