Cidades

Mauro Mendes ‘bate o pé’ e não entra em acordo com médicos

Ahmad Jarrah

“Nós vamos agir sempre de acordo com a lei. Aqueles que estiverem faltando e a lei permitir, nós vamos demitir”, ameaça o prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB), nesta quarta-feira (30), os médicos da rede municipal que deflagraram greve há quase quatro semanas.

Para o prefeito, a paralisação dos profissionais de saúde tem caráter politico, pois já foi declarada ilegal pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso. “O sindicato tem atuação em todos os outros 140 municípios do Estado, mas nunca fez uma greve nessas cidades. Em Cuiabá, já é a quarta greve de um sindicato nitidamente com viés político. Uma presidente que tem filiação partidária e que fez mais de uma greve”, afirma.

A presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindmed), Eliana Siqueira, esclareceu ao Circuito Mato Grosso que não tem filiação partidária e nem pretensão política com a greve, e que ser candidata à prefeitura não está em seu planos. “Isso não passa de fofoca para desqualificar o Sindicato”.
O prefeito ainda disse que nem todos os médicos do município aderiram à greve, e que as punições, como corte de ponte, serão apenas para os paralisados. “Respeitar o servidor é punir aqueles que agem mal. A maioria dos médicos são bons profissionais. Em respeito aos bons profissionais, nós iremos punir aqueles que agirem de forma inadequada, pelo desacordo com a lei e o código do servidor”, disse.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Município, os salários, prêmios e incentivos dos médicos faltosos já estão sendo cortados desde segunda-feira (28). “Gradativamente, o movimento perde força. Aqueles que não trabalharam tiveram seus salários cortados, pois a greve foi declarada ilegal pela Justiça. Se a greve é ilegal, não resta outra atitude da Prefeitura, que não a de cortar o salário daqueles que não estão trabalhando. Aquele que não trabalha não irá receber”, declarou o prefeito.

Apesar de afirmar que está aberta ao diálogo com a categoria, a gestão Mauro Mendes tem o discurso na ponta da língua desde quando a greve foi considerada ilegal: não há acordo com grevista. Isso porque a maioria das demandas dos médicos estão judicializadas. 

Paliativo

Para amenizar a falta de médicos, e atender parcialmente as demandas da categoria, a Prefeitura contratou 15 profissionais este mês para a reposição dos plantões descobertos nas unidades municipais. Segundo a assessoria de Saúde do Município o número de contratações pode chegar a 26 novos médicos. 

Contudo, o Sindicato dos Médicos aponta a falta de 43 médicos plantonistas nas Policlínicas e Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

O secretário adjunto de Assistência, Daoud Mohd Khamis Jaber visitou algumas das unidades da capital no dia 24 de março e informou que os levantamentos realizados pela Secretaria de Saúde indicam que o atendimento está sendo garantido, com o funcionamento em 100%, do Hospital Municipal São Benedito, Pronto Socorro Municipal de Cuiabá, Centro de Especialidades Médicas, Serviço de Atendimento Especializado e Centros de Atendimento Psicossocial.

“A maioria dos médicos atua com responsabilidade no atendimento à população e com respeito à sociedade. Nessas unidades, 100 % dos profissionais médicos estão trabalhando”.

Greve

Os médicos exigem melhores condições de trabalho, escala de plantões das unidades de urgência e emergência com preenchimento total de médicos e, ainda, a implementação do piso salarial nacional de R$ 12,9 mil, por 20 horas semanais, em vez do piso municipal que é de R$ 3,8 mil. 

Saúde Estadual

Os servidores da Saúde Pública do Estado não estão satisfeitos com as condições estruturais da Saúde de Mato Grosso. “Nós não descartamos nenhuma possibilidade de greve. Neste atual governo nós suspendemos dois indicativos de greve buscando diálogo e negociação, mas nada aconteceu”, revela o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos da Saúde e do Meio Ambiente (Sisma/MT), Oscarlino Alves.

Os trabalhadores se reuniram com parlamentares para uma audiência pública na segunda-feira (28), na Assembleia Legislativa. Eles pedem a realização de concursos públicos, para diminuir a quantidade de trabalhadores terceirizados, condições dignas de trabalho, reforma das unidades de Saúde, mobiliário adequado para as condições ergonômicas do trabalhador, aposentadoria especial, dentre outras demandas. 

“Estamos há 14 anos sem concurso público, o Estado de Mato Grosso tem por volta de 40 unidades totalmente depreciadas e sucateadas. Sem mobiliários, sem condições mínimas de trabalho. Os estoques de medicamento não se regularizam, insumos… Em posse de todos esses agravantes nós não conseguimos transformar isso em serviços dignos e de qualidade à população”, aponta o presidente.

O Estado admite a falta de infraestrutura e precariedade do sistema, contudo aponta a crise econômica do País como um dos principais entraves para a melhoria do sistema.

“Estamos em uma crise lá fora, e esta crise está nos afetando, e nós precisamos encontrar uma saída conjunta e de bom senso de equilíbrio. Contamos com os servidores, entendemos que a valorização é o caminho e precisamos ter uma cabeça arejada neste momento, precisamos encontrar alternativas possíveis – e vamos encontrar”, afirma o secretário de Saúde do Estado (SES) de Mato Grosso, Eduardo Bermudez.

Veja mais na edição 577.

 

Cintia Borges

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