Opinião

Marley & Eu”: O Amor que Preenche os Silêncios da Vida 

O filme Marley & Eu (Marley & Me, 2008), dirigido por David Frankel, é muito mais do que uma comédia dramática sobre um cachorro bagunceiro. É um retrato sincero e emocionante sobre a vida em suas múltiplas fases e desafios — e sobre o amor incondicional que os animais de estimação oferecem, tornando-se presença essencial e transformadora na jornada de seus tutores. 

Baseado em fatos reais, o filme tem roteiro assinado por Scott Frank e Don Roos, adaptado do livro de memórias homônimo escrito pelo jornalista John Grogan, que conta sua própria experiência de vida com Marley. Lançado nos Estados Unidos e Canadá em 25 de dezembro de 2008, o longa estabeleceu um recorde histórico nas bilheterias para o dia de Natal, arrecadando 14,75 milhões de dólares em seu primeiro dia — prova de que sua mensagem tocou o coração de milhares de espectadores logo de início. 

O filme nos ensina, com delicadeza e sensibilidade, que o amor dos pets é incondicional, silencioso e presente mesmo nos momentos em que ninguém mais está. Eles não julgam, não cobram, não abandonam. Estão ali — simplesmente — oferecendo companhia, acolhendo dores, vibrando com alegrias, preenchendo o vazio dos dias comuns. 

Marley é caótico, sim, mas também é o elo mais sincero da família Grogan. Com ele, aprendemos que a perfeição não está no comportamento ideal, mas na entrega afetiva genuína, na lealdade silenciosa, na constância do amor sem exigências. Ele cresce com o casal, presencia os nascimentos dos filhos, as alegrias, os conflitos, e está ao lado deles até seu último suspiro — ensinando que amor verdadeiro é aquele que permanece

Ao retratar a relação entre Marley e sua família, o filme toca em algo profundo e universal: a força terapêutica do vínculo entre humanos e animais. Essa conexão vai além da companhia — ela traz equilíbrio emocional, diminui a solidão, fortalece laços afetivos e, muitas vezes, oferece o tipo de apoio que nenhuma palavra humana alcança. 

No cotidiano, os pets são âncoras emocionais. São eles que percebem o humor dos tutores, que se deitam ao lado nos dias tristes, que celebram o retorno ao lar como uma festa diária. Em um mundo de relações muitas vezes superficiais e aceleradas, os animais nos devolvem à essência: amar e ser amado sem medidas ou condições

Do ponto de vista técnico, Marley & Eu se destaca por seu equilíbrio entre humor leve e emoção sincera. A direção de David Frankel é cuidadosa ao não romantizar excessivamente os conflitos conjugais ou o comportamento do cão — o que confere autenticidade ao filme. A montagem é fluida, acompanhando o passar dos anos com naturalidade e sensibilidade. 

A trilha sonora, assinada por Theodore Shapiro, ajuda a pontuar os momentos de ternura, caos e, sobretudo, os trechos mais emocionantes do longa — especialmente nos instantes finais. A fotografia é acolhedora e reforça o tom doméstico e intimista da narrativa. 

As atuações de Owen Wilson e Jennifer Aniston são discretas e reais. Eles não exageram nos dramas, mas permitem que os pequenos gestos e silêncios comuniquem a evolução do casal — do entusiasmo jovem às frustrações adultas, da insegurança à maturidade. E Marley, claro, com todos os seus intérpretes caninos (foram usados 22 cães labradores durante as filmagens!), rouba a cena sem esforço. 

Marley & Eu emociona porque fala sobre o que é mais essencial: a vida compartilhada, os laços que criamos, e como mesmo os pequenos — e peludos — seres podem ser protagonistas das maiores histórias de amor. A perda de Marley ao final do filme não é apenas a despedida de um animal de estimação, mas o fechamento de um ciclo de vida. E essa dor é real, reconhecível, humana. 

Mais do que lágrimas, o filme deixa uma mensagem clara: os animais que amamos não ocupam espaço — eles se tornam parte do que somos. Permanecem em nós como memórias vivas, afetos moldados em silêncio, e amor puro em forma de patas, que preenche os espaços da vida com a mais genuína lealdade. 

Vale muito a pena assistir. 

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

Foto capa: Reprodução/Divulgação

Olinda Altomare

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Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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