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Mato Grosso registra 17 acidentes por dia nas rodovias

Por Raul Bradock e Cátia Alves

Fotos: Ahmad Jarrah

Alinauda Oliveira Arantes Greselle saiu de casa, em Várzea Grande (MT), dia 21 de outubro passado rumo à casa de uma filha no interior de estado. Na bagagem de ida seguia a saudade do reencontro, que agora a acompanha constantemente. Alinauda perdeu de uma única vez a filha, genro e um casal de netos gêmeos de dois meses de idade em um acidente da BR-364 no dia 24, três dias depois, quando voltava para casa. As quatro vítimas da mesma família se tornaram números a acrescentar nas estatísticas que despontam 4.778 acidentes e 174 mortes se somadas às ocorrências nas rodovias estaduais e federais. Esse número equivale a 17 acidentes registrados por dia nas estradas de Mato Grosso. De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), 2.375 acidentes foram registrados de janeiro a setembro em rodovias federais (BRs), responsáveis por 156 mortes. Dados da Secretaria de Estado e Segurança Pública (Sesp) apontam 2.403 acidentes nas rodovias estaduais (MTs) e 18 mortes no mesmo período.

Três em cada dez caminhoneiros já sofreram acidente

Levantamento realizado entre a Rota do Oeste e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o programa ‘Parada Legal’ mostra que três a cada dez caminhoneiros já sofreram algum acidente. Eles representam, segundo a Rota do Oeste, 68% dos 70 mil usuários que trafegam diariamente pelas principais rodovias do Estado, BR-163 e BR-364. Engrossam estes dados o fato de que 40% dos veículos que se envolvem em acidentes são de carga.

Segundo o gerente de tráfego da Rota do Oeste, Fernando Milléo, fatores como a quantidade de caminhões trafegando pelas rodovias do Estado e as longas viagens – que terminam refletindo em cansaço dos motoristas – influenciam nesse dado negativo. O excesso de peso e a alta velocidade também estão entre as condutas que levam à ocorrência de acidentes.

 

Há oito anos na estrada, João Carlos Rezende, que mora no Paraná, contou a realidade vivida nas estradas. “Morre gente nas estradas todos os dias. Agora nem tanto, porque a safra deu uma parada, mas na época de colheita morre gente todo dia e isso por causa da estrada”. Para ele a falta de paciência de alguns motoristas é a principal causa dos acidentes.

“Nós já não temos estradas, ai forma-se aquelas filas de 5 km e vem os caras com o carro baixo, não tem paciência de esperar, acham que caminhão está ali só estorvando], ai ele vai ultrapassar você, vem um caminhão na outra pista e você é obrigado a jogar seu caminhão para fora da pista”, criticou.

"Pagamos pedágio, mas não há pista dupla e nem acostamento”

Transitam no dia a dia violento das rodovias de todo o País mais de 2 milhões de motoristas profissionais, que tiram do volante o sustento de suas famílias. O caminheiro João Machado já está nas estradas há 41 anos e reclama das condições das estradas.

“As piores estradas que eu conheço estão em Mato Grosso. Nós temos uma lei que nos obriga a dirigir por um determinado tempo, e descansar em outro, mas aqui não dá, não tem acostamento”, contou.

E emendou:  “Tudo que a gente veste e calça, se alimenta, tudo vem por meio dos caminhões. Se quebra um caminhão tem que parar no meio da pista, pois se você sair para fora da faixa o caminhão tomba, mas o pedágio é sagrado. O dinheiro daquilo lá vai para os políticos. Cobra-se pedágio, mas não tem pista dupla, não tem acostamento”, desabafou ao Circuito Mato Grosso.

Por outro lado, João Machado faz parte da estatística positiva. Ele nunca sofreu um acidente e o segredo é a direção defensiva. “Eu nunca sofri acidente, graças a Deus, pois eu me cuido muito e cuido dos outros. O motorista tem que dirigir para ele e para os outros, cuidando na frente e atrás”.

Imprudência ainda é a principal causa de acidentes 

Segundo o superintendente da Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso (PRF/MT), Arthur Nogueira, grande parte dos acidentes está relacionada diretamente à falta de atenção do motorista. “Mais de 90% dos acidentes estão ligados diretamente à conduta do motorista. Se ele tivesse obedecido à velocidade permitida, a sinalização e focado naquilo que está fazendo, que é a condução do veículo, esses casos reduziriam”.

Arthur elenca que a falta de atenção é ligada às ‘saídas de pista’. “É aquele momento em que ele dá uma cochilada ao volante; a pista está molhada e ele perde o controle; entra em uma curva com velocidade acima; quando cruza algo na frente do veículo ou ocorre defeito mecânico – que são raros, isso tudo faz com que o veículo saia da pista e provoque um acidente”.

“O cidadão precisa fazer a sua parte para garantir que chegue ao seu destino. Não é a rodovia que é perigosa, mas sim os motoristas que nela trafegam”. Os números de mortes nas rodovias tiveram uma leve redução de 170 casos até setembro de 2015 para 156 no mesmo período deste ano.

“Houve uma redução, mas os números ainda continuam altos. O motorista precisa entender que há uma grande diferença entre dirigir nas ruas da cidade e em uma rodovia, onde a massa dos veículos e a velocidade são muito maiores. Nessa dinâmica, um choque entre uma carreta de 90 toneladas com um veículo de passeio chega a ser covardia”, explana o superintendente.

De acordo com Arthur, as colisões frontais são recorrentes porque muitos condutores não conseguem fazer as ultrapassagens. “A pessoa precisa conhecer o veículo, ter noção do espaço que tem e conhecer da sinalização”.

Ele explica que o fato de os veículos serem maiores nas rodovias contribui para as ultrapassagens mal sucedidas. “Acontece muito de a pessoa ir ultrapassar e não conseguir sair de uma carreta de 20m – que tem milhares rodando em MT – vem outro veículo na mão contrária e eles acabam se chocando. Colisões frontais são os principais causadores de mortes”, conta.

Condutores devem ficar atentos à legislação

Segundo o gerente de operações da Rota do Oeste, Fernando Milléo, os condutores devem praticar a direção defensiva, seguir irrestritamente a legislação de trânsito, respeitar limites de velocidade e a sinalização. A Rota do Oeste é a concessionária responsável pela BR-163.

“Especificamente na BR-163, pelas suas características, outras condutas importantes são: não ultrapassar em local proibido ou forçar ultrapassagens perigosas, mesmo em local permitido; não usar o celular durante a condução, não dirigir com sono, não dirigir embriagado ou sob efeito de entorpecentes e usar sempre o cinto de segurança, inclusive no banco de trás”, alerta o gerente.

Ainda de acordo com Milléo, as colisões traseiras são as mais recorrentes na BR-163 e representam em torno de 25% das ocorrências. “Esse tipo de acidente costuma ser provocado por falta de atenção do motorista, aliada ao excesso de velocidade”.

Mas, como proceder ao presenciar um acidente? Qualquer um pode ajudar? Pra quem ligar? Essas dúvidas são bastante frequentes e quem já presenciou um acidente sabe como é.

Ao presenciar um acidente, o condutor deve: Acionar o 0800 065 0163 da Concessionária, se a ocorrência for na BR-163, ou a Polícia Militar (190) e o Samu (192), se o acidente ocorrer em outras rodovias.

Segundo Fernando, o solicitante deve “informar o local do acidente, quilômetro onde ocorreu o caso, ou algum ponto de referência. Informar a quantidade de vítimas, o que também ajuda no trabalho das equipes de socorro. Devemos lembrar que o atendimento é diferenciado para cada caso”.

Investimentos nas rodovias estaduais

De acordo com pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), as ações da atual gestão da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra) melhoraram a situação do pavimento das estradas de Mato Grosso. A pesquisa revela que o Estado aumentou o índice de estradas federais e estaduais classificadas em estado geral como "ótimas", passando de 0,7% em 2013, para 2,1% em 2014, 9,6% em 2015 e alcançando 13,1% em 2016.

Fator a relevar que os condutores ainda são os principais responsáveis pelos acidentes.O caso que mais chama a atenção entre as rodovias avaliadas é o da MT-130, no trecho entre Primavera do Leste e Paranatinga. Trata-se de uma importante estrada utilizada para escoar a produção do agronegócio, mas que, nos anos anteriores, estava sem receber a devida manutenção. Nessa estrada, foram registradas oito mortes de 2014 até setembro de 2016.

A rodovia era tida como regular, e agora recebe o selo de ótima da CNT. A situação da MT-130 mudou após a Sinfra executar a recuperação de 112 km da rodovia, com a reconstrução do velho pavimento que estava degradado. A rodovia ainda está com trechos sendo recuperados.

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Raul Bradock

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