No corredor que dá entrada ao mundo adulto existe um cabide de máscaras. Cada uma pega a sua conforme o papel que vai representar na sociedade. Elas já estão etiquetadas de acordo com as “normas” das convenções sociais. A maioria de nós nem precisa se preocupar, de alguma forma, sabemos qual delas vestir, apenas olhando a etiqueta.
As máscaras já contêm os traços das emoções e sentimentos que cada um, conforme a profissão ou cargo, quer mostrar aos outros. Podem ser de austeridade, desprezo, arrogância, prepotência, humildade, empatia, vaidade, etc. Algumas acumulam sinais de duas ou mais emoções.
Se um vendedor errar na escolha e pegar a arrogância não vai ter sucesso no trabalho. Os clientes não suportarão na sua cara sinais que toleram em outras profissões. Ele deve escolher a da empatia e cordialidade.
O professor já sai da faculdade fantasiado de intelectual. Alguns levam ainda a máscara da arrogância que alternam com a primeira.
O empresário geralmente vai substituindo, conforme o progresso financeiro, a sua fantasia. Se começa como empregado, usa a da humildade, trocada diversas vezes, à medida que aumenta o poder e a fortuna, até ficar com a da vaidade. É o ponto onde se acha mais inteligente que os outros e passa a dar conselhos.
Os médicos, quase sempre, já escolhem a sua na escola. Quando vestem roupa branca e penduram o estetoscópio no pescoço, incorporam a expressão da indiferença, às vezes também de desprezo.
Os magistrados assim que passam no concurso público já agarram a sua (prepotência/ arrogância/ vaidade) e costumam até dormir com ela.
Os políticos, quase todos, pegam duas. Uma para a campanha (humildade/ empatia) e outra para exercer o cargo (indiferença/ soberba) que usarão até o próximo pleito.
Pastores e padres vestem-se com a expressão de bondade, mas não conseguem esconder um risinho de prepotência que fica no canto da boca.
Os policiais pegam a “cara de mau” e às vezes esquecem-se de tirá-la em casa, assustando as crianças da vizinhança.
Funcionários públicos ficam com a da indiferença. Artistas, na falta de uma máscara com cara de deus, contentam-se com a de “nós somos humanos como qualquer um”
Novo-rico não dispensa a de êxtase com a próprio sucesso. No repórter fica bem a do atrevimento, na freira a da humildade. No vegano a de bicho-grilo. O puxa-saco pega muitas que usa conforme a ocasião.
Muitos, mesmo querendo, não conseguem mais se desfazerem das máscaras que pegaram no cabide.
“Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.”
(Fernando Pessoa – Tabacaria)
P.S. Aqui em Cuiabá um candidato, durante um processo eleitoral, arrancou uma máscara carrancuda que usou por muitos anos, trocando-a por outra com um enorme sorriso. Perdendo a eleição desfez-se dela, mas não conseguiu recuperar a antiga que sumiu para sempre. Dizem que anda procurando uma nova identidade.