O governador Mauro Mendes (DEM) corre contra o tempo para começar a colocar em prática seu próprio modelo de gestão. À véspera do centésimo dia de mandato, o democrata ainda lida com as dificuldades de escassez de dinheiro em caixa, hoje com uma proporção de apenas R$ 1 para investimento a cada R$ 100 que entram na conta do Estado.
O cientista político João Edisom diz que sem dinheiro, o governo não conseguirá se mover, e o lado político da gestão pode passar apagado, o deixando numa mesma situação de saída do antecessor Pedro Taques (PSDB).
“Mauro Mendes vai ter pressão mais forte que o Taques teve. Porque ele terá a reforma fiscal, com reformulação do Fethab (Fundo Estadual de Transporte e Habitação) e os cortes estão sendo feitos para gerar economia. O Fethab 2 começou a valer no último ano do mandato de Taques, então houve menos pressão para ele; Mauro Mendes tem quatro anos pela frente”.
E as demandas são urgentes. Serviços na saúde estão num momento aguda de falta de estrutura – que apareça na crise da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá; as obras não concluídas pela gestão de Taques continuam paradas, e o salário dos servidores deve continuar em pagamento escalonado ao longo deste ano.
A saída encontrada pela equipe econômica de Mauro Mendes foi o empréstimo junto ao Banco Mundial de até US$ 332 milhões. O dinheiro entraria na conta do Estado para quitar a dívida com o Bank of America de cerca de US$ 270 milhões, cujo prazo de quitação encerra em 2022. Os sucessivos governos, desde 2012, têm desembolsado duas vezes por ano milhões para cumprir o contrato. Nesta semana, a Sefaz (Secretaria de Fazenda) liberou R$ 146 milhões.
Caso o governo consiga encaminhar o empréstimo, o tempo de pagamento será prolongado para 20 anos e as parcelas serão pagas mensalmente, mas numa cifra bem mais abaixo. A equipe econômica do governo estima que R$ 700 milhões devem ficar no caixa com a mudança, é um nicho para o governo tocar seu projeto.
“O governo vai precisar bem mais do que isso para conseguir fazer as suas obras, R$ 700 milhões é muito pouco. Vai ter que contar com o Fethab e vai ter que contar com o FEX (Auxílio de Fomento à Exportação) para caixa mais robusto”, diz João Edisom.
Economia, política e eleições
E o desafio do governo será reverter o quadro desfavorável vem que incomodando pela justificada escassez de fluxo de caixa. Por exemplo, as datas da folha salarial dos servidores. “O governo tem até o fim do ano para baixar a data dos pagamentos aos servidores e conseguir pagar o 13º em dia. A relação dos servidores com o governo sempre vai ser antagônica, mas se os salários estiverem em dia, eles vão fazer menos barulho, e a voz deles ecoa quando estão insatisfeitos”, diz o cientista João Edisom.
Em outra frente, o governo terá que mostrar mudanças no setor de infraestrutura, dado que a reformulação dos Fethab mexeu no bolso dos empresários do agronegócio, com o prolongamento de imposto que estava restrito ao final de 2018 e o aumento da cota.
“Os produtores não ficar quietos se o governo não conseguir mostrar trabalho no setor da infraestrutura, porque eles vão conseguir escoar sua produção. Com o novo Fethab, o Mauro Mendes entrou em embate com os produtores, então ele terá que fazer alguma coisa”.
O tempo de gestão na calmaria tem mais fator complicador, que pode começar a aparecer a partir de julho. Os partidos começam a ver convenções para definir sua concorrência nas eleições de 2020, e na prática articulações começam se configurar, a favor ou contra o governo.
“Mauro Mendes terá que prestar a atenção na Assembleia Legislativa, que tem hoje a maioria de Baixada Cuiabana. Hoje, ele tem a maioria no Legislativo, mas não é uma maioria consolidada, ou seja, qualquer coisa pode levar uma nova configuração. E o governo não pode ter a prefeitura da capital contra si”.