Um candidato de um partido que não possui os mesmo recursos de agremiações tradicionais promete ser a pedra no calcanhar do atual prefeito de Cuiabá. Mauro César Lara de Barros, o Procurador Mauro (PSOL), sinaliza que a disputa pelo Palácio Alencastro pode não ser uma barbada para Mauro Mendes (PSB), chefe do poder executivo municipal nos últimos quatro anos.
Servidor da carreira da Advocacia Geral da União (AGU), onde exerce o cargo de procurador da fazenda, o cuiabano de 40 anos se mostra disposto a discutir temas polêmicos em sua campanha, como o financiamento empresarial das eleições, além de rechaçar qualquer aliança com outros possíveis concorrentes, caso de Lúdio Cabral, do Partido dos Trabalhadores (PT).
Em entrevista ao Circuito Mato Grosso ele faz críticas à gestão de Mauro Mendes que, segundo ele, não cumpriu a promessa de entrega de um novo pronto socorro, nem melhorou o transporte público de Cuiabá. Confira abaixo.
Circuito Mato Grosso: Fale um pouco da sua origem. Como foi seu início na política?
Mauro César Lara de Barros: Sou cuiabano, na infância morei na cidade alta, me mudando para o jardim Planalto em 1980. Fui alfabetizado em escola rural. A vida toda estudei em escola pública. Fiz um ano de engenharia civil e desisti para depois me formar em direito. Na política, sempre tive afinidade com as ideias de esquerda, pelos ideais de igualdade, redistribuição da riqueza e luta em favor dos mais pobres. Fui filiado ao PT na juventude, mas depois da reforma da previdência, considerei uma traição imensa. Quando a Heloisa Helena fundou o PSOL achei que deveria me filiar. Me decepcionei com o PT, pois, no poder, ele implementou políticas neoliberais, sempre combatidas pelos partidos de esquerda. Achei que o PSOL era um caminho. Aí começamos a participar. Desde a primeira vez que ela esteve aqui, fui ao primeiro encontro, quando o partido foi fundado. Participei da coleta de assinaturas para fundação do partido. Aí quando o diretório foi fundado em 2006 fui escolhido para ser candidato a governador pelos militantes da época, pois sentíamos necessidade de apresentar uma alternativa. Foi aí que a gente começou a persistir numa política correta, sem financiamento de grandes empresários, ao lado dos pobres e do povo, esse é o caminho. Apesar de existir um discurso contra a política, para mudarmos a vida das pessoas precisamos dela. Temos conseguido resultados. Com poucos recursos, conseguimos o primeiro lugar para deputado federal em Cuiabá e Várzea Grande em 2014. Sem abandonar os princípios, pois não apelamos ao “vale tudo” para se eleger. Os fins não justificam os meios.
Circuito: Você é um dos principais postulantes ao cargo de prefeito de Cuiabá. Sua candidatura vem encontrando apoio no PSOL?
Procurador Mauro: O PSOL nacionalmente tem divisões. Ele é estruturado em correntes. Mas tivemos reuniões ao longo desse tempo e tudo se encaminha para um apoio unânime, do diretório municipal e estadual.
Circuito: Qual avaliação você faz da gestão do prefeito Mauro Mendes?
Procurador Mauro: Avalio como uma gestão ruim, pois não cumpre as promessas. Na campanha muitas promessas foram feitas. No horário eleitoral ele dizia textualmente que o mandato se iniciaria em 1º de janeiro de 2013 e no dia 31 de dezembro de 2014 ele entregaria o pronto socorro mais moderno do Centro Oeste. Em 2016, ano da campanha, vemos que há apenas uma terra mexida ali próximo ao Centro de Eventos do Pantanal. O prefeito está mais preocupado com o ano eleitoral. Só algumas coisas que foram prometidas estão sendo tocadas, mas de maneira muito superficial. A CAB não melhorou o sistema de distribuição de água e coleta de esgoto. Ele disse no horário eleitoral em 2012 que todo ônibus teria ar-condicionado, e hoje quem anda de ônibus conhece os transtornos que é depender dele. O transporte coletivo não funciona, muito menos o saneamento. Os enfermeiros e médicos vivem fazendo greve. Tudo o que ele promete está só na propaganda. Não houve melhoria palpável dos serviços públicos. A gestão vem sendo tocada como uma versão Chico Galindo 2.0
Ele disse no horário eleitoral em 2012 que todo ônibus teria ar-condicionado, e hoje quem anda de ônibus conhece os transtornos que é depender dele
Circuito: Como executivo que pediu na justiça recuperação judicial de suas empresas recentemente, você acha que o Mauro Mendes “empresário” pode influenciar negativamente na prefeitura?
Procurador Mauro: Quando você faz uma campanha com dinheiro de grandes empresários, ou com recursos próprios como é caso dele, o foco da sua gestão não é mais oferecer serviços públicos de qualidade. Você quer ter retorno e isso leva a serviços de baixa qualidade. A lógica empresarial na administração pública não é compatível. A administração pública não tem como objetivo lucro e sim serviço público de qualidade. Quando você paga uma taxa, você precisa ter atendimento de qualidade na saúde, educação e nos transportes. A aplicação dessa lógica empresarial e os acordos com empresários que existem prejudicam a administração pública, que precisa ser voltada para a população.
A administração pública não tem como objetivo lucro e sim serviço público de qualidade
Circuito: Cuiabá possui um problema histórico em relação à regularização fundiária. Quais as suas propostas para sanar esse problema?
Procurador Mauro: Aqui no partido estamos trabalhando com organização das propostas, para que elas sejam compatíveis com os municípios. A regularização fundiária é um dos temas que vem sendo discutidos. É importante que o município consiga avançar. Aqui segue a lógica eleitoreira. Só existe a iniciativa de regularizar os títulos de propriedade na época das eleições, só para conseguir dividendos políticos. Fazem ações cujo objetivo é a troca pelo voto. Estamos criando grupos de trabalho para apresentar todas essas propostas. Como ainda estamos nessa discussão, não acho de bom tom divulgá-las por enquanto. Estamos consultado especialistas das mais diversas áreas para buscar soluções. Não podemos querer um gestor que fique encastelado, tomando decisões sem consultar a sociedade. Devemos avançar para o governo popular. A população precisa decidir. No VLT, por exemplo, o ex-governador Silval Barbosa, sozinho, encastelado, optou pelo modal em detrimento ao BRT. Teria sido muito mais justo se tivessem ouvido a população. Independente de estar certo ou errado, pelo menos teríamos a legitimidade de que foi uma escolha que partiu das pessoas. Temos que avançar nesse sentido. Às vezes o gestor quer decidir sozinho, mas o correto é que decisões importantes sejam abertas à população. A constituição dá possibilidade de utilização de referendo e plebiscito. Mas isso aconteceu poucas vezes. A população poucas vezes foi ouvida.
Circuito: Na sua avaliação o VLT pode ser bom ou ruim para Cuiabá?
Procurador Mauro: O que temos aí não é o VLT, e sim uma obra inacabada. Pelo que acompanhamos, o VLT seria uma solução de alta tecnologia. O grande problema do VLT é que a obra foi feita às escuras, não há transparência para mostrar à população o custo do projeto, qual é o projeto etc. Assim como as avaliações. Foi contratada uma consultoria para avaliar a situação da obra, mas os resultados das análises também não foram entregues para a população analisar. O VLT em sua essência, construído a preços corretos, é uma solução tecnológica boa para Cuiabá. O VLT já seria mais moderno do que os ônibus sem ar-condicionado, como temos em Cuiabá. É o passado do passado. Completamente anacrônico.
Circuito: Você pensa em focar sua campanha em determinada área?
Procurador Mauro: A saúde hoje é a principal demanda. É difícil ouvir que uma pessoa ficou 12 horas para ser atendida. Se ela chegou a esse ponto é porque já está numa situação crítica. A questão que iremos trabalhar como prioritária é a saúde. Elencaremos a saúde como o principal tema da campanha.
Circuito: Você teve uma votação de mais de 80 mil votos na campanha para Câmara dos Deputados em 2014. Se você vencer a disputa para a prefeitura irá terminar o mandato?
Procurador Mauro: Pode ter certeza que numa vitória, que acreditamos que é perfeitamente possível, vamos terminar o mandato. Quando você se apresenta como candidato é para cumprir os quatro anos de mandato.
Circuito: Lúdio Cabral vem sinalizando que pode não disputar as eleições para prefeito de Cuiabá. Você avalia uma aliança política com ele?
Procurador Mauro: De modo algum. Não existe possibilidade de composição de chapa. Nossa aliança é com a população, não com partidos. Vamos trazer a população para nossa campanha. Nesse período de pré-campanha, estamos realizando reuniões e contando com voluntários. O PSOL nacionalmente tem orientação de realizar alianças apenas com o PCB e o PSTU. Mas esses partidos não possuem representação em Mato Grosso. Fora esses dois partidos, não há possibilidade de aliança com nenhum outro partido.
Circuito: Você acha que a crise política do Governo Federal pode influenciar negativamente em Cuiabá ou Mato Grosso?
Procurador Mauro: Acho que o cenário nacional, em relação ao ataque dos direitos dos trabalhadores, no seguro-desemprego e nas pensões das viúvas pode, sim, prejudicar não só a capital como todo o Brasil. Já se fala até numa nova reforma da previdência. A população não estará alinhada com esses representantes. São pautas de precarização de direitos dos trabalhadores. Quem estiver a favor dessa pauta, sofrerá um revés nas urnas. Mas quem estiver contra elas pode conquistar a simpatia da sociedade.
Circuito: A chapa que você encabeça já possui vice?
Procurador Mauro: Ainda estamos discutindo dentro do partido qual será o vice da chapa.