Opinião

Marília Beatriz num mar de gente pequena

Estar onde Marília Beatriz está é sempre querer ser tomada de surpresa. Aquela surpresa inesperada (aqui só um pleonasmo para refletir a intensidade de minha sensação, passando de uma demasia a uma figura de linguagem). A última delas aconteceu no dia 24 de janeiro na Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça – Palácio da Instrução – no evento “Papo com o escritor”, uma das programações da “Colônia de Férias na Biblioteca”.

Quando Marília foi anunciada, a criançada, já sentada no chão, formou um mar, daquele d’O Rappa, que dá vontade de se atirar. Aquele “Mar de gente/ onde eu mergulho/ sem receio. Mar de gente/ Onde eu me sinto/ por inteiro.” Um microfone foi oferecido à escritora, que logo recusou com a voz de suas mãos. Claro! Marília é imortal de voz gravíssima! Um microfone para ampliar a voz de Marília causaria sérios danos ao centenário imóvel, Patrimônio Histórico e Artístico Estadual, pois certamente quebraria as vidraças das belas janelas.

Ufa! Com o microfone recolhido, Marília tranquilizou-se. De volta à cena, perguntou aos pequeninos: – “Como vocês podem me ensinar a ser criança mais uma vez?” Ondas de palavras se chocaram umas às outras, a responder à pergunta, mas que chegaram incompreensíveis aos meus ouvidos.

Depois de dizer à criançada e ao público adulto, este comportadamente sentado em cadeiras atrás da criançada, que estava tão nervosa por estar ali, diante deles, tal qual se sentiam em dia de prova, contou de que precisa para escrever. Em meio aos burburinhos infantis, a voz de Marília percorreu os espaços estreitos entre as crianças, costurando suas atenções. Ela disse, como se fosse, ali, começar a escrever um livro: – “Para a gente começar a escrever um livro, o tempo de brincadeira tem que parar. Tem que ficar quietinho.” E a quietude, a fechar aquelas boquinhas, tomou conta da sala. Continuou, como estivesse sozinha:  – “Eu sou poeta. Escrevo poesia para mostrar um mundo diferente do que vocês veem. O poeta imagina e escreve mais do que ele vê.” E com a frase “O escritor inventa; o autor não inventa” finalizou sua explicação de como acontece seu processo de escrita, burilando palavras mais compreensíveis para seu público infantil.

Naquela tarde de quarta-feira, “Uma arquigrafia do prazer” pairou no Palácio da Instrução. Marília, ensinou a todo mundo daquela sala que “na vida a gente aprende todo dia e qualquer hora.”

Redação

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