Ainda a render tributo ao ator Marlon Brando por sua ação ativista a favor dos povos indígenas, sua participação no documentário “Raoni” deve ser trazida à tona em um momento em que o governo brasileiro distancia-se da causa indígena. À cata da matéria jornalística sobre a posição do ator em relação aos índios no Brasil, um vestígio dado pelo historiador Tulio César de Arruda F. Diogo depois de ler “Oscar, Marlon Brando e índios”, publicado nesta coluna, foi encontrado no mundo virtual.
A matéria “Marlon Brando narra a tragédia indígena no documentário Raoni”, publicada na Folha de S.Paulo em 19.04.1990, trata do longa-metragem, de 1978, agraciado no Festival de Gramado e no Festival Internacional de Cinema de São Francisco, depois indicado ao Oscar na categoria de Melhor Documentário. A produção belgo-franco-brasileira é de Jean-Pierre Dutilleux, fotografia de Luiz Carlos Saldanha, trilha sonora de Egberto Gismonti e narração de Marlon Brando.
O documentário “Raoni” abre-se com Brando a elucidar o movimento indígena norte-americano e, a seguir, faz uma analogia com a situação dos indígenas no Brasil, especialmente os povos do Parque Nacional do Xingu. O ponto crucial do documentário denuncia a construção de estradas no interior do parque e a devastação da cobertura vegetal promovida pelas fazendas localizadas em seu perímetro. A voz do ator enlaça-se com a do líder indígena Raoni para dar a conhecer a um maior número de pessoas o desrespeito com povos e culturas milenares.
Passadas mais de quatro décadas de “Raoni”, o documentário faz-se atual. O Parque Indígena do Xingu sofre um processo de ocupação predatório na sua área de entorno, que abrange os principais formadores do rio Xingu, inclusas suas cabeceiras. Também são situações de grande ameaça aos povos indígenas a BR 163 e a BR 158, que agem como eixos de ocupação que afetam os recursos naturais e a sociodiversidade do Parque Indígena do Xingu.
A voz de Raoni Metuktire, aos 87 anos, continua a alertar sobre os perigos da devastação…