A Polícia Federal (PF) passa a integrar as forças de segurança do estado de Mato Grosso no combate às ações das facções criminosas. Em coletiva realizada na manhã desta terça-feira (23) na sede da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), o delegado Ricardo Ruiz, do setor de Combate ao Crime Organizado da instituição, falou das ações que começaram na Operação Panóptico Integrada II, em Cuiabá.
“Esse trabalho marca o início de uma nova fase de integração entre as forças com a participação da Polícia Federal. A orientação da nova direção geral da instituição é o foco no combate à corrupção e também facções criminosas. A PF está iniciando esse trabalho conjunto com as forças de segurança estaduais com material humano e tecnológico”, explicou o delegado.
O delegado também narrou que além do material há um acordo para que policiais atuem diretamente nas investigações junto às polícias Militar e Civil. “Existe um acordo que está sendo estabelecido para trabalharmos, inclusive de maneira formal, com uma equipe trabalhando exclusivamente com esse foco de combate às facções criminosas e estaremos à disposição da Sesp para realizar esse trabalho que é o norte da nossa direção geral”, afirma.
O diretor geral da Polícia Civil, Fernando Vasco Spinelli Pigozzi, também falou do início da nova parceria: “Com essa nova parceria com a PF, quem sai ganhando é o cidadão de bem”.
O delegado da Polícia Federal Carlos Augusto Schwengber explicou como se dará o apoio da PF à Sesp no combate às facções. “A intenção é que seja ampliada a colaboração das polícias. E que essa atuação não ocorra mais de forma pontual e passe a ser permanente, com a troca de informações, experiências, tecnologias, sendo um trabalho de conjunto mesmo”, afirmou.
Ricardo Ruiz falou que em virtude de o problema relacionado às facções ser nacional a direção da instituição pediu a aproximação da PF junto aos órgãos de segurança estaduais para combater de fato as facções que praticam roubo a banco, tráfico, entre outros.
“A Polícia Federal vem direcionando o seu trabalho para esse enfoque (combate às facções), já realizávamos antes esse trabalho, porém hoje o enfoque é muito maior e para isso vamos nos unir às forças de segurança estaduais; temos hoje policiais federais trabalhando dentro de um núcleo especializado da Polícia Civil daqui (Mato Grosso) que gerou esse apoio à operação que foi deflagrada nesta terça-feira”, explicou.
Parceria nacional
A parceria já vem acontecendo em outros estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará, e vai se expandir para todo o país. “Aqui em Mato Grosso a PF cada vez mais irá se direcionar a isso, e vamos ceder mais policiais, vamos levar a nossa tecnologia e know-how e aprender com as forças estaduais, tudo visando ao combate à criminalidade e melhoria de vida da população”, explicou Ricardo.
Na manhã desta terça-feira as forças de segurança deflagram a Operação Panóptico Integrada – Fase 2, em que foram expedidos pela 7ª Vara de Combate ao Crime Organizado da Capital 13 mandados de busca e apreensão em continuidade ao trabalho de repressão a facções criminosas.
“A Operação Panóptico teve um objetivo específico de enfrentamento ao crime organizado. Em outra fase contamos com o apoio da Polícia Militar, e nesta fase de hoje (terça-feira) tivemos a satisfação de ter apoio da PF. Essa fase visa identificar os integrantes que se dizem faccionados e todos que forem identificados como membros serão presos em flagrante por associação criminosa”, disse o delegado Diogo Santana, da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO).
O delegado disse que todos que forem identificados como faccionados responderão pelo crime previsto na Lei 12.850 que prevê: “(quem) promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa responderá a pena – reclusão, de três a oito anos, e multa”.
“Todo dado coletado durante as operações é tratado e encaminhado ao setor responsável policial; uma vez identificados outros indivíduos, eles são indiciados e encaminhados ao Poder Judiciário. Essa operação será constante e reiterada, no combate ao crime organizado, e novas fases da Panóptico virão, agora com apoio da Polícia Federal”, explicou Diogo.
As ordens judiciais são cumpridas em endereços residenciais nos bairros CPA (setores I, II, III e IV), Jardim Umuarama, Jardim Brasil, Altos da Serra, Jardim Florianópolis e Jardim Milênio, todos localizados em Cuiabá.
A operação de caráter preventivo visa coletar dados sobre a facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios, na prática de diversos crimes como tráfico de drogas, atentados a membros e órgãos públicos, crimes patrimoniais (roubos e furtos em residências, comércios e veículos), homicídios, explosão de caixas eletrônicos e outros.
"Estamos potencializando nossas forças operacionais, incluindo todo o sistema de segurança pública estadual, sistema penitenciário, o Ministério Público, o Poder Judiciário, e agora a Polícia Federal, para trabalhos conjuntos em resposta às ações da criminalidade organizada", afirmou Gustavo Garcia.
Resposta aos ataques
Dois ataques foram realizados a órgãos de segurança do Estado em menos de uma semana: na madrugada de quarta-feira (18/04), bandidos de uma facção criminosa realizaram um ato de vandalismo e explodiram e picharam o muro da Secretaria Estadual de Segurança Pública; já nesta segunda-feira (23), a base da Polícia Militar no bairro Lixeira foi alvo de possível ataque realizado por uma facção criminosa. Em áudio que circulou nas redes sociais, ouve-se uma pessoa relatando pelo rádio comunicador que a base foi alvo de ataque e que o suspeito após realizar os disparos fugiu em uma motoneta Honda Biz preta, trajando roupa também de cor preta, tomando rumo ignorado.
O secretário Gustavo Garcia, durante a coletiva, disse que os criminosos ligados a facções estão se sentindo incomodados com o trabalho da segurança pública. Em referência ao ataque na Sesp, o secretário foi enérgico e disse que a segurança pública é o poder do Estado.
“De toda forma, o meu pensamento (após o ataque) não muda, nós somos o poder de Estado, nós estamos no comando e vamos continuar prendendo como prendemos hoje, todas as investigações já estão sendo realizadas pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) e pela atuação permanente da Polícia Militar, nós temos prendido diversas pessoas e vamos continuar prendendo, e não nos sentimos desestimulados, estamos com o moral elevado e imbuídos no intuito de garantir a segurança de todos”, disse.
“Independente de existir facção ou não, nós vamos continuar empregando todo o nosso efetivo que é muito capacitado e treinado para enfrentar qualquer facção criminosa no estado de Mato Grosso”, completou o secretário.
Já o secretário de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), Fausto José Freitas da Silva, falou do trabalho realizado dentro dos presídios para coibir as ações das facções nesses locais.
“Tem uma lei tramitando que visa obrigar as operadoras de telefonia a realizar o bloqueio de celulares, já foi aprovada no Senado e tramita hoje na Câmara Federal. Temos que trabalhar atualmente com alternativas, porque os sistemas de bloqueio de celulares atualmente são muito caros, para a gente instalar hoje em uma única unidade, por exemplo, a Penitenciária Central do Estado (PCE), fica algo em torno de cinco a seis milhões de reais, um sistema eficiente, é algo que os estados hoje não têm esse investimento para esse tipo de tecnologia”, explicou Fausto.
O secretário informou também que a comunicação de dentro das unidades para fora não é a única responsável pelas ações de facções que acontecem no estado.
“Vem sendo divulgado, e de maneira muito forte, que tudo o que acontece é por conta da comunicação, nós entendemos que o combate é necessário, porém efetivamente, se conseguirmos fazer o bloqueio, em um primeiro momento terá um reflexo muito positivo na redução da criminalidade, mas efetivamente esse não é o único fator que resolve o problema, em São Paulo, por exemplo, existem bloqueadores de celulares nas maiores unidades onde estão concentradas as lideranças do crime organizado e nem por isso deixou de existir crime em São Paulo”, comentou.
O secretário da Sejudh ainda frisou que nas unidades prisionais estão sendo feitos trabalhos para coibir a entrada de celulares e outros materiais ilícitos, mas um problema maior na visão de Fausto seria a entrada de uma arma de fogo na unidade, que isso poderia acarretar uma tragédia muito grande, então, trabalhos estão sendo realizados todos os dias para apreender todo e qualquer tipo de materiais irregulares nos presídios.
“Ainda não é o resultado que nos deixa contentes, mas temos buscado mecanismos para mudar isso daí, com os instrumentos que temos hoje e investindo em tecnologias para melhorarmos ainda mais, porque as diversas apreensões que foram feitas nas unidades, mostram que os materiais ilícitos entram de diversas formas, por meio de visitantes, representantes de órgãos que fazem a defesa dos criminosos, servidores públicos e até por drones que já identificamos, mas vamos melhorar a parte humana e operacional e a parte de tecnologia para ter melhores resultados”, afirmou Fausto.
Ainda na manhã de terça-feira (25), uma operação na PCE com agentes penitenciários e policiais do Batalhão de Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) apreendeu 93 celulares e vários carregadores, além de garrafas PET com aproximadamente 80 litros da bebida artesanal conhecida como “Maria Louca” (frutas fermentadas).