Há mais de seis décadas no trono onde a mídia os colocou, fizeram recentemente 80 anos de idade o Pelé e o Roberto Carlos e continuam a fazer sucesso. Agora entre os políticos, que copiam gestos célebres desta dupla.
Durante a vida desses “reis” – como a imprensa unanimemente resolveu chamá-los – quase nunca houve espaço para notícias desabonadoras. Só um ou outro intelectual de boteco reclamou da falta de posicionamento político do Roberto Carlos ou da ausência de defesa dos negros pelo Pelé.
Este último, anda afastado da mídia por problemas de saúde e raramente dá entrevistas, mas creio que ninguém se esquece do modo como ele refere a si mesmo na terceira pessoa, abrindo espaço para o Edson Arantes tratar o Pelé como divindade. Claro que é uma jogadinha marota para se autoproclamar, sem constrangimentos, o maior do mundo de todos os tempos. Colou, o povo aprovou o distanciamento Pelé/Edson e não viu a imodéstia ali escondida.
Um pouco mais novo, apesar de passado dos 70, “mais faceiro que potro novo na ponta da tropa” nos últimos dias; temos visto o Luiz Inácio, incorporando a tática do Pelé de referir-se na terceira pessoa. Ele já se comparou ao Rei do Futebol, dizendo que casos assim (ele e o jogador) só acontecem a cada 100 anos. Um, de 3 Corações, para empolgar o mundo com a bola nos pés; o outro, de Garanhuns, para governar-nos, como “nunca antes na história deste País” alguém o fez.
Como ele não tem o espontâneo sorriso do Pelé, os marqueteiros vão treiná-lo como fizeram em 2002, quando lançou a carta ao povo brasileiro.
Mas, se o Luiz Inácio louva o Lula, copiando o Edson Arantes, que endeusa o Pelé, outro candidato, também a mando dos marqueteiros, percebeu que poderia imitar não o Pelé, mas Roberto Carlos, para ganhar votos.
Assim, o conhecido candidato Ciro Gomes, como primeira peça publicitária para a campanha de 2022, aparece tentando mostrar um meigo sorriso, ofertando com um gesto carinhoso, uma rosa vermelha para os possíveis eleitores, como faz Roberto Carlos em suas apresentações.
Todos sabemos que o Ciro não tem a suavidade do “Rei”. Ele é explosivo, indelicado, grosseiro, tosco e agressivo, mas o marqueteiro acha que uma rosa e um sorriso treinado, podem convencer as pessoas de sua mudança.
É certo que os encarregados de promover o cearense perceberam que os 10% a 12% das intenções de votos que as pesquisas mostram, não sairão deste patamar enquanto ele se mostrar exatamente como é, por isso lhe puseram uma flor na não e uma máscara angelical no rosto. Não sei se conseguirão estancar sua verborragia.
Esta campanha eleitoral – tudo indica – será uma das mais extravagantes e vulgares que já tivemos. Por enquanto temos o Ciro passando-se por anjo, empunhando a rosa e Luiz Inácio informando ao Brasil que Lula – o Enviado – está chegando para mudar o Brasil.
E o Bolsonaro, com sua costumeira finesse, vai dizer que isso aí de Enviado e Flor na mão são coisas de boiola, e que “dessa cadeira aqui, só Deus me tira”.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor